leny_andrade_12Demorou, mas o Brasil descobriu Leny Andrade. A avaliação é da própria cantora que, depois de mais de 50 anos de uma carreira reconhecida internacionalmente, hoje mantém uma agenda agitada também em seu país. “Estou fazendo show demais. É muito trabalho. Vai para um lugar e pra outro, e em cada lugar é um grupo diferente. Tem que ensaiar”, comenta a cantora de 73 anos que ainda foi acometida nas últimas semanas por uma gripe arrasadora. “Estive de cama sem poder se mexer por alguns dias, mas tinha muito compromisso. E lá vou eu, por que tem esse negócio de Fortaleza”, acrescenta antes de começar a rir e brincar com os muitos anos de estrada.

O tal “negócio de Fortaleza” a que Leny se refere é o show que acontece neste sábado (23), no BNB Clube. Antes dela, é Isaac Cândido quem sobe ao palco. Afilhado artístico da carioca, o cearense de Orós apresenta canções próprias lançadas em seus dois discos – Isaac Cândido (1999), Algo sobre a distância e o tempo (2005) e Cândidos (2010). Já Leny Andrade faz um passeio sem roteiro definido, onde inclui paradas pelas dezenas de discos que lançou desde a estreia em 1961, com o disco A sensação.

[youtube]https://www.youtube.com/watch?v=z_ZD7KFU2rg[/youtube]

De fato, repertório não é problema nem preocupação para Leny Andrade. Por telefone, ela conta que faz todas as canções que o público pede, como Dindi e Se todos fossem iguais a você. “Não tem história. Só canto o bom. Se cantar o ruim, eu morro”, determina certeira. Além de outros grandes momentos de Tom Jobim, a carioca também deve selecionar algo dos seus dois últimos trabalhos. O primeiro é Canciones del Rey, lançado em 2013, que reúne 13 sucessos do repertório de Roberto Carlos vertidos para o espanhol. O segundo é Iluminados, de 2014, um songbook da dupla Ivan Lins e Vitor Martins. No álbum, estão momentos inesquecíveis como Velas içadas, Antes que seja tarde e Daquilo que eu sei.

Para facilitar o roteiro do show, Leny conta com o pianista Tito Freitas, com quem já tem uma história musical de muitos anos. “É tudo no comando do Tito. Ele sabe as coisas que eu gosto”, avisa a cantora que também será acompanhada por Glauber Azevedo (baixo), Ricardo Pontes (bateria) e Lu de Sousa (guitarra). Ao lado desses músicos, ela pode também relembrar alguns momentos do show Gemini V, dividido com o Pery Ribeiro e Bossa 3, que completa 50 anos em 2015. Explorando improvisos e scats jazzísticos que lhe garantiram o apelido de Sarah Vaughan do Brasil”, Leny Andrade voltou a se reunir com a turma em outros dois discos. “Ali foi um pedaço grande da minha vida. Depois, nos juntamos pra fazer uma outra coisa na Europa”, lembra ela sobre o amigo Pery, falecido em 2012.

[youtube]https://www.youtube.com/watch?v=0gycAq3Z46w[/youtube]

O que deve ser apresentado no show de Fortaleza é a paixão de Leny Andrade por boleros, algo que remete ao tempo em que ela morou no México. “Depois de época, toda vez que faço show boto um bolero. Tanto, que acabei por fazer um show grande de bolero”, lembra a artista se referindo ao disco Alma mia (2010). Entre boleros, robertos, bossas e ivans, Leny não preocupação em selecionar com tanta antecedência as canções que mostra em Fortaleza. Já às voltas com um novo disco – Alegria de viver, feito para o mercado internacional a convite do guitarrista norte-americano Roni Ben-Hur –, ela tem outros para sua estada no Ceará. “Meu reino por uma rede em Fortaleza”, aspira com seu eterno bom humor.

Serviço:
Leny Andrade e Isaac Cândido
Quando: amanhã (23), às 21h
Onde: BNB Clube (Avenida Santos Dumont, 3646 – Aldeota)
Quanto: R$ 50 (sócio – inteira), R$ 25 (sócio – meia), R$ 60 (não sócio – inteira) e R$ 30 (não sócio – meia)
Outras info.: 4006 7200

> Discografia básica de Leny Andrade:

gemini-vGemini V (1965) – Dividido com Pery Ribeiro e o Bossa 3, de Luis Carlos Vinhas, o álbum explora a veia jazzística de Leny. O repertório é calcado numa Bossa Nova já consagrada, como Garota de Ipanema e Rio.

 

alvoroco– Alvoroço (1973) – Longe da bossa que marcou Leny, o sexto álbum da carioca visita sons que remetem ao sambajazz, ao pop e à black music. Entre os destaques, está a feliz Pingos de sol e a trágica Moto 1, de Fagner e Belchior.

 

nós– Nós (1994) – Trabalho de teclados e voz, o disco intercala a voz encorpada de Leny ao dedilhado clássico de César Camargo Mariano. Entre bossa, samba canção e sambas, o destaque fica para , de Djavan.

 

luz-negra– Luz negra (1995) – Depois de abordar os sambas inspirados de Cartola, Leny Andrade aceitou o desafio de fazer um songbook dedicado a Nelson Cavaquinho. Duvidando do resultado, ela dá um banho de elegância em Pranto de poeta e Folhas secas.

 

lua do arpoador– Lua do arpoador (2006) – 12 anos depois de Coisa fina, Leny volta a se encontrar com o Romero Lubambo para um trabalho de voz e violão. Mestres do improviso, eles brincam em Influência do jazz (Carlos Lyra), Triste (Tom Jobim) e chegam ao topo em Violão vadio (Baden Powell).

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

View All Articles