Por Hamilton Nogueira (jornalista)

“Gostamos de juntar as músicas. É um abraço”, disse o pianista Thiago Almeida no foyer do Theatro José de Alencar no domingo, 13. Era fim de tarde. Com Carlinhos Patriolino, no bandolim, ao lado, adornado pelo belo espaço que em tempos outros servia para que o público aguardasse as apresentações do palco principal, o duo mostrou densidade, volume e espetacular repertório, enquanto Antônia se escondia debaixo de uma cadeira para fugir da mãe.

Um dia antes outro abraço musical fora dado. Dessa vez entre Pedro Façanha, cearense radicado no Rio de Janeiro, no contrabaixo, e pelo professor de guitarra do Conservatório Alberto Nepomuceno, Hermano Faltz. “O show foi concebido para um formato diferente, difícil de executar. A gente explora a sonoridade de artistas como Jim Hall, Clifford Brown, Bud Powell e também nossas próprias músicas. Os espaços que se criam dentro da música e os silêncios, fazem com que a gente se mostre. É mais árduo porque não tem uma harmonia para dar segurança”, explica Hermano.

Patriolino e Thiago, em meio às músicas próprias e a uma linda interpretação dos Beatles, também tocaram Vibrações de Jacob do Bandolim. Um choro que faz chorar o primeiro. “Tem uma relação direta com meu irmão que não está mais entre a gente. Parece que eu o vejo aqui na plateia”. Thiago, tímido na voz, mas eloquente nas teclas do piano, estava mais falante e explicava os caminhos da apresentação. Enquanto isso, tão desenvolta quanto os músicos, Antônia bailava pelo salão.

Jornalista gosta de contextos então, cedendo ao senso comum, fiz a pergunta que parece ser escassez de assunto. “Como está o cenário para música instrumental no Ceará?”. Hermano: “Tem crescido. Nós temos algumas coisas que contribuem com isso, como o Jazz em Cena, e o interesse dos espaços como Confeitaria Sublime, Sótão Moleskine, o próprio BNB, que me convidou para ocupar esse espaço hoje”.

Patriolino e Thiago, Pedro e Hermano, Sardinha e Macaúba, Marcelo Leite e Carlinhos Crisóstomo, Lídia Maria e Alex Ramon, Mimi Rocha e Hérlon Robson, Arley França, Inácio Saldanha, Kátia Freitas. É uma parte do cimento que une a Cidade. São esses, além de vários outros nomes, que trazem as pessoas para as ruas, que dão sentido a urbanidade, que fazem dos espaços públicos um local bom de se frequentar, que reforçam a identidade cultural, nossa legitimidade humana, e que nos dão tempo, tempo de se apaixonar.

Patriolino e Thiago, Pedro e Hermano. Um abraço na Cidade que vive tempos muito difíceis, mas que propositalmente não citarei o motivo. E não será porque essa texto é para falar a respeito do que temos de melhor, é pra falar de diálogo musical, de talentos, de uma cidade que pulsa viva, inteligente, sagaz. É pra falar de quatro grandes nomes da música que ofertaram e ofertarão coisas boas para mim e para vocês.

E, perceba, isso tudo no fim de semana em que Hermeto Pascoal – tudo isso – também ofertava beleza musical em Fortaleza. Enquanto isso, a essa altura, Antônia já ia pra casa.

Obs1. Jazz em Cena é um projeto permanente de jazz que tem movimentado a Cidade. Capitaneado pelo jornalista Dalwton Moura, tem qualidade impecável. Quem não conhece, tem que conhecer.

Obs2. Antônia é filha do bandolinista Carlinhos Patriolino

Obs3. O duo de Hermano Faltz estará na Confeitaria Sublime, quarta-feira – 23/01 às 18 horas e eu vou.

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Mariana Amorim

Jornalista, apaixonada por comunicação e envolvida com música! Acha que uma bela canção pode mudar o mundo. Coleciona livros, discos de vinil, imãs de geladeira e blocos de anotação. Apaixonada pelos garotos de Liverpool e pelo rapaz latino-americano.

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