Foto: Larissa Freitas

Nos anos 1990, uma cena musical surgiu com força em Fortaleza. Muitas vozes e instrumentistas apresentaram um repertório de canções inéditas que foi registrada em discos e rendeu bons shows que orbitavam o Centro Dragão do Mar, a Praia de Iracema, Concha Acústica da UFC e outros palcos. No meio desse novo pessoal, uma voz chamou atenção especial e se destacou. Apesar do corpo pequeno e do jeito discreto, Kátia Freitas virou estrela e promessa de um Ceará pop que iria conquistar as rádios nacionais com sua música acessível e refinada.

Essa promessa se cumpriu em dois discos cercados de elogios, mas que se seguiram num longo período de afastamento. Tocando outros projetos por mais de 15 anos, Kátia seguiu como uma saudade forte que sempre remete a alguma boa lembrança de quem ouviu Coca-Colas e Iguarias, Babe Baby ou Próximo. “As pessoas têm saudade e eu também tenho. A relação que eu construí com meu público é sólida e é isso que interessa”, admite a cantora cearense que está decidida a retomar sua história e apresenta suas novas canções neste domingo. O show Cantar Sozinho acontece no Cineteatro São Luiz, às 18 horas.

Cantar Sozinho também é o nome de uma canção de Valdo Aderaldo (autor de Coca-Colas e Iguarias) e Cristiano Pinho (guitarrista e diretor musical do novo show). A música faz parte do repertório inédito previsto para compor o terceiro e aguardado disco de Kátia Freitas. “Na verdade, estava com vontade de apresentar o repertório que foi se formando desde o Próximo (2002). Canções que compus basicamente só e que eu gostaria de apresentar para um público que estava acostumado a ouvir meus dois outros discos. Tem uma pegada mais latina em que o samba está dentro. Mas tem tango, bolero”, descreve a cantora que prefere não fazer uma previsão para o lançamento desse novo disco.

Apesar do tempo afastada, Kátia não tem dúvidas da boa receptividade que seu retorno vai causar. Proposital ou não, ela pode confirmar isso aos poucos. Um show no Carnaval de 2016 e uma gravação recente no disco Futuro e Memória, de Rogério Franco e Dalwton Moura, ambos bem recebidos por público e crítica, ajudaram nessa certeza. “Todo esse percurso que eu venho fazendo desde que voltei, tem sido incrível. Estou percebendo o carinho das pessoas. Esses dias têm sido primorosos. Nesse show, eu vou subir ao palco bastante emocionada”, conta a cantora.

Mesmo afastada dos palcos por tantos anos, Kátia Freitas se manteve perto da música. Trabalhou na Jazz Sinfônica de São Paulo, onde chegou a produzir um disco de 25 anos da Orquestra. Vivendo no que chama de um “paraíso musical”, ela lembra com orgulho dos maestros que conheceu e projetos que desenvolveu com o grupo. Mas o tempo passou e ela sentiu vontade de voltar. Ainda parece difícil pra ela falar sobre esse afastamento e os esforços pessoais necessários para o retorno. Mas não há dúvidas sobre o foco desse novo momento. “Quero muito que essas músicas novas sejam conhecidas. Eu fiquei realmente dedicada a outros trabalhos, que não o meu. Não está descartada a possibilidade de voltar a trabalhar com produtora por que eu gosto. Mas, estou com saudade de cantar para pessoas. E quero fazer o terceiro disco que as pessoas cobram tanto”, adianta resoluta.

E de cobrança, Kátia Freitas entende bem. Um novo disco, mais um sucesso, estourar nacionalmente são algumas das dívidas que ela parece ter criado com o público. “Eu sempre fui tratada como uma estrela, uma artista consagrada, mesmo trabalhando só aqui. Já era reconhecida como uma artista nacional. Todo mundo esperava, desejava, vislumbrava isso. As pessoas perguntavam por que eu não explodi. Mas são tantas histórias que ficaram no passado… Essa carreira nacional exige encarar com uma certa agressividade que eu acho que não tenho. Eu me dedico mesmo à arte e o mercado exige uma exposição que eu não quero ter”, explica mais uma vez sobre a cobrança frequente.

Mas Kátia Freitas sabe do trabalho que construiu e não parece ter dúvidas de que foi tudo feito com atenção, qualidade e sinceridade. É apegada a esses mesmo elementos que ela volta com um novo espetáculo que olha pra frente caminhando sobre uma estrada bem sedimentada. “Continuo criando e é isso que importa. Sempre busquei fazer um trabalho de qualidade e acessível. Rapidez com consistência e acho que consegui. Eu tive esse retorno. Quem tem uma oportunidade de ouvir meu trabalho é tocado por ele”, afirma com segurança.

Kátia Freitas – Cantar Sozinho
Quando: domingo, 6, às 18h
Onde: Cineteatro São Luiz (Rua Major Facundo, 500 – Centro)
Quanto: R$20 (inteira) e R$ 10 (meia)
Telefone: 3252.4138

Discografia:
KÁTIA FREITAS De 1995, mistura canções inéditas com regravações de Freddie Mercury e Cazuza. Coca-Colas e iguarias é o hit. Babe Baby é inesquecível.

PRÓXIMO Sete anos depois, o novo álbum seguiu a receita pop moderna. A faixa título e Antes, de Fausto Nilo e Zeca Baleiro, foram sucessos.

FUTURO E MEMÓRIA Lançada como single, Mais que Sonhar traz Katia de volta às rádios e a Fortaleza. O disco conta ainda com Teti, Paula Tesser e outros

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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