Foto: Allison Morgan/ Divulgação

A história do cantor, compositor e guitarrista Artur Menezes com a música já vem de muitas décadas. Talvez passe por sua vida todas já que, sendo filho da cantora Lucinha Menezes, muitas melodias, vozes e instrumentos ocupavam espaço em sua casa. De um tempo em diante, ele integrou a cena blues de Fortaleza, quando esta ainda ocupava pequenos espaços no underground. A cena cresceu e Artur também.

Há quatro anos radicado nos EUA, ele vem ampliando conexões e trabalhando ao lado de algumas estrelas do gênero. É o caso do guitarrista norte-americano Joe Bonamassa, que se convidou para participar do novo single de Artur. Come On é um das faixas do novo disco do cearense, programado para chegar dia 30 de outubro nas plataformas digitais, com produção de Josh Smith. “Ele é um cara muito bacana, além de ser incrivelmente talentoso e bem sucedido”, comenta Artur sobre Bonamassa. A seguir, confira entrevista completa com Artur Menezes falando sobre disco novo, influências, guitarras perdidas e tempos de pandemia.

DISCOGRAFIA – Como rolou a parceria com o Joe Bonamassa e como foi essa gravação?
Artur Menezes – Eu sempre segui o Joe Bonamassa no Instagram. Certo dia ele comentou em um vídeo que um outro perfil postou de um show meu e ele deixou um comentário lá muito bacana onde disse: “Art is a super star waiting to be discovered. Fearless player” (Arte é um super star esperando ser descoberto. Músico destemido). A partir desse dia, sempre que eu encontrei com ele nos shows, ele sempre lembrou de mim, sempre muito gentil e sempre me dando uma força. Um tempo depois ele me mandou uma mensagem de texto perguntando se eu queria ir a um show que ele ia fazer por cinco noites seguidas no The Baked Potato. Daí ele pôs meu nome na lista e, em uma das noites, ele se ofereceu pra gravar um solo em uma das minhas músicas quando eu fosse gravar um disco novo. Daí, óbvio, que aceitei! Ele é um cara muito bacana, além de ser incrivelmente talentoso e bem sucedido. “A true legend!” (Uma verdadeira lenda)

DISCOGRAFIA – Queria saber a história desse single, “Come On”. Quando ele nasceu e como?
Artur Menezes – Esse single faz parte do meu disco novo intitulado Fading Away. Vai ser lançado dia 30 de outubro (aqui o link de pre-save e pre-order), pelo selo VizzTone. O disco foi gravado aqui em Los Angeles e produzido pelo Josh Smith. O Lyric Video que tem no Youtube/VEVO foi feito pelo Roger Capone aí de Fortaleza.

DISCOGRAFIA – Esse single faz parte do seu novo disco, o segundo gravado fora do Brasil. Queria saber desse disco. O que traz de novo pra tua obra?
Artur Menezes – Acabei respondendo na pergunta acima algumas coisas sobre o disco novo… São todas composições de minha autoria e o disco está com uma pegada mais rock, mas ainda tem bastante influência do blues e funk, soul. Algumas letras são autobiográficas, outras inspiradas por pessoas mais próximas. Tem duas músicas onde eu presto homenagem ao Brasil. Uma é um “baião-blues-rock” e a outra onde conto a minha trajetória de sair do Brasil pra vir tocar blues no EUA.

DISCOGRAFIA – Você já me adiantou que pretende lançar esse disco em CD e vinil. Que espaço você vê pra essas mídias? Que importância elas têm?
Artur Menezes – Eu sou “old school”. Gosto de coisas vintage, analógicas etc. Cresci ouvindo vinil e em seguida CD. CDs eu sempre vendo muito bem nos shows e é um registro físico da obra. Lançar só digital pra mim não faz muito sentido. Vinil nunca lancei e sempre tive esse sonho. Eu estava com planos de lançar o Fading Away em vinil já em agora no dia 30. Já estava até com a master e arte prontas. Mas prensar vinil é muito caro e com essa pandemia, sem turnês e shows marcados, não faz sentido mandar rodar os vinis e ficar com eles estocados em casa. Então vou aguardar as coisas voltarem ao normal e daí lanço em vinil também. Mas dia 30 de outubro sai em CD!

