IMG_9127No início dos anos 1980, um meteoro passou rapidamente pelo Brasil deixando uma marca indelével na música que se produzia no País. O nome desse meteoro é RPM, banda paulistana formada por Paulo Ricardo (baixo e voz), Luiz Schiavon (teclados), Fernando Deluqui (guitarra), Paulo Pagni (bateria). Marco na primeira geração do rock nacional, o quarteto atingiu o auge fama antes mesmo de estar completo. Estouraram nas rádios, viraram símbolos de beleza e logo abraçaram clichês do rock, como drogas e brigas internas. O resultado foi a implosão antes dos três anos de história.

Depois de algumas tentativas de reaproximação, o RPM parece ter resolvido suas pendengas em 2011, quando decidiu voltar a tocar junto. Para selar de vez esse novo momento, eles lançaram o disco Elektra e saíram tocando pelo Brasil. A agenda cheia abre um espaço para Fortaleza neste sábado, na Musique. Com ares de superprodução, o show traz projeções coloridas, palcos com elevadores e muito raio laser.

Promover megashows está na gênese do RPM. Com o estouro de oito das 11 faixas do LP de estreia, o vigoroso Revoluções Por Minuto (1985), a banda deu início a uma turnê cheia de casas lotadas. Com muito gelo seco e poucos detalhes no palco, o espetáculo foi inovador ao usar raio laser como elemento cênico. A direção do show foi entregue ao maior showman brasileiro, Ney Matogrosso, que sugeriu que Paulo Ricardo usasse camiseta no palco. Certo da beleza do vocalista, a sugestão deu a ele o posto de sex symbol nacional, por quem milhares de garotas se descabelavam diariamente.

[youtube]https://www.youtube.com/watch?v=drTurru15cE[/youtube]

O sucesso da turnê inicial do RPM foi tanto que acabou gerando um prematuro disco ao vivo. Com poucas novidades a mostrar, já que tratava-se do segundo lançamento do quarteto, Rádio Pirata Ao Vivo (1986) trouxe os sucessos do antecessor e covers de Caetano Veloso (London, London) e Secos & Molhados (Flores astrais). O resultado: mais de 2,5 milhões de cópias vendidas, número poucas vezes atingido na história fonográfica brasileira. Até o Globo Repórter seguiu os músicos em turnê para montar um programa especial sobre aquela “beatlemania à brasileira”.

Por trás das câmeras e cortinas, o quarteto vivia um cansaço gigantesco, do palco, da rotina e uns dos outros. O resultado dessa crise ficou notório no disco RPM, lançado em 1988, mais conhecido pelo apelido de “Quatro coiotes”. Sem um hit ganchudo como Louras geladas ou A cruz e a espada, o público menosprezou boas canções como Show it to me e Partners (esta com a participação de Siedah Garrett, parceira de Michael Jackson em I just can’t stop loving you), e o disco vendeu apenas 250 mil cópias – o que seria bom para qualquer outra banda.

[youtube]https://www.youtube.com/watch?v=fWltjh5t-eY[/youtube]

Diante da estafa e do fracasso do terceiro disco, o RPM encerrou suas atividades como banda. Eles só voltaram a tocar juntos 14 anos depois, quando registraram um especial para a MTV. Logo depois, uma nova briga em torno da marca RPM afastou os músicos, que precisaram de nove anos para resolver a questão. Depois de lançarem um box com os primeiros discos, músicas raras e um DVD com imagens históricas, eles anunciaram via Twitter que estavam ensaiando músicas novas. Com mais programações e peso, o disco Elektra chegou para acrescentar um novo capítulo à história da banda. Agora, para o segundo semestre de 2014, eles planejam lançar o registro ao vivo da nova turnê e um EP com quatro faixas inéditas. É a revolução que eles não deixam parar.

Serviço:
RPM – Elektra
Onde: Musique Fortaleza (Av. Washington Soares, 6300 – Messejana)
Quando: sábado (9), às 22h
Quanto: R$ 42 (arena), R$ 72 (frontstage) e R$ 92 (camarote). À venda nas lojas Blinclass, Distrivídeo (Av. Antônio Sales) e site Ingressando
Outras informações: 3230.1917

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Acompanhe a entrevista exclusiva com Paulo Ricardo:

DISCOGRAFIA – Como tem sido a turnê Elektra? O que o público tem comentado sobre o novo repertório?
Paulo Ricardo – Chegamos a um repertório apurado, que agrada todo tipo de público, sem deixar de mostrar as novas canções. Mas sabemos que a maioria das pessoas vai a um show pra ouvir e cantar os grandes sucessos do artista. E nós temos o maior orgulho e prazer em tocar todos eles.

