ARNALDO ANTUNES 1 crédito Marcia Xavier (2)Muita gente aguarda ansiosamente a chegada de férias para fazer tudo aquilo que as ocupações não permitem. Deixando trabalho e estudos de lado, o intervalo de folga é para acordar tarde, passear e desacelerar. Para Arnaldo Antunes as coisas não funcionam bem assim. Depois de seis anos de muito trabalho quase ininterrupto, ele tirou férias mais longas para viajar, descansar e… trabalhar. Tanto que, mal voltou ao batente, e ele já lançou um novo livro de poemas (Agora Aqui Ninguém Precisa De Si), inaugurou uma exposição (Palavra em Movimento) e, agora, lança seu 16° disco, Já É.

“Eu acho que tenho o privilegio de ter um trabalho que é meu lazer. Gosto de tirar férias para tocar violão, compor. Quando estou em agenda de shows, compromissos, é que me sinto trabalhando”, compara Arnaldo em conversa por telefone. Ele conta que tinha o hábito de tirar um mês de férias por ano, mas, depois de emendar uma série de lançamentos – Iê iê iê (2009), Ao Vivo Lá em Casa (2010), Acústico (2012), Pequeno Cidadão (2009), A Curva da Cintura (2011) e Disco (2013) – era hora de parar por mais tempo e parou por seis meses.

JA_E_DIGI_r1.inddAo longo desse período, o paulistano que completou 55 anos em setembro viajou para lugares como Rio de Janeiro, Nova York, Rishikeshi, Milão e Roma. Em cada um desses lugares, provava sabores, ouvia sons e vivia diferentes experiências, que foram se transformando no novo disco. São 15 faixas inéditas em Já É, quase tudo composto durante os meses sabáticos. Em Paraty, Arnaldo encontrou Marisa Monte e Dadi, e aproveitaram para compor Dança e Peraí, Repara. Da Índia, ele e a esposa Márcia Xavier trouxeram Só Solidão e o mantra Aqui Onde Está.

Outras faixas de Já É foram feitas antes das férias, mas permaneciam guardadas esperando a vez de ganhar registro. É o caso de Naturalmente, Naturalmente, outra com Marisa e Dadi, que ele não lembra quando foi feita, e põe Fé que Já É, do ano passado. Seu plano inicial era fazer um EP com apenas seis músicas, cada uma entregue a um produtor diferente. “Mas, vi que tinha um corpo coeso (de canções), que dava um disco. Fiz a escolha com o Kassin a partir de 25 músicas e mudei os planos. O Kassin, que seria um dos produtores, virou o produtor”, explica o ex-Titãs.

Trabalhar com Alexandre Kassin, que já produziu nomes como Erasmo Carlos e Adriana Calcanhotto, proporcionou outras novidades para a carreira de Arnaldo Antunes. Por exemplo, este é seu primeiro álbum solo gravado no Rio de Janeiro e sem a guitarra do parceiro Edgard Scandurra. “Ele tinha participado de todos (os discos), mas tava ao vivo na excursão do Ira! e deu essa parada de férias. Desde o Iê iê iê que era a mesma banda. Resolvi mudar, dar outro caminho. Até pensei em fazer uns overdubs com a turma de São Paulo, mas não precisou”, revela ele que trouxe Pedro Sá e Davi Moraes para assumir as guitarras.

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O resultado dessa experiência com novos músicos e por novos lugares é um disco que deixa transparecer nas entrelinhas uma sensação de traquilidade. “Agora eu só quero férias na Sibéria. Não quero Rio de Janeiro. Só quero férias no Alaska pra ficar na cama com você o tempo inteiro”, brinca em O Meteorologista. Melodias mais mansas e letras falando sobre a necessidade de desacelerar mostram que Arnaldo estava precisando parar para se reinventar. Mesmo sabendo que se reinventar já é uma constante na carreira solo que já conta 22 anos. “Não tem nada intencional. É como eu vou fazendo, a cada disco tem uma descoberta. Uma tentativa de não se repetir. Vou sendo meio levado”, explica.

Serviço:
Arnaldo Antunes – Já É
Participações de Marisa Monte e Carlinhos Brown
15 faixas
Sony Music
Preço médio: R$ 24,90

 

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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