Foto: Ana Alexandrino

“Eu acho que é uma mulher que se diverte consigo mesma, independente de estar sozinha, apaixonada, com amigos. Ela não tem medo de encarnar a jornada da heroína. Ela vai fundo, ela volta pra margem”. Essa é Letrux, uma figura de alma melancólica, mas que sabe lidar com as marés baixas – comuns a todos os humanos – com uma boa dose de cinismo e se jogando nas pistas de dança. Se a coisa tá mal, reafirma a autoestima, se arruma e vai atrás de deixar bom.

“A Letrux não sou eu de jeito nenhum. Claro que tem um pouco ali que sou eu. Mas eu sou um pouco mais careta, mais na minha, mais pé no chão. Quando estou no palco me permito voar um pouquinho”, adianta a cantora e atriz carioca Letícia Novaes, que não segura o próprio riso quando se define como “mais pé no chão”. Foi ela quem deu vida à personagem que apresentou em seu primeiro disco solo, lançado em 2017, e que traz no próximo domingo, 29, para a Maloca Dragão.

O álbum Letrux em Noite de Climão, recebido com entusiasmo pelo público mais ligado à cena independente, reúne 11 composições inéditas de Letícia. Creditadas ao alter ego, mas sem tirar a autora da jogada, as faixas tratam de uma mulher se reerguendo de um baque pessoal e sentimental, mas sem perder o bom humor. “Eu sou uma pessoa tragicômica e pensei ‘se eu brincar mais com isso, acho que rende’. Fui buscar músicas que tinham esse lado tragicômico e o repertório saiu muito misturado. Tem coisas que escrevi nos cadernos, outras que compus no piano, no violão”, conta a artista que cruza Maysa e Joy Division em faixas como Noite estranha, Geral Sentiu (Se tu tá acordada cinco horas da manhã/ Significa que tu tá apaixonada/ Ou tu tá sozinha/ E eu não sei o que é pior).

Embora só tenha chegado ao público em 2017, Letrux deu os primeiros sinais de vida dois anos antes. A personagem nasceu enquanto Letícia percebia o fim do Letuce, banda que dividia com o ex-marido Lucas Vasconcellos. “O Lucas já estava na Legião Urbana, o baterista já estava com a Céu e a Gal (Costa). Eu esperei um edital, uma crise (passar), a zona toda. Em 2017, consegui me reerguer, fiz crowdfunding e lancei o disco”, lembra Letícia, que precisou se reorganizar pessoal e emocionalmente para ter certeza do que queria dizer. “Claro que as decisões finais (sobre o disco) são minhas. Eu estava ali de chefa. Querendo ou não, é a minha cara. A historinha ali contada é a minha”.

Passado o descarrego, com um novo relacionamento e acumulando elogios da crítica e prêmios pela estreia solo (melhor disco pelo super júri do Prêmio Multishow e melhor produção musical pelo Women Music Event), Letícia, nascida no Rio de Janeiro em 5 de janeiro de 1982, mantém o olhar tragicômico sobre o mundo que a cerca. “Estou feliz, minha vida tá boa. Mas, quando estou no palco, eu curto essa fossinha. Se eu parar pra pensar no País, o Brasil não está colaborando com minha felicidade. Ele não acompanha minha felicidade. Se eu tenho um olhar mais sócio politico, fico na bad. Mas se for ver meu crescimento pessoal, profissional, kármico, eu fico melhor”.

Independente do clima, Letícia vai continuar encarnado Letrux enquanto bem quiser. “Acho que tudo tem um fim. Até a gente, porque a gente morre. Mas os personagens são até mais eternos que a morte. Uma hora eu posso querer brincar de outra coisa. Por enquanto, não tem nem um ano. Então ainda estou bem curiosa pra saber até onde posso ir com esse personagem”.

Serviço:
Letrux na Maloca Dragão
Quando: 29 de abril, às 23 horas
Onde: Palco Praça Verde (rua Dragão do Mar, 81 – Praia de Iracema)
Acesso gratuito

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

View All Articles