Music_Post-_Stacey_Kent-The_Changing_Lights_(2013)Stacey Kent é mais uma das cantoras de jazz que se encantou pela música brasileira. Até aí, nenhuma novidade já que tamanha paixão tornou-se regra entre as divas do gênero – título que ainda não deve ser atribuído a esta jovem cantora de 49 anos. Mas, no seu caso em particular, a admiração pela obra de cânones como Tom Jobim, Marcos Valle, João Gilberto e Vinícius de Moraes extrapolou o plano musical. Hoje, depois de estudar o português – e faz questão de dar entrevistas para jornalistas brasileiros usando o bom português – ela sempre encontra espaço para a turma do banquinho e violão em seus discos.

Mesmo que, de um modo geral, o interesse dos novos pela Bossa Nova não passe da superfície já tantas vezes regravada, é necessário dar um pouco mais de atenção a The changing lights, 17º álbum da americana. Com o mesmo vocal miúdo e certeiro, ela mistura joias batidas, como Insensatez e O barquinho, com novas composições do marido saxofonista e arranjador Jim Tomlinson.

O resultado é um disco saboroso, delicado e sem erros ou afetações. Tudo é simples e belo em The changing lights, lançado pela Warner. E isso fica claro logo em The happy madness, versão de Gene Lees para a pungente Estrada branca. Mesmo repetitivas e sem surpresas, How insensitive, O barquinho (com arranjo e violão do mestre Roberto Menescal) e Samba de uma nota só não se perdem nem suscitam comparações. E é até curioso ela incluir O bêbado e a equilibrista como introdução instrumental para Smile, esta levada somente ao piano. Mas nada representa mais a beleza do repertório do que The face I love, bossa-valsa afrancesada de Marcos e Paulo Sérgio que por aqui ficou conhecida como Seu encanto.

E um ponto deve ser sublinhado em The changing lights: a produção autoral de Tomlinson, que disputa ombro a ombro a qualidade do repertório do disco. É o que comprova que não se trata de mais um disco de obviedades. Du suingue retrô de Waiter, oh waiter à beleza dilacerante de Mais uma vez, o maridão da Sra. Kent mostra que tem marra para ser um dos melhores compositores brasileiros nascidos fora do Brasil. Encerrando com a elegante Chanson Légère, também de Tomlinson, The Changing lights parece mais do mesmo de quem quer tirar uns reais do sempre tão receptivo povo brasileiro. Mas, ouvindo direitinho, fica claro que não é.

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Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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