Tem artista que não é de se levar muito a sério. O roqueiro paulistano Supla é um deles. Embora rale no mundo da música desde os anos 1980 e até tenha um punhado de sucessos na bagagem, ele nunca passou de um personagem curioso, mais que frontleader. Já seu irmão, apesar de bem menos popular, é uma figura mais instigante na hora de fazer música.

João Suplicy já está gravando discos desde 1999, embora, provavelmente, você não saiba disso. Sim, por que apesar desse tempo ele não conquistou popularidade suficiente que garantisse uma reconhecimento nacional ao seu trabalho. A primeira vez que ouvi uma música sua foi Sonho Particular, na coletânea Brasil Bacana 3. E a música é muito legal.

Agora, depois de 12 anos sem disco de inéditas (o último foi Caseiro, de 2005) ele apresenta João. O projeto independente vem 11 depois dele regravar canções de Elvis Presley em ritmo de Bossa Nova. Os tons graves e alguns maneirismos deixam claro que o paulistano de 43 anos ainda não se livrou por completo da capa do garoto de Memphis.

Elvis é emulado no modo de cantar de João, assim como em alguns tons blues roqueiros presentes nos melhores momentos do rei do Rock. O resto do disco é mérito (ou demérito, dependendo do seu ponto de vista) do filho de Marta e Eduardo Suplicy. E sim, o disco João tem muito o que explorar e conquistar.

O grande mérito de João, o disco, está na capacidade de fugir do óbvio na construção das canções. São vocais que remetem a The Platters, e arranjos que remetem ao rock dos anos 50 com um toque de baião. As letras têm uma certa ingenuidade ao falar de um mundo sem tecnologia ou em amores que não deram certo, mas não chega a comprometer o resultado.

Um abraço e um Olhar, dividida com Zeca baleiro, é um rockabilly engraçadinho com versos quase constrangedores (“Ser escravo da tecnologia é tão normal”). Mas o sax barítono que pontua o ritmo transporta a canção para os tempos da brilhantina e garante a sedução. Já Solteiro e Vagabundo, parceria com Gabriel Moura, é um cruzamento de Elvis com Wesley safadão. Sim, parece que é possível. E teve um ótimo resultado, lembrando bons momentos de Leo Jaime nos anos 1980.

Magia e Sedução é um rock baião que poderia estar num bom disco do Raul Seixas, que não se espante se esta for a inspiração (Let me Sing Let me Sing?). Tudo ou Nada se mal diz do amor enquanto o violino de Fernanda Kostchak (Vanguart) compete com o violão distorcido de João no clima soturno. Melhor letra do disco, Sede que Dá fala das incoerências sociais sobre uma base blues rock pesada e enérgica.

E, se prestar bem, João traz no seu balaio de ritmos algumas boas ideias surpreendem. É o clima jovem guarda de Eras feliz, a energia nordestina de Enquanto Isso (que vocais!), o erotismo manso de Santa e Louca ou o amor infantilóide de Dicionário do Amor, dueto com Marina de La riva. E como se não bastasse, o disco termina com uma marcha de Carnaval. Como assim termina?? Sim, é bem provável que você queira ouvir tudo de novo.

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Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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