Por Paulo Renato Abreu (paulorenatoabreu@opovo.com.br)

Do samba no pé da passista no Carnaval às páginas das biografias. Dos palcos do teatro à internet. Elis Regina segue presente e urgente na cultura brasileira em 2015, ano em que a cantora gaúcha completaria 70 anos. A “Pimentinha” de Vinícius de Moraes (apelidada também de “Elis-Cóptero”, por Rita Lee, e “Furacão”) viveu apenas 36 anos: tempo suficiente para deixar marca perene na música nacional.

Este 17 de março é celebrado com o lançamento do site que reúne mais de 500 fotos, vídeos inéditos, áudios exclusivos e o download gratuito do livro Viva Elis, de Allen Guimarães. Também hoje, será lançada a biografia Nada será como antes, do jornalista Júlio Maria. A obra reúne depoimentos de mais de 100 pessoas importantes na vida da cantora. Estão lá nomes como Caetano Veloso, Milton Nascimento e Ney Matogrosso. Além de Dona Ercy (mãe de Elis) e Jair Rodrigues, ambos falecidos no ano passado.

“A obra de Elis é uma reportagem do momento em que ela viveu, mas, ao mesmo tempo, tem valores eternos. Vai ficar para sempre”, afirma o produtor musical João Marcello Bôscoli, filho mais velho da “Pimentinha”. Para João, a permanência de Elis em 2015 é explicada pelo talento da artista combinado à força da mulher por trás da obra. “Ela tinha uma inteligência incomum, uma lucidez e uma energia que não se vê toda hora. Ela deixou um impacto muito grande”, diz, ressaltando a importância da cantora que gravou quase 30 álbuns e foi a primeira a vender um milhão de cópias.

Para o jornalista Júlio Maria, autor da nova biografia da artista, Elis merece o título de “maior cantora do Brasil”. “Ela ultrapassava limites e se entregava com uma interpretação violenta”, pontua. Júlio, que durante quatro anos imergiu na vida e obra da artista, afirma que a cantora é uma personagem ainda cheia de detalhes a serem descobertos. Em Nada será como antes, a novidade está centrada na vida da mulher geniosa. “O diferencial está realmente nas histórias inéditas, nunca antes reveladas. Entre elas, a relação com as drogas e casos amorosos”, conta.

Fenômeno perene
Homenageando a cantora com o enredo Simplesmente Elis, a escola de samba Vai-Vai foi a campeã do Carnaval de São Paulo deste ano. “Ela foi uma mulher forte, de engajamento, de opiniões. A Elis nunca ficou em cima do muro”, destaca Thobias da Vai-Vai, vice-presidente da agremiação. O sambista brinca afirmando que as outras escolas “começaram logo a tremer” quando souberam que o tema seria a Elis. “O ponto forte do Carnaval foi a letra do samba-enredo. Quando a gente se posicionou para entrar na avenida, a arquibancada inteira já estava cantando”, conta Thobias.

“Ela segue sendo um fenômeno. Eu meço pelas redes sociais. Todos os dias recebo de 10 a 20 mensagens sobre ela”, afirma a jornalista e escritora Regina Echeverria, autora da biografia Furacão Elis, lançada originalmente em 1985. “São pessoas jovens, que nunca viram a Elis cantar, mas que sabem do talento que ela tinha para interpretar e sabem da voz, da dicção perfeita para que fosse entendido tudo o que ela estava cantando”.

Amiga da artista, Regina também destaca sua personalidade. “Pude ver de perto as crises dela com outros músicos, pude ver a Elis sendo uma pessoa totalmente carinhosa, atenciosa. E também quando ela mudava de opinião de um dia para outro”, lembra. “Na vida, ela precisou reagir muitas vezes para ser respeitada”, conclui.

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Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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