photo by Da Pa Virada | Dani Gurgel

O virtuosíssimo violonista Guinga e sempre requisitado letrista Paulo César Pinheiro foram parceiros assíduos entre as décadas de 1970 e 1980. Desse encontro nasceram canções marcadas pelo refino de ambos. Uma delas, Bolero de Satã, ganhou um majestoso dueto de Elis Regina e Cauby Peixoto, numa das raríssimas vezes que a Pimentinha convidou alguém para dividir os vocais em algum disco seu. Apesar da honra, uma declaração infeliz fez os parceiros romperem de forma definitiva.

No entanto, essa parceria deixou um baú de canções inéditas guardadas em fitas cassetes. São gravações caseiras que se misturam com sons de carro, pessoas e eletrodomésticos. Ao saber desse baú, Mônica Salmaso ficou curiosa de saber que tipo de tesouros ele guardava. Depois de pedir licença, ela foi lá, mexeu, separou algumas pepitas douradas e registrou no disco Corpo de Baile, de 2014. Aclamado pela crítica, o álbum será apresentado na íntegra no Cineteatro São Luiz, neste domingo.

“Ele é um sonho total, em vários sentidos. Na hora que recebi (as canções), achei que não estava pronta. Esperei 10 anos para ver o disco pronto”, lembra Mônica que primeiro gravou as canções só ao violão, depois mostrou aos compositores para ver se havia algum erro nas letras, tons ou melodias. Passado no crivo dos autores, a intérprete pode se dedicar a criar os arranjos luxuosos encontrados nas 14 faixas. Contando com um time estelar de músicos, Corpo de Baile tornou-se um desafio de ser levado aos palcos. “Depois de pronto, achei que não ia conseguir fazer show por que envolveria muita gente”, comenta ela que divide o palco com Teco Cardoso (sopros), Nailor Proveta (clarinete), Nelson Ayres (piano e acordeon), Paulo Aragão (violão) e Neymar Dias (viola e contrabaixo). A apresentação conta ainda com o Quarteto de Cordas Carlos Gomes, formado por Cláudio Cruz (violino), Adonhiran Reis (violino), Gabriel Marin (viola) e Alceu Reis (violoncelo).

A formação que acompanha Mônica Salmaso em Corpo de Baile entrega o refino classudo de uma cantora sempre associada ao canto “erudito”. “Não é verdade que seja erudito, mas acho que é lírico. Gosto muito de instrumentação acústica, o que talvez explique isso. Estou mais para Elizeth Cardoso que para Maria Callas”, brinca a artista que estudou canto popular e fez faculdade de Música, mas se formou mesmo foi na prática, fazendo shows em bares e teatros.

Entre fados, baladas e boleros, Mônica Salmaso mostra, em Corpo de Baile, seu canto rico em técnica e sutilezas. Trabalhado com esmero, o repertório do show traz delicadezas como Porto de Araújo, Nonsense e Senhorinha. Preparando um novo trabalho, agora sobre o universo caipira da música brasileira, a cantora sabe que seu público ainda é restrito, mas não tem problemas com isso. “Nunca escolhi ser uma cantora elitista, mas sempre escolhi cantar o que quiser. Tenho um baita de um orgulho por que é uma carreira de verdade, não é de música na novela. O público que existe nesse trabalho é de verdade”, comenta a Mônica com simpatia. “Minha carreira foi feita no tijolinho. Tem essa coisa bonita de você olhar para aquele público e sentir que ele é seu, não é da moda. Claro que eu quero que mais gente me conheça, mas vai ser sempre desse tijolinho”, adianta.

Serviço:
Mônica Salmaso – Corpo de Baile
Quando: domingo, 18, a partir de 19 horas
Onde: Cineteatro São Luiz (Rua Major Facundo, 500 – Centro)
Quanto: R$ 20 (meia) e R$ 40 (inteira)
Telefone: 3231 9461

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

View All Articles