O cantor e compositor Raphael Costa, que lançou o disco Diamante Hortelã em 2018 (Foto: Divulgação)

Por Daniel Medina (cantor e compositor)

Quem frequentou a Casa de Seu Jorge, no Bairro do Rosarinho, em Recife, sabe que algo especial acontecia ali. De Dominguinhos à Elba Ramalho, de Lula Queiroga à Alaíde Costa, muita gente boa subiu naquele palco de poucos metros quadrados. Aquelas portas e cortinas se abriram para nós cearenses quando Fabrício da Rocha (Breculê) foi pessoalmente pedir informações sobre o show do violonista Marcus Tardelli e acabou se hospedando por mais de uma semana no local da apresentação. Isso era 2012. Na era pré-whastapp o jeito foi ele ligar para Fortaleza e dizer: “Vocês tem que conhecer isso aqui!”. Fomos em bando!

Raphael Costa, olindense, compositor e cantor, idealizador da Casa de Seu Jorge, acaba de lançar seu primeiro disco solo, Diamante Hortelã. Esse nome sugestivo pousa no juízo como toda boa imagem poética e nos instiga durante a viagem. Lírico, poético e onírico o disco de 11 faixas celebra a trajetória desse artista de mais de 15 anos de carreira.

Com produção musical de Marcelo Jeneci, o álbum foi gravado em grande parte em Fortaleza, no Totem Estúdio, no centro. Sorte a nossa! Assim foram inúmeros e mais frequentes os encontros afetivos e musicais.

Pra escapar da palavra “sinestesia”, digo que Diamante Hortelã carrega em si cheiros, texturas e sabor. Músicos como Thiago Hoover, Rogério Samico, Pedro Fonseca, Yuri Khalil, Pepeu e Jeneci, entre outros, com amor foram lapidando no ar cada canção, colorindo e perfumando todo o trabalho. Aqui, timbres sintetizados e camadas sonoras antes revelam que escondem de onde brotaram muitas das canções, de um solitário violão.

Raphael passeia, como todo bom artista, por entre dores e delícias. Nascido em Olinda, sabe a força da alegria. As faixas Mão na mão e Boas Novas confirmam! Mas lembre, em Diamante Hortelã não faltam nuances. Banho e Minh’alma são pontos altos do disco situados em outro polo da Beleza, assim como La loi, fruto de sua morada em solo francês.

Em Tempos Assim o músico pernambucano divide os vocais com Marcelo Jeneci e na bela Juninamente (Raphael Costa/Cezzinha), com ninguém menos que Elba Ramalho. Afeito a afetos e bons parceiros Raphael grava também Dia Desses, parceria com Zé Manoel, e Sobrado, com Vanessa Oliveira e Thiago Hoover.

O compositor Daniel medina (Foto: Gabriel Ponciano/ Divulgação)

Diamante Hortelã contém um tanto da Casa de Seu Jorge em seu apreço pela beleza, pela coletividade e pela folia. Hoje Seu Ricardo Jorge, homenageado que deu nome à casa junto ao santo guerreiro, canta entre as estrelas. Entre a gestação do disco e seu lançamento nasceu Iná, obra mais linda e sapeca de Renata, Raphael e dos avós, entre eles Dona Flor. A Casa de Seu Jorge agora segue itinerante, estrada afora e dentro da gente, por onde essa trupe passar. Diamante Hortelã é um presente pra quem acredita no sonho e na vida, e ela brilha. Deleite-se!

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Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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