vanmorrisonlp3Uma das fórmulas mais consagradas da indústria musical, os discos de duetos sempre ajudaram a refrescar carreiras que andam em baixa. Sem perder o ar de oportunistas, eles também sofrem críticas severas e já nascem com um carimbo prévio de “caça-níquel”. De olho nesses dois pratos da balança, trabalhos que reúnem amigos (ou nem tanto) tanto podem passar em brancas nuvens (80, de B.B. King) como ganhar relevância e status de “fundamental” (os Duets de Sinatra). Pilantragem ou não, eles estão sempre sendo lançados e partilham da mesma fórmula que diz que “a união faz a força”.

É em busca dessa força que Van Morrison lança o seu trabalho de duetos. Re-working the catalogue comemora os 50 anos de carreira e adianta os 70 anos de vida (no próximo 31 de agosto) do compositor irlandês. Pra quem não conhece este jovem senhor de voz desgrenhada, George Ivan Morrison é natural de Belfasta e muito cedo já começou a se interessar por música. Com pouco menos de 20 anos, ele formou o Them, banda de história efêmera. Seguindo em carreira solo, o cantor e compositor pariu duas pérolas frequentemente apontadas nas listas de melhores álbuns da história: Astral weeks (1968) e Moondance (1970). Quem já ouviu sabe que, realmente, são duas joias de valor inestimável e beleza hipnotizante.

Frutos de uma intrincada e inspirada combinação de blues, jazz, gospel e soul, esses dois álbuns ganham o ouvinte de cara e levam os mais sensíveis às lágrimas. O recente Re-Working não tem a mesmo clima, mas merece ser ouvido com atenção. Entre os convidados, estão nomes de peso histórico, como Bobby Womack, George Benson e Taj Mahal, além de novidades interessantes (e não mais que isso) como Joss Stone e Michael Bublé. Fazendo o meio de campo, figuram ainda as vozes certeiras de Mick Hucknall, Natalie Cole e nomes desconhecidos, espalhados entre as 16 faixas.

Como já era de se esperar, o 41º álbum de Morrison bambeia entre momentos bacanas e e outros mais pálidos. De um modo geral, os momentos pálidos se sobressaem tornando  disco meio linear. Ainda, assim, é fato que não é um disco desagradável ou comprometedor. Wild honey, com Stone, é melosa, enjoativa e bonitinha. Já Fire in the belly, com Steve Winwood, pode resumir as intenções folk/gospel do disco. Tem ainda a balada cinquentista Get on with the show, dividida com George Fame (muito prazer!) que é simpática.

Veja as faixas de Re-working the catalogue:
1.  Some peace of mind (com Bobby Womack)
2. If I ever needed someone (com Mavis Staples)
3. Higher than the world (com George Benson)
4. Wild honey (com Joss Stone)
5. Whatever happened to P.J. Proby (com P.J. Proby)
6. Carrying a torch (com Clare Teal)
7. The eternal Kansas City (com Gregory Porter)
8. Streets of Arklow (com Mick Hucknall)
9. These are the days (com Natalie Cole)
10. Get on with the show (com Georgie Fame)
11. Rough god goes riding (com Shana Morrison)
12. Fire in the belly (com Steve Winwood)
13. Born to sing (com Chris Farlowe)
14. Irish heartbeat (com Mark Knopfler)
15. Real real gone (com Michael Bublé)
16. How can a poor boy? (com Taj Mahal)

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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