cantoria-p-siteA ideia era simples demais para se apostar num sucesso tão duradouro. Quatro amigos, cada um com seu violão, relembrando canções que falam sobre um Brasil muitas vezes esquecido. Ainda assim, em janeiro de 1984, subiram ao palco do Teatro Castro Alves, em Salvador, Bahia, os compositores Xangai, Vital Farias, Elomar e Geraldo Azevedo para uma roda de canções pautadas pela informalidade e pela riqueza poética.

O fato é que o que era simples tornou-se um dos projetos mais preciosos e duradouros da música popular brasileira. A gravação daquela apresentação sugerida por Antônio Carlos Limongi rendeu três discos batizados de Cantoria, uma parceria a oito mãos que resiste ao tempo, modismos e intempéries do mercado fonográfico. “Esses discos nunca saíram de catálogo e, tantas vezes vá para as prateleiras, vende”, comemora Xangai, que volta a encontrar os companheiros de viola amanhã, 12, no Centro de Eventos do Ceará.

Com uma fala ágil e toda costurada por analogias curiosas, o compositor baiano assume que sempre acreditou no projeto Cantoria. “Não posso ser hipócrita. É por que tem uma qualidade mesmo. É uma obra de arte comparável com Van Gogh, Picasso, Portinari”, justifica seguindo a lista com nomes como Cartola, Capiba, Villa Lobos, João do Vale e outros. “Todo mundo adora por que tem o que gostar. Não é um engodo. Ninguém está ali cantando pra fazer sucesso”, continua.

O primeiro volume de Cantoria trouxe sucessos como Sete Cantigas para Voar (Vital Farias), Kukukaya (Cátia de França) e Ai que Saudade de Ocê (Vital Farias). Com a turnê do projeto, outras canções foram surgindo, uma vez que não era intenção dos quatro repetir tal e qual o que foi registrado. “Assim é melhor ficar em casa e ouvir o disco”, brinca Xangai. Assim surgiram Veja Margarida (Vital Farias) Sabor Colorido (Geraldo Azevedo) e Arrumação (Elomar), que foram registradas em 1988 no segundo volume da série. O terceiro volume foi lançado em 1994 reunindo somente os solos de Elomar.

Foi justamente essa ideia de ir mostrando canções novas e antigas que serviu de inspiração para batizar este encontro. “Quando perguntaram como seria o nome do show, eu falei: ‘Não vamos fazer um show, vamos fazer uma cantoria’. E ficou assim”, lembra Xangai, adiantando que o show de amanhã segue a mesma proposta. As canções que marcaram o trabalho do quarteto estarão presentes ao lado de novas composições. No caso dele, a apresentação em Fortaleza traz um pouco da sua parceria com o pernambucano Maciel Melo.

Se existe um segredo para o sucesso de Cantoria ao longo de mais de 30 anos ele pode estar na relação entre os participantes. “É uma reunião de cantadores e a qualidade de assuntos, do repertório é por que temos muita história pra contar”, explica Xangai que, desde 2000, não se reunia com Vital, Geraldo e Elomar. Amigos há muito tempo, eles se encontraram diversas vezes desde que o projeto iniciou. Até tocaram juntos em duplas ou trios, mas não com todos juntos, até esta turnê de reunião. “Caso os outros três queiram, pode ter uma nova edição em disco. Nós fizemos em Goiânia e foi uma apoteose. Eu não sei nem por que. Já estão os quatro ‘veim’”, brinca.

Serviço:
Cantoria – Elomar, Vital Farias, Geraldo Azevedo e Xangai
Quando: amanhã, 12, às 21 horas
Onde: Centro de Eventos do Ceará (Av. Washington Soares, 999 – Edson Queiroz)
Quanto: Cadeiras Livres – R$ 160 (inteira) e R$ 80 (meia); Cadeira Ouro – R$ 220 (inteira) e R$ 110 (meia); Cadeira Premium – R$ 260 (inteira) e R$ 130 (meia)
Telefone: 3264 4924

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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