Há quase 20 anos, quando veio apresentar seu Acústico MTV no Beach Park, Lulu Santos falou ao público do sonho que tinha de gravar um disco só com canções de Rita Lee. Fã confesso da ex-mutante, o carioca até acrescentou no roteiro do show uma canção da cantora e compositora hoje aposentada dos palcos.

Esse sonho de Lulu está programado de se realizar na próxima semana, quando ele lança nas lojas físicas e virtuais o disco Baby Baby. O tributo à paulistana chegou a ser anunciado com o nome de Agora só falta Você, mas foi rebatizado com um pedacinho de Ovelha Negra (que pouco ou nada remete à homenageada e pouca gente vai ligar “baby baby” ao clássico do Tutti Frutti).

Para apresentar seu 22º disco de estúdio, Lulu Santos disponibilizou um EP com quatro faixas. Mamãe natureza, grito de liberdade de Rita lançado pele efêmera banda Cilibrinas do Éden (que ela montou com Lúcia Turnbull após a saída dos Mutantes) é um rock clássico que ganhou acento blues nas mãos do carioca de 64 anos. O encontro de gaita e violão dá um toque setentista à faixa, enquanto ele corre para encaixar a letra na métrica.

Encostando no arranjo de Como uma Onda, Desculpe o Auê virou um bolero havaiano a cara do Lulu e deve fazer sucesso nos shows que vão vir. Baila Comigo, um clássico de Rita e Roberto, foi remontada com uma inspiração inusitada. “Quando comecei a construí-la em minha cabeça, estava em Montevidéu (Uruguai), e foi onde me deparei com fenômeno Despacito, porque tocava no rádio o tempo todo. De cara, logo gostei do fato de uma música hispânica dominando os espaços mundiais e Baila Comigo é uma música hispânica. Ela tem essa latinidade quase caricatural, assim do jeito que o brasileiro imagina”, comentou Lulu em material enviado à imprensa.

A última faixa do EP é Fuga Nº2, lançada em 1969 no segundo disco dos Mutantes. O clima viajante, dramático e misterioso da versão original foi substituído por uma levada radiofônica que, apesar da beleza, enfraquece as intenções da letra – que parece inspirada em She’s leaving home, dos Beatles.

Quem assina a produção de Baby Baby é o jovem músico SILVA, mas é difícil acreditar um veterano como Lulu Santos se deixaria dirigir por alguém tão mais jovem – quando o capixaba nasceu, o carioca já era um hitmaker estabelecido com seis discos lançados. Ainda assim, o discurso da busca por novas ideias, espírito jovem e frescor no trabalho funciona para quem não acredita na experiência de alguém que já conta 35 anos de carreira. Além disso, o nome de um jovem artista, que vem construindo uma carreira respeitável, vai ajudar a conectar Lulu com a juventude mais antenada dos novos tempos.

Este é o segundo songbook que Lulu Santos lança e uma das raras vezes em que abordou um repertório que não fosse seu. Em 2013, ele se debruçou sobre as canções de Roberto e Erasmo Carlos e o resultado chamou menos atenção do que o esperado. Assim como aquele, este parece se dividir estre a necessidade de soar referencial, de apresentar uma cara própria e de tocar nos rádios, celulares e shows. O cenário não está fácil para quem lida com boa música no Brasil. No entanto, se este Baby Baby não der certo, o velho Luís Maurício sabe que tem uma longa e respeitosa história, com um balaio cheio de hits, pra lhe garantir um futuro digno.

Confira as faixas de Baby Baby, que será lançado semana que vem pela Universal Music:
1. Disco Voador (Babilônia, 1978)
2. Baila Comigo (Rita Lee, 1980)
3. Mamãe Natureza (Atrás do Porto Tem uma Cidade, 1974)
4. Desculpe O Auê (Bombom, 1983)
5. Ovelha Negra (Fruto Proibido, 1975)
6. Fuga Nº II (Mutantes, 1969)
7. Agora Só Falta Você (Fruto Proibido, 1975)
8. Caso Sério (Rita Lee, 1980)
9. Alô! Alô! Marciano (lançada por Elis Regina em 1980, e regravada por Rita no Acústico MTV, 1998)
10. Mania De Você (Rita Lee, 1979)
11. Nem Luxo, Nem Lixo (Rita Lee, 1980)
12. Paradise Brasil (Reza, 2012)

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Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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