Foto e vídeo: Deísa Garcêz/Especial para O POVO

No próximo domingo, dia 11, Marcos Lessa apresenta o disco que pode ser o coroamento de uma carreira que, embora curta, foi construída sobre as bases mais sólidas da música popular brasileira. Deslizando na Canção, nome que também batiza o espetáculo que chega ao Cineteatro São Luiz, foi gravado no Rio de Janeiro e teve produção de Roberto Menescal. Costurando compositores do Ceará e de vários outros cantos do Brasil, o cantor e compositor cearense recebeu a equipe do Vida&Arte em sua casa para apresentar em primeira mão esse repertório que, segundo o guitarrista referência da Bossa Nova, autor de clássicos como Ah se eu pudesse e O Barquinho, é um dos melhores com que trabalhou em mais de 60 anos de carreira.

“Eu tinha que fazer um curta-metragem sobre essa minha relação com o Menescal”, comenta Marcos Lessa que teve um primeiro contato com Menescal durante uma palestra em Brasília, em 2011, atravessou o período do The Voice Brasil, do qual o cearense participou e tinha um genro de Menescal como diretor, e chega a Fortaleza por conta de uma amizade em comum com Pio Rodrigues. E o empresário cearense foi uma espécie de padrinho desse encontro que, inicialmente, iria render um single duplo e acabou se estendendo por um álbum completo que será lançado pela gravadora Biscoito Fino.

O repertório de Deslizando na Canção foi construído a partir e sugestões de Menescal e Lessa. Eles começaram com 16 canções, até reduzirem para 13, contando com uma faixa bônus. A abertura é com Doralinda, parceria inusitada de João Donato com Cazuza, que eles achavam se tratar de uma música inédita. Na gravação, Lessa divide os vocais com Jorge Vercilo. “Quando eu estava indo pro Rio gravar o disco, encontrei o Vercilo no aeroporto e já o convidei pra gravar junto. Por coincidência, ainda sentamos juntos no avião”, lembra o cantor que também recebe como convidado especial do disco Marcos Valle tocando piano em Entardecendo. A faixa foi apresentada a ele por Daniel Valle, filho de Marcos, e estava pronta para ser gravada por Emílio Santiago. Com a morte do intérprete, a faixa ganhou a gravação de Wanda Sá, mas sem alguns detalhes que Marcos Valle achava importantes. Ele mesmo colocou esses detalhes agora.

Em seguida vem Poster (Evaldo Gouveia/ Paulo César Pinheiro) e Maresia, composição que inaugurou a parceria de Pio Rodrigues com o compositor José Macedo Barbosa. “Como o Menescal pescava de arpão com o (Ronaldo) Bôscoli, ficou emocionado com essa música”, conta Marcos que também apresenta Pelo Avesso do Tempo, de Menescal e Dalwton Moura. “Acho que ela tem muito a ver com o momento e celebra essa parceria do Ceará com a música nacional, com a bossa. Parece muito as coisas do Menescal com o Bôscoli”, avalia Marcos, passando para Papo de Bar, samba do compositor potiguar Gilson. “O Menescal até queria botar o nome do disco como ‘Papo de Bar’. Se eu bebesse até dava certo”, brinca ele acrescentando que a letra nasceu com o eu lírico feminino, mas que foi mudado na gravação.

As referências bossanovísticas, inevitavelmente, surgem em muitos momentos de Deslizando na Canção. Por exemplo, em Sinceramente (Lessa/ Pio Rodrigues), há um clima de afrossamba que remete a Baden Powell, assim como Pega esse Sambete Aí (Menescal/ Jotabe/ Reginaldo Mil) traz uma homenagem a toda a turma que influenciou por João Gilberto e Tom Jobim. E foi esse balanço que também envolveu Lua do Leblon, composição de Fausto Nilo com Lizieux Costa. “O Fagner gravou essa, mas com um arranjo pesado, do Robertinho de Recife, e o Fausto fez pensando na Nara Leão. É uma música muito querida do Fausto. Podia entrar a voz da Nara a qualquer momento”.

Deslizando na canção iria encerrar com Depois Só Canções de Jobim, parceria de Menescal com Abel Silva, que, nas palavras do autor, resume bem a proposta desse encontro com o cantor cearense. Mas Marcos Lessa fez um pedido que Menescal não recusou: um dueto de voz e violão em O Barquinho. “É a primeira vez que ele faz O Barquinho assim, sem a levada, mais solto. O Menescal diz que é ‘O Barquinho a vela’, não é a motor. Foi nessa música que eu chorei, depois do disco inteiro gravado”, orgulha-se o artista que vai apresentar o disco na íntegra neste domingo, além de incluir homenagens a João Gilberto e Emílio Santiago – este, que esteve ao lado do Mestre Menescal ao longo de sua fase mais bem sucedida. Que essa boa brisa carioca também se estenda por todo o País.

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Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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