A história é super curta. Mais ainda que a dos Secos & Molhados, que mal resistiram ao segundo disco. O Moto Perpétuo teve uma trajetória tão fullgás que poucos são os que lembram do quinteto formado por Guilherme Arantes (teclados e vocal), Egydio Conde (guitarra solo e vocais), Diógenes Burani (percussão e vocais), Gerson Tatini (contra-baixo e vocais) e Cláudio Lucci (violões, violoncelo, guitarra e vocal).

O fato é que era início dos anos 1970, época mágica em sons e ideias. E foi isso que a banda paulistana Moto Perpétuo mostrou nas 12 faixas apresentadas no único disco, lançado em 1974. O trabalho foi batizado com o nome da banda e a capa vinha com as caras dos músicos desenhados, como se eles quisessem compor um cartão de visitas.

E conseguiram. Influenciados pelo rock progressivo, com destaque para Yes e Genesis, e pelo Clube da Esquina, eles fizeram um trabalho rico em instrumentações que tangenciam o clássico e a psicodelia. Três e eu, por exemplo, com seus quase sete minutos, tem o violão de ares flamenco de Cláudio Lucci que precede uma conversa de teclados e guitarras, que lembram Pink Floyd (que, na época, lançava Dark Side of The Moon).

A história do Moto Perpétuo começa quando Arantes entra para a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP. Lá, ele conhece Lucci e, juntos, convidam Diógenes Burani (ex-O Bando) para entrar na história. Na cara e na coragem, procuraram Moracy do Val, empresário do gigante Secos & Molhados, para cuidar do trabalho deles.

Já com Gerson Tatini e Egydio Conde (que depois formaria o Som Nosso de Cada Dia) na banda, eles se enfurnaram numa casa em São Paulo para ensaiar exaustivamente o repertório do disco de estreia. “Os meus colegas, sempre brigando comigo por causa da minha precipitação de ter aceito fazer o precioso disco num estúdio de poucos (8) canais e em condições bem diferentes daquelas que eles tinham ouvido falar sobre o Yes, etc.”, conta Guilherme Arantes em seu site oficial.

O resultado dessa aventura incial é um disco que, passou batido na época, mas conservou seus encantos. A faixa de abertura, Mar e Sol, é uma ode àqueles tempos de Era de Aquário em que se destaca os agudos da voz de Guilherme Arantes. Sem hits óbvios, a balada Duas é a que mais se aproxima de uma canção radiofônica.

Gravado o disco, alguns shows, uma participação no Festival de Águas Claras e a banda se desfez um ano depois do lançamento do disco. Guilherme saiu dali e tornou-se um dos maiores compositores da MPB, com uma sucessão de hits gravados por estrelas da música brasileira. Lucci, Tatini e Burani ainda se reuniram em 1981 para gravar São Quixote, o que seria o segundo disco do Moto Perpétuo. Mas o tempo era outro e a obra ficou esquecida.

Veja as faixas de Moto Perpétuo (1974)
1. Mal o sol (Guilherme Arantes)
2. Conto contigo (Guilherme Arantes)
3. Verde vertente (Guilherme Arantes)
4. Matinal (Guilherme Arantes)
5. Três e eu (Cláudio Lucci)
6. Não reclamo da chuva (Guilherme Arantes)
7. Duas (Guilherme Arantes)
8. Sobe (Guilherme Arantes)
9. Seguir viagem (Cláudio Lucci)
10. Os jardins (Guilherme Arantes)
11. Turba (Guilherme Arantes)

>> Matinal (Guilherme Arantes) por Carlus Campos

 

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Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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