arlindocruzherancapopularNão é à toa que Arlindo Cruz tornou-se um dos nomes mais importantes da cena sambista brasileira. Bom de composição e interpretação, o ex-Fundo de Quintal sabe, como poucos, transitar entre o popular e o populismo. Ele vai do influente Cacique de Ramos ao falso inteligente Esquenta com o mesmo sorriso, o mesmo batuque e a mesma simpatia. E esse é o segredo para o bom Herança popular,  lançado pela Sony Music.

A melhor forma de ilustrar esse trânsito largo de Arlindo Cruz é a lista de convidados do disco. Herança popular abre com o cavaquinho luxuoso de Hamilton de Holanda e encerra com a verborragia apimentada (mas em tons bastante brandos) de Mr. Catra. Entre o respeito à tradição e um cafuné no funk carioca, os dois se saem bem, cada um no seu quadrado. Assim como eles, Maria Rita, Marcelo D2, Zeca Pagodinho e o surfista Pedro Scooby também passam pelo álbum sem deixar marcas muito profundas.

Depois dos discos com a antiga e outros em parceria com Sombrinha, com quem fez uma prolífica dupla, este sétimo trabalho solo de Arlindo Cruz traz 15 faixas que versam sobre os mesmos temas que já fazem parte da história do samba, como aperreios financeiros, esperanças amorosas e lares desfeitos. Sem falsas inovações, o carioca de 55 anos dá sua opinião sobre os temas, sempre com muito bom humor.

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E se os convidados agregam pouco a Herança popular é por que Arlindo Cruz é bom por si mesmo. Uma amostra disso está em Ilicitação, uma bem humorada crítica social (“No ar-condicionado, um engravatado vai metendo a mão. Na fila, o pobre coitado é quem sofre o efeito da ilicitação”). Ou ainda a excelente Motivo banal, samba da melhor qualidade, com cara de tema de personagem suburbano de “novela das 8”.

A produção de Herança popular ficou com o filhão Arlindo Neto, que se dedicou a extrair o melhor que o pai tem a oferecer. E conseguiu. Sem invencionices metidas a modernas, a única novidade do disco está no fato de todas as canções serem autoria de Arlindo Cruz, ao lado de parceiros. Fora isso, o disco traz tudo que o sambista vem fazendo e muito bem feito.

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Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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