Capa Luva_Flat_Box Arnaldo Baptista

Influenciando geração após geração ao longo de 50 anos, os Mutantes são resultado de uma combinação perfeita de três elementos. Rita Lee era o bom humor, a simpatia e o carisma do grupo paulistano. Sérgio Dias era o músico virtuoso, guitar hero competente ainda hoje. Seu irmão, Arnaldo Baptista era o mentor, a liga entre a canção vanguardista e as letras maluco-psicodélico-non sense do trio que fez história como o som do movimento tropicalista.

Embora esses papeis não fossem tão estanques, o tempo ajudou a cristalizar essa imagem nos músicos. Para Arnaldo, o maior exemplo brasileiro de gênio esquecido, a história com os Mutantes foi tão forte que o fim do grupo levou o músico a um turbilhão de mágoas, tristezas, drogas e isolamento. Mas foi desse buraco de sentimentos confusos que ele tirou as canções de Loki?, estreia solo que acaba de ganhar reedição pela gravadora Canal 3. O disco está encartado no box Arnaldo Baptista, que chega às lojas em edição limitada em apenas 1.500 cópias.

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A caixa com a discografia solo de Arnaldo Baptista chega num momento curioso, quando a história dos Mutantes vem sendo resgatada em, CD, LP e livro de fotografias (A Hora e a Vez, de Leila Lisboa). “Estou achando ótimo tudo. Dessa forma as pessoas vão me conhecer mais profundamente. Estou sendo conhecido”, comemora o homem que já foi elogiado por gente como Sean Lennon e Kurt Cobain. Por telefone, de Juiz de Fora, onde mora com a esposa Lúcia Barbosa num clima neo-hippie, ele acrescenta em frases rápidas que ter sua história lembrada de tantas formas ajuda a passar sua mensagem de uma forma mais clara. “Para eu conseguir a comunicação que eu desejo, no sentido que eu desejo, é difícil”.

ENCARTEAlém de Loki?, álbum apontado em diversas pesquisas como um dos mais influentes da música brasileira de qualquer tempo, a caixa Arnaldo Baptista agrupa outros quatro trabalhos do ex-marido de Rita Lee. Estão lá o visceral Singin’ alone (1982), os dois gravados ao lado da Patrulha do Espaço – Elo Perdido (1988) e Faremos uma Noitada Excelente (1988) – além de Let It Bed (2004), produzido por John Ulhoa (Pato Fu). Elo Perdido ainda ganhou faixas bônus que estavam perdidas em gravações piratas.

Desses álbuns, Singin’ Alone tem um valor especial para Arnaldo, por que trata-se integralmente de uma obra solo. “É a primeira experiência em que entrei de tocar todos os instrumentos. Eu fiquei descobrindo o que dava, o que eu tinha e o que queria tocar. Foi uma espécie de desafio”, define, lembrando que esse disco também passa pelo período mais complicado de sua vida. No mesmo ano que este disco, rebocado de tristeza e melancolia, foi lançado, ele foi internado numa clínica psiquiátrica, de onde tentou o suicídio pulando pela janela. Com o acidente, ele perdeu massa encefálica e, para se recuperar, passou a se dedicar às artes plásticas.Dipak arnaldo.indd

Se o ano tem sido bom para a memória dos Mutantes, vale lembrar que a história de Arnaldo voltou a gerar curiosidade desde 2008, com o lançamento do documentário Loki, de Paulo Henrique Fontenelle. Dois anos antes, ele havia se juntado ao irmão Sérgio numa turnê internacional dos Mutantes. Quase dez anos depois, a lembranças não são as melhores. “O Sérgio é muito esquisito em função do que eu quero. Teve um dia, no aeroporto, que ele sugeriu que não tava de acordo com o fato de eu preferir amplificadores a válvula, por que são difíceis”, lembra o músico acrescentando a esse problema familiar uma série de críticas que Sérgio fez a sua esposa Lúcia. Desde então, ele não quer saber mais de retorno com seu antigo grupo. “Agora estou sozinho e contente com a independência”, encerra.

Serviço:
Box Arnaldo Baptista
O quê: box com os discos Loki?, Singin’ alone, Elo Perdido, Faremos uma Noitada Excelente e Let It Bed
Canal 3
Preço médio: R$ 119,90

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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