Por Teresa Monteiro

Com um pé no sertão, outro no samba e os ouvidos e percussões desembocando na África, Pantico Rocha chega às plataformas digitais nesta quarta-feira, 12, com seu terceiro trabalho autoral, após O Barulho do Sol do Meio Dia (2007) e Nem Samba Nem Sandra Nem Mar (2013). Batizado de Tudo que Passa é Permanente, cujo título foi extraído de um dos versos da canção Oxumaré, o CD – que se distribuiu em gravações por três estúdios distintos – Ministério, Canto dos Trilhos e Umuarama – finaliza a trilogia com o amigo e compositor cearense Marcus Dias trazendo um repertório, segundo o próprio Pantico, “mais fácil de escutar”.

Num total de dez canções, Pantico não só desdobra-se na feitura das melodias, como também canta em todas as faixas, toca violão base e bateria, além de ser o responsável por arregimentar um time de convidados: Andréa Dutra (Oxumaré), Marcus Dias, DJ Doido e MC Ligado (Matar ou Morrer), Pedro Miranda (Final Feliz), Cainã Cavalcante e Ígor Ribeiro (A Mulher do Repentista). Completam ainda André Siqueira (violões solo), Ricardo Vignini (violas), Joe Lima (baixo), Sterfeson (sax e arranjos), Elias (trombone), Vander Nascimento (trompete) e Alexandre Garnizé (percussões); capa e identidade visual têm a assinatura da artista e ilustradora Paulica Santos.

Com previsão inicial de lançamento para o segundo semestre de 2017, o músico justifica o atraso: “É simples assim: grana! (risos)… Tudo eu faço do meu bolso, né? Por isso a gente conta com os amigos pra divulgar essas coisas e tal. Realmente, a previsão era de dois anos atrás, mas acabou que fui ficando sem grana e tendo que juntar dinheiro para poder gravar com outras pessoas, ir a outro estúdio pra mixar, etc. Tanto que estou fazendo o lançamento só nas plataformas digitais e nem pensando ainda em fazer um CD físico porque tem que juntar grana de novo”, lamenta.

A pegada afro dada a Tudo que Passa é Permanente foi, de acordo com Pantico, o que norteou o atual trabalho. “Esse disco é bem afro-brasileiro. Tem a primeira faixa (Divina Comédia), que já é bem no estilo Zé Ramalho, um baião com coco; daí parte para um ijexá e segue com os sambas, obviamente. Mas têm duas músicas que eu destaco: Pano Passado e A Sala (esta com a participação de Arthur Dutra no vibrafone e xilofone). Essas são bem afro, são aquelas referências que eu tive quando fui pra Angola e Cabo Verde, da visão que eu tinha das levadas de lá. Elas destacam o começo da história, depois eu fui trazendo para o Brasil de novo”, explica.

Em relação às plataformas digitais, o músico nota a diferença, sobretudo, de dois anos para cá. “A mudança principal foi justamente esse lance do CD físico. Porque o próprio mundo da indústria vai fazendo com que você vá deixando de ter algumas coisas que você sempre gostou, como o CD. Primeiro, era o LP, depois o CD… Vou fazer um pouco de CD físico, sim, mas para as pessoas que gostam, mas é muito doido isso! Os carros não têm mais leitor de CD; o teu computador também não, é tudo pen drive… Aí você fica à mercê disso: por que eu vou fazer isso se quase ninguém tá me escutando? Aí a saída é colocar nas plataformas”, pontua.

Sobre o mercado independente, Pantico Rocha também detalha outros entraves. “A gente aprende muito com os erros, com as dores que a vida te traz, mas você vai adaptando e toca a vida em frente. A dificuldade maior não é nem tanto fazer o disco, mas como você vai divulgá-lo! Porque para o CD independente, o mercado é muito menor. Por isso, como já disse, você conta é com os amigos mesmo. Agora eles (referindo-se às plataformas) abriram uma brecha pra gente colocar o letrista, algumas participações, e está melhorando nesse aspecto. Mas o CD físico, mesmo, acho que não tem mais volta, não”, reconhece.

Beirando as quatro décadas de trajetória, Pantico Rocha – nascido em terras paraibanas e criado no Cariri cearense – já tem em mente alguns projetos. “Para o ano, vou preparar muita coisa”, antecipa o músico que, dentre as agendas mais recentes, está a sua participação no curta-metragem O Sentinela da Frágil Fortaleza, do cearense Alexandre Vale. “Fiz minha primeira trilha sonora e locução. Eu sou o Mara Hope! Tô muito feliz, ele ficou muito feliz e as pessoas que forem assistir, acredito que também ficarão. Toco violão, assovio, faço a percussão e, daqui a pouco, o curta estará rodando os festivais pelo Brasil”, celebra. “Vou fazer também meu primeiro disco instrumental, que vai ser para consagrar todos esses 40 anos de vivência musical”, garante. Desde já no aguardo.

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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