LU XXX ANOS 2 crédito Fernando Schlaepfer

No último sábado, Fortaleza recebeu a turnê Legião Urbana XXX Anos, que comemora três décadas de lançamento do disco de estreia da banda brasiliense. Lançado em 1985, o disco Legião Urbana ainda é um marco na história do rock nacional com letras fortes, sons pesados e a voz crua e pulsante de Renato Russo, na época com apenas 25 anos.

Falecido em 1996, Renato agora cede o microfone para André Frateschi assumir seus vocais. Essa mudança no frontman do grupo é, foi e sempre será o ponto de maior expectativa de qualquer reunião dos ex-membros da Legião. Antes do ator paulista, outras figuras já assumiram os vocais desta que é uma das formações mais icônicas da história do rock nacional. Tony Plantão já assumiu esse papel com sua experiência, boa voz e foi ok. Depois foi Wagner Moura quem tomou o posto e virou alvo de muitas piadas.

André Frateschi é diferente. Mais conhecido como ator, poucos sabem que ele canta e menos ainda que canta muito bem. Bom, agora muita gente já sabe. Dono de uma performance forte e modulável, ele pode se adequar a qualquer estilo que ouse encarar. No rock, ele não poupa a garganta e usa personalidade para fugir das armadilhas de ser comparado ao excelente cantor Renato Russo.

Ao lado dele, uma banda de jovens músicos compunha o time com guitarra, baixo e teclados. E, claro, Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá defendendo a alma e o legado da Legião. Ambos são limitados como músicos, mas executam esse repertório com maestria. Além disso, são eles que justificam a homenagem. Uma curiosidade: de um modo geral, bandas mudam formações entre fofocas e intrigas bobas por quem deve chamar mais atenção. Discretos e disciplinados, os legionários parecem confortáveis em seus papeis e dividem o palco com elegância, amizade e respeito mútuo. E nessa pegada, tome clássico em duas horas de show (eu acho, confesso que não contei).

Daniel na Cova dos Leões, Faroeste Caboclo, Que País é Esse (no encerramento), A Dança (com arranjo bem modificado), Angra dos Reis, Tédio… Uma porrada atrás da outra. O volume de som ficava reverberando no imenso salão do Centro de Eventos de Fortaleza, onde o show aconteceu. Quem se posicionou mais atrás curtiu melhor o som do quem estava no gargarejo. A casa estava cheia e o público tinha certeza de estar na frente de uma grande banda, mesmo sem sua formação completa.

Dado e Bonfá também revezaram o microfone com André. Além deles, os cearenses Jonnata Doll e Fernando Catatau participaram do show. A carioca Marina Franco também cantou algumas faixas se esforçando pra manter a postura roqueira.

Num balanço geral, o show é ótimo. André é um puta vocalista; Marcelo e Dado dominam o palco e até ousam em alguns arranjos; os convidados costumam fazer um afago nas cidades onde chegam. E o repertório… Bem o repertório é magistral e até poderia trazer alguns lados B, para testar a memória dos fãs mais ardorosos. Na falta do teste, o Centro de Eventos transformou-se num grande karaokê, onde todos cantavam tudo junto. Infelizmente, a casa que abrigou a turnê tem uma acústica muito ruim, comprometendo principalmente o trabalho dos vocalistas.

Ainda assim, a turnê Legião Urbana XXX Anos é bastante emocionante. E essa é a principal moeda de troca entre quem estava no palco e quem estava na plateia, a emoção. Tudo ali é pensado para emocionar, arrancar lágrimas, gritos, sorrisos, risadas. Objetivo alcançado com perfeição.

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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