Imagem do Espaço Lab Sônica, no Centro Cultural São Paulo, onde diversos artistas fizeram pequenas apresentações e apresentaram seus trabalhos no pitching (Divulgação)

  • O repórter viajou a convite da Oi Futuro

No dia 7 de dezembro último, estive no Centro Cultural São Paulo para acompanhar parte da programação da Semana Internacional de Música de São Paulo. Mesmo tendo sido uma passagem breve, realizada a convite da Oi Futuro, a experiência de passar por ali foi bastante enriquecedora dado o volume de ideias que circulou naquele espaço.

Num dia nublado e com os compromissos da sisuda capital paulista a pleno vapor, circularam por ali desde a manhã até o fim da tarde (quando saí em direção ao aeroporto) muitos músicos, gestores, jornalistas, produtores, curiosos e aleatórios. A própria estrutura do centro Cultural São Paulo favorece essa presença múltipla uma vez que, assim como nosso Centro Dragão do Mar, ele é aberto em muitos sentidos podendo ser um local de paragem ou passagem

Foi nesse cenário que ouvi uma conversa da jornalista Lorena Calábria com o secretário municipal de cultura de São Paulo André Sturm falando sobre sua experiência de gestão, orçamentos, projetos e a tão celebrada Virada Cultural Paulista. Muito interessante também foi uma exposição de Marc Wohlrabe, representante da Clubcommission Berlin, uma associação de clubes, festas e eventos culturais da capital alemã. Por cerca de uma hora, ele expôs de que forma uma organização de bares tornou-se uma entidade política capaz de mobilizar jovens em campanhas contra Aids, preconceito e desmandos políticos num país se reestruturando após a queda do muro de Berlim.

A perspectiva de Wohlrabe sobre a Clubcommission Berlin vai muito além da festa e do lucro com baladas. Os bares e clubes associados tornaram-se também espaços de liberdade para uma juventude que desejava se manifestar artístico, sexual e politicamente. Sendo sim o espaço agregador, aqueles locais tornaram-se também símbolo de liberdade de expressão e proteção para essas expressões.

Dentro da programação do Sim, também estão os pitchings, pequenos shows onde os artistas expõem seus trabalhos para produtores, jornalistas, donos de selo e para o pequeno público que vai conferir, e shows maiores realizados em casas de shows pela cidade. Ainda no Centro Cultural São Paulo, que conheci o trabalho de Natália Matos, cantora e compositora de Belém, Pará, radicada em São Paulo. Formada em Arquitetura, ela se divide com a música desde 2012. Tem dois discos lançados, sendo o segundo, Não Sei Fazer Canção de Amor (2017), um trabalho onde se revela compositora e que contou com os toques do produtor Carlos Eduardo Miranda.

Natália conheceu Miranda pouco antes de montar o disco, o que acabou resultando num trabalho mais pop que o anterior, Natália Matos (2014). “O Pará está em alta, então há um olhar para esse trabalho. Mas minha música não é o que se espera do Pará”, comenta ela que tem planos de lançar novo clipe, EP e shows. Se São Paulo é pra onde vão todos os artistas que buscam novas oportunidades, é também uma terra para corajosos. “É difícil por que é mais gente produzindo, mas é mais gente pra começar”, conta a cantora que está em “stand by” para saber como o Brasil vai se relacionar com sua cultura durante o governo Bolsonaro. “Vamos ter que criar alternativas para continuar existindo. A música é o caminho que escolhi para me comunicar com o mundo”.

Essa vontade de seguir tocando é também o que move a banda Alaska. Segundo Nicolas Csiky, baterista do quinteto paulistano, muitas dificuldades rondam quem decide trabalhar com música, mesmo na Meca São Paulo. “Existe uma dificuldade estrutural. São muitas casas fechando o tempo todos e falta essa produção cultural para quem está começando”, aponta relativizando que também é uma cidade com uma oferta de shows ainda grande, com muito networking e acesso fácil a essa produção.

Formado por André Ribeiro (voz, teclados e guitarra), André Raeder (guitarra), Vitor Dechem (teclados, voz e guitarra), Wallace Schmidt (baixo), além de Nicolas, a banda começou em 2012 e lançou um primeiro EP no ano seguinte, “que eu nem gosto”, assume o baterista. Dois singles depois, o primeiro disco cheio veio em 2015, o Onda, que circulou por 17 cidades brasileiras. Um segundo disco foi lançado em 2018, com um título que resume muito sobre muita coisa: Ninguém Vai Ouvir. “O nome do disco faz referência ao mercado tão nichado que, sem muita estrutura, é difícil as pessoas ouvirem mesmo. Mas o disco fala também sobre relações pessoais, solidão, internet”, explica Nicolas.

Em São Paulo, enquanto a cearense Soledad apresentava seu pocket show no Sim, conversei com Daniel Peixoto. São Paulo já é, em partes, sua casa. “Tem uma cena que vai e volta e existe uma abertura para artistas de vários lugares aqui. Estou trabalhando pra fortalecer essa cena”, explica o cantor acrescentando que tudo o que acontece na cidade é por conta dessa movimentação, dessa cena. Para ele, 2019 ainda é um incógnita, mas a torcida é pelo melhor. “Sou otimista, só espero não ser privado ne podado”.

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Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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