Por Rubens Rodrigues(rubenssrodrigues@gmail.com)

014Com disco “mais rock”, o trio Plastique Noir se prepara para celebrar dez anos em outubro. Nessa trajetória já são três álbuns oficiais contando com o novíssimo 24 Hours Awake (“24 horas acordado”, em tradução livre). Dead Pop (2008) e Affetcs (2011) firmaram o nome da banda no circuito independente brasileiro e na cena gótica até no exterior. Fora as demos e remixes lançados no decorrer. Além disso, foram duas baixas na formação e a chegada do novo baixista.

Em entrevista concedida por e-mail, o vocalista Airton S fala sobre a produção do álbum inédito, a influência do ex-guitarrista Márcio Benevides e os planos para comemorar uma década inteira de história. O aniversário, aliás, anuncia um novo tempo para o grupo que resolveu sair da zona de conforto e arriscar um pouco no produto que chega para seu público, embora a essência permaneça.

DISCOGRAFIA – 24 hours awake é o primeiro álbum com a nova formação. Como foi o processo de produção?
Airton S – Entramos pra gravar mesmo, a partir de fevereiro do ano passado, eu acho. A gente costuma sempre começar a compor o novo disco tão logo sai o anterior, é meio inevitável, novos sons começam a vir naturalmente. Quando a gente sentiu que estava de posse de um monte deles que “funcionavam”, fomos pro 746, o estúdio do Jorge Albuquerque onde produzimos todos os nossos álbuns até aqui. Juntamos 20 faixas, limamos algumas e chegamos às 16 definitivas. Foi o processo de produção mais tranquilo dentre todos pelos quais já passamos até hoje. O apoio que o Jorge deu também, no sentido de disponibilizar o estúdio pelo tempo que quiséssemos a um custo ridículo, só pra manter o operacional dele mesmo, foi fundamental pra que pudéssemos fazer a coisa da maneira mais caprichada possível.

24 capaDISCOGRAFIA – Quanto tempo durou a produção do disco?
Airton S – Pouco menos de um ano. Assim, não foi um processo ininterrupto, porque também tivemos shows nesse período. Basicamente foi toda semana durante uns 9 meses, saltando um ou outro. Como as sessões duravam entre 3 e 4 horas, às vezes mais, às vezes menos, em tempo corrido daria talvez uns 2 meses de produção diretos.

DISCOGRAFIA – Márcio Benevides (ex-guitarrista) deixou a banda em 2012. Qual a influência dele no “24”?
Airton S – O título do disco é uma ideia dele, embora ele o tenha pensado pra nomear a música, não a obra completa. Ele era contra essa coisa de faixa e disco com mesmo título, dizia que as atenções iam se voltar só pra uma composição. Mas é que, ao fim do processo, sentimos que as músicas tinham essa vibe urbana-noturna-decadente e como a faixa era predominantemente minha e do Danyel, resolvi apostar. O Márcio participou também com o riffzinho introdutório. Em Losing Halo, mesma coisa. Em Negatives, quatro notas, se tanto. Todas as anteriores ele batizou, mas não escreveu. E em Secret Admirer, novamente a frase de início, mais o dedilhado sobre o qual a música corre antes de uma passagem que o Danyel e o Deivy puseram lá pelo meio. Nessa altura ele já tinha parado com letras, ficou tudo comigo. Ou seja, o Márcio teve uma influência mínima, no máximo de 10%. Uma pena, porque sempre o achei imensamente criativo e, se tivesse colaborado mais, talvez o disco ficasse até melhor.

DISCOGRAFIA – Qual o conceito por trás do título “24 Hours Awake”?
Airton S – Ele andava loucão na época, aliás eu também. Mas como disse, depois que o material bruto estava pronto, sentimos que havia um fio condutor desde o início sem que nos déssemos conta e remetia a essa coisa de paranoia, solidão, mecanização urbana. Se você olhar ao redor, em Fortaleza e em outras grandes metrópoles, está todo mundo “ligado” 24 horas, tal como nós estávamos naquela época.

