Foto: Alana Andrade

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Quem é fã do Guns N’ Roses já conhece o lado bom e os riscos dos shows da banda. Atrasos gigantescos e o mau humor do vocalista são alguns desses riscos, que já até fazem parte da mitologia da banda. Para a sorte dos cearenses, não foi nada disso que se viu na apresentação dos roqueiros que passou nesta quinta-feira (17) pelo Centro de Eventos. Com apenas 10 minutos de atraso, Axl Rose e seus companheiros emendaram três horas de música, entre clássicos “arrasa quarteirão”, lados B e muitos solos olímpicos de guitarra.

Como se não bastasse uma das grandes estrelas do rock mundial passar por Fortaleza, a apresentação do Guns por aqui teve um sabor a mais por conta da presença de três membros da formação original da banda. Além do vocalista, estavam o tecladista Dizzy Reed e o baixista Duff McKagan, este fazendo uma participação especial. Para os 20 mil fãs que foram ao Centro de Eventos, estava suficiente. “Sou fã desde a adolescência. A gente sabe que não é mais a mesma banda, mas a expectativa é a melhor possível”, comentou o servidor público Humberto Fontenele, 39. A médica Érika Alencar, 33, segue na mesma linha e vê esse momento como um “resgate de emoções”. “Quem foi adolescente naquela época é fã e por isso (o show em Fortaleza) é um momento histórico”.

photo9Sabendo da importância que seu nome ainda tem no mundo do rock, o Guns N’ Roses procurou responder à altura a expectativa do público. O set list começou a ser pregado no palco às 22h35, o que sugeria que o show, programado para as 23h, não iria atrasar muito. De fato, às 23h10, Axl, Duff, Dizzy e os novos Chris Pitman (teclados), Richard Fortus (guitarra), Frank Ferrer (bateria), Ron “Bumblefoot” Thal (guitarra) e DJ Ashba (guitarra) entraram no palco tocando a Chinese democracy acompanhados por uma série de explosões. Apesar de sem graça, a música foi só um aperitivo para a sequência com Welcome to the jungle e It’s so easy.

O novo Guns N’ Roses corre e sua a camisa para segurar o legado da banda. Embora, aos 52 anos, Axl Rose não tenha mais o porte e a voz dos anos 1980, quando o sucesso bateu à sua porta, ele continua sendo um vocalista poderoso e carismático. Seus novos companheiros mostram que são excelentes músicos, mas, na maior parte do tempo, repetem o que foi criado por Slash e demais membros originais. Pra fugir do rótulo de “cover de luxo”, todos têm espaços para mostrar seus talentos em longos e velozes dedilhados. Nesses momentos, Axl deixa o palco nas mãos dos colegas.

Apesar dos quase 30 anos de banda, o Guns tem uma curta produção de apenas seis discos, o que garante uma quantidade pequena de hits, se comparados a outros grupos. A vantagem é que Fortaleza pode conferir todos esses hits ao vivo. Além dos já citados, entraram You could be mine, Civil warEstranged e Mr. Brownstone, além de baladas inesquecíveis como Patience e November rain, esta com Axl, como sempre, ao piano. Knockin’ on heaven’s door e Live and let die, clássicos de Bob Dylan e Paul McCartney, respectivamente, que também fizeram sucesso com o Guns, não foram esquecidos. Esta última, rendeu mais explosões, assim como faz o ex-beatle. Um dos destaques do repertório foi a acelerada Nice boys, lado B do disco G N’ R Lies.

Foto: Marcos Sampaio

Foto: Marcos Sampaio

Nas três horas de show, a banda segurou a plateia mesclando bem os sucessos, solos e faixas menos conhecidas. Axl, mais sorridente que o esperado, falou pouco com o público, se limitando a agradecer a empolgação. Chegou a usar um chapéu de couro, estilo cangaceiro, em Civil war. O mais empolgado entre músicos, o guitarrista DJ Ashba desceu do palco, correu no meio do público e tocou por alguns segundos sobre a bancada do bar. Foi o momento do público dar as costas e aproveitar pra fazer um selfie. Para encerrar a maratona, como de costume, a banda tocou Paradise city entre explosões e uma emocionante chuva de papel picado. Mais um rápido retorno para agradecer ao público e à cidade, e o Guns N’ Roses foi embora deixando claro que ainda sabem fazer rock e encantar plateias.

Bastidores:

– A difícil tarefa de abrir o show do Guns N’ Roses coube à Zero85. Em um set de apenas 25 minutos, a banda cearense tocou um corajoso repertório autoral e foi recebida com respeito pelo público. “A gente também veio como fã para ver o Guns e aproveitou para mostrar nosso trabalho”, comentou emocionado o vocalista Paulo Sérgio Porto.

– A cor que dominou o figurino do público foi o preto. Entre as muitas bandas estampadas nas blusas, estavam Motorhead, Ac/Dc, Iron Maiden e Jimi Hendrix Experience. Mas a maioria, claro, era Guns N’ Roses.

Foto: Marcos Sampaio

Foto: Marcos Sampaio

– O show aconteceu no Pavilhão Oeste do Centro de Eventos, inaugurado com um show do tenor Plácido Domingo. O som e o ar-condicionado conseguiram dar conta das 20 mil pessoas que ocuparam o espaço.

– Apesar dos costumeiros atrasos, que chegam a passar de duas horas, Axl chegou ao local do show às 22h50 e, 20 minutos depois, subiu ao palco.

– Entre uma música e outra, Axl Rose sai do palco e volta sempre usando ao novo no figurino. Em Fortaleza, foram três óculos escuros, três jaquetas e oito modelos de chapéu, sendo um deles no estilo cangaceiro.

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Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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