Foto: Glauker Bernardes/ Divulgação

Os universos parecem bem distantes. Cristina Braga é a 1ª harpista do Theatro Municipal do Rio de Janeiro e uma das mais reconhecidas musicistas brasileiras. Dado Villa-Lobos é guitarrista e fez história no trio punk brasiliense Legião Urbana. No entanto, a história de ambos guarda vários pontos de convergência. Ela já misturou o erudito com o popular tocando ao lado de Zizi Possi, Titãs, Lenine e muitos outros. E ele traz o sobrenome pomposo do tio-avô Heitor Villa-Lobos (1887 – 1959), referência da música de concerto brasileira que ele ouvia em casa junto com o pai pianista.

Sublinhando mais as semelhanças que as diferenças, Cristina e Dado se encontram no show A harpista e o roqueiro, que chega a Fortaleza esta semana para quatro noites na Caixa Cultural. Acompanhados de Joca Moraes (bateria de alfaia) e Ricardo Medeiros (violão e contrabaixo), eles misturam repertórios promovendo uma viagem do clássico ao radiofônico. Tem Itabaiana (Heitor Villa-Lobos), Inútil paisagem (Tom Jobim), Peixe (Luís Capucho), Geração Coca-Cola (Renato Russo/Fê Lemos) e Baião malandro (Egberto Gismonti) entre outras.

Cristina e Dado se conheceram há cerca de cinco anos apresentados por uma amiga em comum. Logo depois, ela o convidou para participar do disco Feito um peixe (2010). A química foi tanta, que, no mesmo ano, eles iniciaram o projeto A harpista e o roqueiro. “Ele é um gentleman e um músico maravilhoso”, derrete-se a artista, acrescentando que o repertório foi mudando naturalmente al longo dos anos. “As grandes civilizações nascem nas nascentes dos rios. Nesses locais, surgem coisas em ebulição, com muita riqueza. Nosso encontro é sempre assim e tudo revestido de Brasil”, define Cristina.

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Sempre próximos, eles voltam a dividir o palco com a orquestra de Brandemburgo, para a gravação do próximo disco de Cristina. O concerto acontece no dia 28 de fevereiro de 2015, quando vão fazer juntos A rã (João Donato) e Meditação (Newton Mendonça/ Tom Jobim). “Sempre pensei que música é uma coisa só. Sempre fui apaixonada por muita coisa. Ouvi Talking Heads, samba e Legião Urbana. Quem não é fã da Legião? Tem uma que eu amo que é Índios”, diz a harpista assumindo seu papel de fã.

Dado Villa-Lobos também elogia a parceira, principalmente seu papel proativo para montar projetos. “Eu, como instrumentista, aprendi muito. Recebi muitas informações musicais que estão fora do meu universo. Sempre tem alguma coisa acontecendo e isso é muito instigante”, comenta o guitarrista, por telefone. Agora, além da turnê, a dupla planeja fazer um trabalho juntos. A ideia inicial é uma releitura da obra de Heitor Villa-Lobos, ainda sem data para sair do papel. “O Heitor sempre foi um cara transgressor e colocou o Brasil num mapa contemporâneo, com as características da música brasileira. De alguma forma, a Legião também fez isso”, aponta Dado, criticando discretamente o desconhecimento nacional com a obra do tio-avô. “Quando morei na França, todo mundo sabia quem é Villa-Lobos. Aqui, muitas pessoas me chamam de Villas-Boas”.

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Mesmo com três discos lançados após o fim da Legião Urbana (com a morte de Renato Russo em 1996), Dado Villa-Lobos ainda busca experimentar formatos para sua música. “No meu trabalho solo, entro no palco com uma banda mais barulhenta. Com a Cristina, é mais seco, mais limpo, mais sutil, confortável”, explica o legionário que, além da guitarra, agora assume os postos de cantor, compositor e produtor. “Na verdade, já a partir desse segundo disco (de estúdio), as coisas foram chegando de uma forma mais natural. Cantar era o passo derradeiro. Vamos fazer música e vamos cantá-la”, comenta dispensando qualquer comparação com antigo companheiro de banda. “O Renato emocionava até cantando ‘Parabéns pra você’. Eu to muito mais pra Serge Gainsburg que pra Jerry Adriani”.

Serviço
Quando: quinta-feira (13) e sexta (14), às 20h; sábado (15), às 18h e às 20h; domingo (16), às 19h
Onde: CAIXA Cultural Fortaleza (Av. Pessoa Anta, 287 – Praia de Iracema)
Quanto: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia). À venda no local
Outras informações: 3453.2770

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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