A partir de um convite de Augusto Pontes e Ednardo, a cantora Mona Gadelha foi um dos nomes que participaram da gravação do histórico disco duplo coletivo Massafeira Livre (CBS), em 1979. A voz jovem e marcante de uma cantora iniciante cravou a interpretação de Cor de Sonho, de sua autoria, em meio a tantos nomes que já se faziam fortes no cenário da música cearense. Ali, entre Ricardo Bezerra, Ângela Linhares, Belchior, Calé Alencar e outros artistas, Mona abria caminhos de sua carreira, muito voltada para o blues e o rock.

Ao olhar para a frente, ela também observava e reverenciava a geração anterior, que deixou clássicos irretocáveis na estante da música brasileira. Este repertório do cancioneiro cearense inspirou o disco Praia Lírica, seu quinto CD, lançado em 2011. Cinco anos depois, a cantora e jornalista irá revisitar a obra no palco do Cineteatro São Luiz neste domingo, às 18 horas.

Ao lado do amigo e pianista Fernando Moura, Mona irá desfiar sua memória afetiva de músicas, como Astro Vagabundo (Fagner e Fausto Nilo), Flor da Paisagem (Fausto Nilo e Robertinho de Recife), La Condessa (Ricardo Bezerra, Brandão e Ribamar), Noturno (Caio e Graco Silvio), Retrato Marrom (Rodger Rogério e Fausto Nilo), Galos, noites e quintais (Belchior) e Sensual (Belchior). “Sempre tive uma afinidade com o blues Sensual. Apesar de ele (Belchior) dizer que o tango argentino é bem melhor que um blues, ele fazia blues muito bem”, dispara Mona. Além da cantora e do pianista, o guitarrista Mimi Rocha e multi-instrumentista Herlon Robson farão participações ao longo do show.

“Foi neste período (anos 1970) em que surgiram cantores e compositores que dão uma identidade muito forte à música do Ceará. Mas quando fiz o disco e quando faço o show, não é por uma nostalgia. É necessidade de buscar a força poética da nossa canção. Temos cancionistas incríveis”, acredita. Muito além do chamado Pessoal do Ceará, a música cearense da década de 1970, lembra Mona, foi um recorte forte na história da música, em um momento fervilhante que até hoje irradia, inspirando artistas, shows, discos, livros, conversas e encontros musicais.

Entre os álbuns que marcaram este período, está o celebrado Maraponga, de Ricardo Bezerra, de onde Mona pinçou a música La Condessa. Deste trabalho, participaram Hermeto Pascoal (piano), Robertinho do Recife (guitarra), Sivuca (acordeon), Amelinha (vocal), Fagner (vocal), entre outros nomes de peso.

Outro disco importante deste período é Chão Sagrado, de Rodger Rogério e Teti. No álbum, foi lançada a música Retrato Marrom, uma parceria de Rodger e Fausto, posteriormente gravada por Ney Matogrosso e que até hoje reverbera por onde é cantada. O disco, de 1974, remete ao início de carreira do então casal e se tornou um clássico da música cearense. A música Flor da paisagem também marca a década, sendo uma composição que deu nome ao primeiro disco de Amelinha, que comemora 40 anos neste 2017.

Não apenas olhando para os clássicos da música cearense, Mona Gadelha, hoje, também está bem próxima da nova geração de cantores, instrumentistas e compositores que produzem por aqui. Coordenadora do Laboratório de Música da escola Porto Iracema das Artes, ela vive de perto a produção dos jovens artistas que por ali passam. “Eu venho acompanhando com muita curiosidade, mas é um processo difícil para escolher”, avalia. “Temos uma geração de novos compositores com uma força poética muito forte na nossa música”.

Serviço
Praia Lírica
Quando: domingo, dia 29, às 18 horas
Onde: Cineteatro São Luiz (rua Major Facundo,  500 – Centro)
Quanto: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia)

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

View All Articles