Houve um tempo, lá pelo fim dos anos 1960, que os Beatles deixaram de existir. Depois de transformar a juventude com seus cabelos compridos, guitarras e som frenético, eles saíram do mapa e foram substituídos por um quarteto de bigodudos, trajando roupas militares coloridas que atendiam pelo gigantesco nome de Banda Clube de Corações Solitários do Sargento Pimenta. Ao lado deles, um exército de notáveis formado por nomes como o do escritor Lewis Carroll, da atriz mirim Shirley Temple e do bruxo misterioso Aleister Crowley.

“A primeira coisa de que lembro é voar de volta para a América com o nosso empresário de turnês Mal Evans. Durante nossa refeição, estávamos falando sobre sal e pimenta, o que foi entendido como ‘sargento Pimenta’ (na pronúncia em inglês)”, lembra Paul McCartney, na reedição do disco Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band, lançado em 1967 e recebido como um susto de proporções incalculáveis. “Eu então tive a ideia para a música Sgt. Peppers… e pensei que seria interessante para nós fingir, durante a execução do disco, que éramos membros desta banda em vez dos Beatles”, continua o baixista.

Voltando um pouco no tempo, o quarteto já vinha se afastando dos tempos de iê iê iê há alguns anos, desde que lançaram Rubber Soul dois anos antes. Revolver, de 1966, continuou e amplificou as possibilidades sonoras, absorveu novas influências e tornou a música dos Beatles mais eclética. Já decididos a não realizar mais shows, eles teriam o estúdio como principal plataforma de criação e experimentação. Num ano engarrafado de clássicos do rock – The Doors, Are You Experienced (Jimi Hendrix), John Wesley Harding (Bob Dylan), Big Brother & the Holding Company, The Who Sell Out, The Velvet Underground and Nico, The Piper At The Gates Of Dawn (Pink Floyd) –, o oitavo álbum dos Beatles foi apontado pelo crítico Kenneth Tynan (The Times) como “um momento decisivo na história da civilização ocidental”.

Da capa dupla icônica ao repertório irretocavelmente confuso (trata-se do primeiro disco a trazer um encarte com letras), tudo em Sgt. Peppers… rendeu reedições, releituras, estudos e opiniões. Entre as muitas publicações, uma se destaca por trazer a visão de quem esteve ao lado de John, Paul, Ringo e George dentro do estúdio dois de Abbey Road. O livro Paz, Amor e Sgt. Pepper foi lançado por George Martin em 1994 e traduzido para o português no ano seguinte. “Você se sente como uma mosca dentro do estúdio. Tem muitas histórias de bastidores, sobre como eles gravaram”, adianta Marcelo Fróes, responsável pela edição nacional.

Aproveitando o gancho dos 50 anos, Paz, Amor e Sgt. Pepper está sendo relançado no Brasil num box exclusivo para o público brasileiro. Embalado num formato de bumbo (como o da capa do álbum), o livro vem junto do disco remasterizado por Giles Martin (filho de George), além de pôster e blusa. “O George tinha dirigido e apresentado um documentário sobre o Sgt Peppers, que não pode ser lançado em VHS. Foi exibido só na TV. Ele, então, acabou fazendo o livro com depoimentos e muitas coisas que não foram ditas no filme”, detalha Marcelo, também autor do livro Os Anos da Beatlemania (co-assinado por Ricardo Pugialli).

Entre as passagens mais marcantes do livro para Marcelo, está a de George contando sobre como percebeu que a banda estava usando drogas. “O John estava muito alterado. Num momento, ele foi para o teto da Abbey Road e estavam com medo dele pular. Ele poderia ter morrido se tivesse totalmente drogado. Foi quando Goerge percebeu que ele estava muito doidão”.

No Brasil
Sgt. Peppers só chegou a Brasil em agosto e, segundo Marcelo Fróes, não teve um impacto imediato. “Teve impacto, mas não foi monstruoso não. As pessoas não se tocaram das mudanças, por que a jovem guarda ainda estava forte” explica. Uma das primeiras pessoas a absorver aquele som e usar a seu favor foi Gilberto Gil. “O Gil ouviu e ficou encantado no Strawberry Fields Forever e teve ideia de chamar um maestro (Rogério Duprat) para fazer o Domingo no Parque, que é a semente da Tropicália”.

Serviço:
Sgt. Peppers 50 anos -Edição de luxo
O quê: box em formato de luxo, com livro, CD, blusa e pôster
Quanto: R$ 189,90

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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