[youtube]https://www.youtube.com/watch?v=VbEF6kJSgWU[/youtube]

DISCOGRAFIA – É possível notar algumas mudanças na sonoridade da banda. A que isso se deve?
Airton S – A primeira razão é óbvia, a mudança de formação. O Danyel toca muito, é um músico versátil, multi-instrumentista e toca com um punch da porra. O Deivy sempre teve essa característica pulsante e retorna nas quatro cordas, enquanto o Danyel, quando tocava baixo, ia por uma linha mais complexa, cheia de preenchimentos. A banda está mais rock, mais corrida. Eu achei o disco meio triste, mas já ouvi gente dizer que nossa atmosfera está até mais otimista.

DISCOGRAFIA – O disco traz a primeira gravação com letra em português. Já era algo que vocês consideravam fazer ou foi pensado para o “24”?
Airton S – Sim, sempre nos cobraram isso. A gente até tentava, mas nunca pintou nada que, antes de mais nada, nos agradasse primeiro. Queríamos um estilo lírico que não soasse intectualóide, nem piegas demais, porque o gótico traz inevitavelmente esse carga romântica trágica. Como tudo na vida, o simples é o melhor. Escrevi com honestidade sobre o que me inquieta nessas paisagens urbanas, seja no turbilhão do dia, seja na desolação da noite.

DISCOGRAFIA – Pela primeira vez vocês fizeram uma série de vídeos para a internet com bastidores das gravações. Como surgiu a ideia?
Airton S – Não sei, do nada. Acho que foi natural, estávamos tão à vontade naquele momento pra produzir, tão otimistas, que queríamos que mais gente pudesse participar, mesmo à distância. A gente trocava a câmera de mãos, às vezes terceiros filmavam, Danyel editava e no final dava tudo certo. Curtimos muito fazer aquilo. E quem tem o disco agora, vai poder reassistir e ver como seus detalhes favoritos foram feitos.

DISCOGRAFIA – Em outubro a banda completa dez anos de carreira. Como você avalia essa trajetória?
Airton S – A gente olha pra trás e parece que já foram 30. Vivemos muita coisa boa e ruim nesse período. A melhor coisa, eu nem penso duas vezes: os amigos. Tem gente com quem eu sei que posso contar pra qualquer coisa até a morte. Financeiramente, mais nos demos mal do que lucramos, mas as experiências pelo Brasil afora vão ficar pra sempre. Acho que isso é o que conta mesmo no final. Se dinheiro fosse tudo, eu ia tocar cover de pop rock em boate de playboy.

[youtube]https://www.youtube.com/watch?v=YfFYZ2A8jdI[/youtube]

DISCOGRAFIA – Quais os planos para comemorar os dez anos?
Airton S – Vamos lançar finalmente alguns clipes oficiais, o Affects passou sem nenhum e foi por desorganização nossa, confessamos. Estamos preparando relançamentos dos EPs e álbuns anteriores, mais merchandising que ficou parado de novo ultimamente e também um documentário com show, depoimentos da galera envolvida, já que o Plastique Noir não se resume só a três caras esquisitos no palco, e também vídeos, sons e imagens raras. A comemoração oficial deve ser em outubro, mês em que situamos o marco de aniversário, que foi o primeiro ensaio.

DISCOGRAFIA – O que o público pode esperar do show de lançamento no próximo dia 19 de abril?
Airton S – Vamos tocar o disco inteiro e na ordem. Optamos dessa vez por um show sentado, pacato, para apreciação. A Livraria Cultura sempre nos recebeu muito bem, vai ser legal voltar àquele auditório. A gente se dedicou muito na produção, em cada detalhe, não queríamos que a galera se dispersasse em ambiente de balada. Já fizemos festas loucas nos lançamentos do Dead Pop e do Affects, no caso do Dead Pop eu nem sequer lembro do show, de tão bêbado que eu estava. Como disse, estamos num momento mais tranquilo das nossas vidas, queríamos que a apresentação refletisse isso.

Serviço
Lançamento de 24 hours awake
Quando: domingo (19), às 15h
Onde: Livraria Cultura (Av. Dom Luís, 1010 – Meireles)
Quanto: aberto ao público

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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