Foi um susto, uma ideia que surpreendeu muita gente. Ainda mais por que tudo foi projetado às escondidas, a despeito da popularidade dos envolvidos. Mas foi assim que, em outubro de 2002, chegou às lojas o primeiro disco dos Tribalistas. Uns dias antes, a rede Globo apresentou o especial da super banda formada por Marisa Monte, Carlinhos Brown e Arnaldo Antunes num domingo à noite, pós Fantástico. Mas a exibição foi outra surpresa, já que não foi anunciada para o público.

A estratégia funcionou, o disco dos Tribalistas virou febre e vendeu algumas milhares de cópias pelo mundo. Quinze anos depois, o trio volta a apostar na surpresa para anunciar um segundo projeto. Na quinta-feira, 9, Arnaldo, Marisa e Brown promoveram um bate-papo com fãs localizados em distancias como Brasil, EUA, Argélia e Paquistão através de suas páginas no Facebook. A conversa ao vivo foi intercalada por quatro canções inéditas e contou com as presenças de Cézar Mendes e Dadi Carvalho, ambos da primeira formação de projeto, e Pedro Baby, novo tribalista assim como Pretinho da Serrinha (que teve outro compromisso no mesmo dia).

“A gente se encontrou no último ano e meio, e criou um corpo de canções que tinha uma unidade, que se equilibravam entre si. E surgiu o desejo de fazer um registro junto”, lembra Marisa Monte. “Parece que o repertório convocou a gente”, completa Arnaldo que, ao lado dos amigos, busca deixar claro que tudo foi sendo feito sem muito planejamento. O CD e DVD do grupo deve chegar às lojas até o fim deste mês.

A primeira faixa apresentada no reencontro foi Diáspora, que fala sobre a questão dos refugiados. Abrindo com a voz grave de Arnaldo Antunes citando o Canto 11 de O Guesa (Joaquim de Sousândrade), a faixa com toques de música árabe tem ainda citação da obra Vozes D’África, de Castro Alves. Fora de memória, de Marisa, Arnaldo, Brown, Pedro e Pretinho, é um diálogo existencialista criado sobre uma base de violões, vozes e reflexões. Aliança é uma balada romântica que fala de chuva de arroz, altar, véu e grinalda, pronta para embalar casais a caminho do casamento. Por fim, Um Só é um novo hino tribalista, assim como foi a faixa Tribalistas, de 15 anos atrás.

Se na primeira encarnação do projeto eles já diziam que não queriam ter “razão, certeza, juízo ou religião”, agora eles precisam ouvir piadas e comentários que buscam conectar detalhes das letras com episódios políticos ou sociais do País. Para uns, a letra de Um Só esquece de valorizar as diferenças. Há quem diga que Diáspora é “propaganda enganosa islâmica”. Teve até quem dissesse que, diante da crise, Arnaldo, Marisa e Brown foram obrigados a voltar a trabalhar.

De fato, poucos desses comentários merecem atenção. Apesar dos 15 anos de diferença, os novos e os velhos Tribalistas se parecem em tudo. “Acho que tem mais semelhanças que diferenças”, admite Marisa sem querer teorizar. Os mesmos músicos, a mesma equipe técnica, o mesmo mistério e o mesmo modo de trabalho – imersão, com uma música sendo gravada por dia. A riqueza melódica e o apelo pop parecem ter se mantido também.

Mas será que vai fazer o mesmo sucesso? É verdade que, há 15 anos, os três viviam um momento de grande popularidade nas carreiras individuais, algo bem diferente do que se vê agora. A primeira experiência de reencontro deles, em 2013, com o single Joga Arroz, passou despercebida pelo público. Mas, antes de prever o fracasso, é bom lembrar que, se esses Arnaldo (um dos compositores mais influentes da atualidade), Marisa (uma das cantoras mais clonadas dos últimos 20 anos) e Brown (um dos músicos mais completos do Brasil) se reunirem numa turnê, algo que não aconteceu há 15 anos, vai ser difícil resistir ao apelo dos três.

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Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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