DISCOGRAFIA – Até o final do ano, vocês devem lançar o registro da nova turnê. O que pode adiantar desse trabalho.
Paulo Ricardo – Estamos trabalhando com uma galera muito jovem e pretendemos romper todos os paradigmas do que seja um DVD musical. Pretendemos contar um pouco da nossa história pra quem não viveu, e a loucura da turnê Elektra, mas em capítulos que serão apresentados aos poucos pela web.

DISCOGRAFIA – Como anda a produção de novas canções? Já existe previsão para um novo trabalho de inéditas?
Paulo Ricardo – Além de “Primavera Tropical”, que já está nas rádios e na web, lançaremos um EP com 4 músicas inéditas ainda este ano.

DISCOGRAFIA – Apesar dos poucos discos e do longo tempo de inatividade, o RPM nunca foi esquecido pelo público e nunca deixou de tocar no rádio. De que formas esse legado foi bom e ruim na hora de recomeçar a banda em 2011? Em algum momento ficaram preocupados em comprometer o legado da banda?
Paulo Ricardo – Tivemos essa preocupação em 2008, quando lançamos o box “Revolução- RPM 25 anos”, e o livro “Revelações por Minuto”. Por isso decidimos que só voltaríamos a bordo de um CD de inéditas. Mas desde o lançamento de Elektra, voltamos com tudo e as pessoas já perceberam que viemos pra ficar.

[youtube]https://www.youtube.com/watch?v=va8el0wurC4[/youtube]

DISCOGRAFIA – O RPM sempre falou de política em suas músicas. Como vocês analisam o assunto hoje em dia, principalmente em ano eleitoral?
Paulo Ricardo – Por favor, veja (e se possível, publique) a letra de “Primavera Tropical”. É a resposta à sua pergunta.

DISCOGRAFIA – Quando o RPM surgiu, o rock nacional vivia seu auge comercial. Hoje, o mercado é dominado por sons descartáveis e popularescos. Como vocês veem esse cenário atual e o que fazer para manter o RPM no rumo?
Paulo Ricardo – Fazemos o nosso som. As tendências, artísticas e de mercado, são, como a vida, pendulares. Hoje a internet dá mais liberdade a quem faz e a quem consome música. O resto é questão de gosto. A nós, cabe dar o sangue e fazer o melhor a cada álbum e a cada apresentação. O público é o grande juiz.

DISCOGRAFIA – Muito já se comentou sobre o fato de você gostar muito de misturar o rock com ritmos brasileiros, algo que ficou muito claro no Quatro coiotes. Queria saber que artistas têm te chamado a atenção ultimamente, tanto do rock como dos sons brasileiros.
Paulo Ricardo – Sim, Vanguart, Silva, Céu, tem muita gente boa trilhando este caminho. O próprio dueto de Vanessa da Mata com Ben Harper foi genial.

DISCOGRAFIA – Em 1993, você lançou o disco Paulo Ricardo & RPM, composto por parcerias suas com o Deluqui. Apesar de ótimas músicas como “Pérola” e “Outro lado”, esse disco tem ficado de fora dos shows de vocês – com exceção de “Ninfa”, que foi regravada. Apesar de se tratar de um disco polêmico na história da banda, você não pensam aproveitá-lo mais?
Paulo Ricardo – Tenho feito estas canções em esporádicos shows solo, mas quem sabe na próxima turnê do RPM? Eu, particularmente, curto muito aquele trabalho, mas devo admitir que o PA e o Schiavon tem um certo ciúme hehe…

[youtube]https://www.youtube.com/watch?v=JLEChl7j-Yw[/youtube]

DISCOGRAFIA – Muita gente ainda lembra de um show que vocês fizeram há muitos anos aqui no Ceará, no ginásio Paulo Sarasate. O que te marcou nas passagens (não somente como RPM) por Fortaleza e qual a expectativa para esse show?
Paulo Ricardo – Pela distância e pela hegemônica cena do forró, sabemos que o simples fato de estarmos tocando em Fortaleza é sinal de que o público nos quer muito. E é sempre onírico ir ao Nordeste, aquelas paisagens tipicamente MPB, e a onipresença de Fagner, Alceu, Gonzagão. Mas sabemos o quão sedento é o público roqueiro, carente de espetáculos, e vamos trazer uma superprodução, com sangue nos olhos e faca nos dentes!

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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