imageO ano passado foi especialmente trabalhoso para Fernanda Takai. Ao mesmo tempo que o Pato Fu voltou com o álbum Não pare pra pensar, a vocalista lançou seu novo trabalho solo, o elogiado Na medida do impossível. A agenda ficou tão corrida que Nina, filha de 11 anos de Fernanda e John, guitarrista do Pato Fu, começou a reclamar a ausência dos pais. Como o pai não faz parte da turnê solo da cantora, é ele quem vai ficar em casa este fim de semana, quando a mãe vem a Fortaleza para cantar na Caixa Cultural.

Curiosamente, foi Nina quem provocou parte das canções presentes em Na medida do impossível. Sempre que ouvia a mãe cantando, perguntava de quem era a música. Depois de ouvir nomes dos mais variados estilos, protestou que gostaria de ouvir uma música escrita pela própria Fernanda. Assim, começaram a brotar composições como Doce companhia, versão em português para uma canção da californiana criada no México Julieta Venegas. Escolhida para abrir o quarto disco solo da amapaense que cresceu em Belo Horizonte, a balada açucarada dá o tom de um trabalho marcado por histórias pessoais.

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É o caso de Amar como Jesus amou, hit do Padre Zezinho que Fernanda apresentava para a turma de amigos do colégio e que, no disco, contou com a participação do Padre Fábio de Melo. “É uma música pop, mas encaro como uma grande canção do primeiro padre pop. E o Padre Fábio é o padre da voz mais bonita e um homem muito inteligente”, comemora a cantora sobre a participação mais polêmica do seu disco. “Houve amigos que disseram que não ouviriam logo e depois gostaram”, acrescenta, por telefone, ela que contou com convidados mais palatáveis, como Samuel Rosa e Zélia Duncan.

No entanto, assim como no som do Pato Fu, a estranheza é algo muito bem aproveitado nos quase 50 minutos de Na medida do impossível. Para citar alguns exemplos, o sucessor de Fundamental (2012) tem samba do Benito di Paula (Como dizia o mestre), clássico da jovem guarda (A pobreza), parceria com Marina Lima e Climério Ferreira (Quase desatento), e versão para Heal the pain, do George Michael (Pra curar essa dor). “Quando pensei sobre o disco, fiz um esquema do que seria ideal. Que tivesse canções minhas, mas, para que não tivesse conflito com o Pato Fu, queria acrescentar outras músicas”, explica a artista lembrando que não pensou numa “reserva de mercado” para as novas composições. “O melhor no solo e as outras no Pato Fu? Não seria justo”.

O jeito, então, foi vasculhar memórias e costurar influências tão distantes quanto Reginaldo Rossi e Yann Pierre Tiersen, autor da trilha do filme O fabuloso destino de Amélie Poulain. “O fato de eu ter escolhido para complementar esse repertório um Benito de Paula, que fez muito sucesso, mas anda meio distante dos grandes meios, faz parte do trabalho que comecei com o disco da Nara, de fazer uma geração conhecer (um artista) e outra que tem saudade dele voltar a ouvir esse repertório”, explica Fernanda Takai se referindo à elogiada estreia solo Onde brilhem os olhos seus, onde abordou canções do repertório de Nara Leão.

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Já contando quase 10 anos de carreira solo, Takai está mais à vontade para tomar decisões sobre a carreira solo. No show Na medida do impossível, decidiu apenas cantar e deixar o instrumental com a banda – que conta com o companheiro de Pato Fu Lulu Camargo. Pela primeira vez, ela realiza uma turnê que não conta com John Ulhoa, apesar dele  atuar em várias frentes do disco. A cantora também faz questão de dizer e repetir que o show que vem a Fortaleza é completo, com todos os cenários e figurinos. “E lembrar que o Pato Fu vai já chegar aí também. Depois desse show, a gente dá um tempo e logo chega aí novamente. Ta sendo bem corrido e tem semanas que tenho que trocar o HD. Mas, é bacana e são shows completamente diferentes. É outra energia”, comemora.

Serviço
Fernanda Takai – Na medida do impossível
Quando: quinta-feira (18) a sábado (20), às 20h; domingo (21), às 19h
Onde: CAIXA Cultural Fortaleza (Av. Pessoa Anta, 287 – Praia de Iracema)
Quanto: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia). À venda no local
Telefone: 3453.2770

Discografia comentada:

Onde-Brilhem-Os-Olhos-Seus> Onde brilhem os olhos seus (2007)

Elogiado tributo a Nara Leão idealizado por Nelson Motta. Com releituras pop para Chico Buarque e Zé Ketti, e participação especial de Roberto Menescal em Insensatez, o álbum tornou Fernanda uma das vozes mais requisitadas do Brasil.

LUZ NEGRA> Luz negra (2010)

Desdobramento ao vivo do projeto anterior. O repertório se expande e traz Michael Jackson (Ben), Eurythmics (There must be an angel), Pinduca (Sinhá Pureza) e outros. Lançado em DVD, o espetáculo marca pela sonoridade indie/pop/MPb e pelas imagens delicadas.

Fundamental> Fundamental (2012)

Feito em parceria com o guitarrista Andy Summers, ex-The Police, o disco foi pouco ouvido e pouco divulgado. Todas as faixas são do músico inglês, um apaixonado pela música brasileira.

na medida do> Na medida do impossível (2014)

Mais à vontade com artista solo e segura como intérprete, Fernanda Takai coloca ordem num repertório caótico e plural. O encontro com Zélia Duncan em Mon amour, meu bem, femme, um dos sucessos de Reginaldo Rossi, é um dos melhores momentos.

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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