DISCOGRAFIA – Queria saber de como anda sua vida nos EUA. Que experiências tem tido, que trabalhos têm desenvolvido?
Artur Menezes – Já estou nos EUA há mais quatro anos. Muita coisa bacana já rolou aqui pra mim: toquei no Crossroads Guitar Festival, em 2019, festival promovido pelo Eric Clapton; ganhei o Award da Blues Foundation de Melhor Guitarrista em 2018 e recebi o meu Green Card através dos meus êxitos na música e do meu papel de preservar e levantar a bandeira do blues. Também sou professor de guitarra no Musicians Institute em Hollywood. Além disso, vários shows e turnês pelos EUA.

DISCOGRAFIA – Em setembro de 2019, você foi uma das atrações do festival Crossroads, criado pelo Eric Clapton para reunir os grandes guitarristas do mundo. Queria saber como foi essa experiência e que você contasse um pouco dos bastidores, quem você encontrou, o que viu, etc.
Artur Menezes – Foi muito bacana, sonho realizado mesmo! Fizemos uma baita show! De bastidores encontrei praticamente todo mundo que participou do festival, mas o momento mais importante foi ter falado com o Clapton. Foi muito rápido. Ele sempre está cercado de gente falando com ele. Eu não gosto muito de incomodar, mas era o Clapton, né?! Hahaha. Então fui até ele, me apresentei e agradeci por tudo que ele fez pela música e pela influência e inspiração. Ele tocou minha mão, me parabenizou, agradeceu e foi isso. Foi bem rápido, mas muito marcante e importante pra mim.

DISCOGRAFIA – Outro encontro seu que merece nota foi com o Joe Satriani. Como ele aconteceu?
Artur Menezes – Eu já estava morando aqui em Los Angeles quando a produção do Samsung Best Of Blues me convidou pra tocar na edição que rolou em 2017. Foi incrível! Foi no Ibirapuera em São Paulo. Mais de 20 mil pessoas assistindo ao show. Quem fechou a noite foi o Joe Satriani. Além de ser um baita artista, um baita de um ser humano! Ele foi muito bacana comigo (inclusive foi uma das pessoas que escreveu carta de recomendação para o meu Green Card). Quando fomos apresentados nos bastidores, a primeira coisa que ele me disse foi que assistiu aos meus vídeos no Youtube e gostou bastante. Daí ele assistiu ao nosso “soundcheck” e depois da coletiva de imprensa ele me convidou pra fazer aquela jam no final do show dele. Sou um grande fã do Satriani, então foi outro momento bem marcante pra mim.

DISCOGRAFIA – Certamente, ser um músico de blues no Ceará é completamente diferente de ser nos EUA, berço dessa cultura que envolve uma longa história de representatividade racial. Estando aí, sua percepção sobre o blues mudou? Como foi a recepção ao seu trabalho?
Artur Menezes – Sempre fui muito bem recebido aqui. Desde a primeira vez que fui a Chicago em 2006. O que acho bacana nos EUA é que se você é bom no que faz e se dedica, as pessoas te abraçam e te ajudam. A minha percepção mudou não pelo blues em si, mas pela música como um todo. Não mudou por conta dos EUA, foi um processo gradativo e natural que já tinha começado quando eu ainda estava no Brasil. O jeito que eu lido com música hoje em dia é completamente diferente de alguns anos atrás. Faz tempo que deixou de ser uma percepção racional. Digo, ainda é racional quando se trata da parte “business”. Mas em se tratando da música em si, é arte. Não se pensa, se sente. Não tem a ver com técnica, estudo ou teoria. Tem a ver com tocar/cantar com o coração.

DISCOGRAFIA – Como foi pra você esse período da pandemia, com isolamentos social, sem shows e todas as questões políticas e sociais que o período envolveu?
Artur Menezes – Bem difícil. Financeiramente foi relativamente tranquilo, pois eu tenho muitos alunos online. Mas emocional, completamente diferente. Ficar sem fazer o que eu mais gosto e que fiz quase a minha vida inteira (shows e turnês) e sem família por perto não tem sido fácil.

DISCOGRAFIA – Sua mãe, a Lucinha Menezes, tem um trabalho com a música brasileira muito focado na pesquisa de um cancioneiro que andavam esquecido. De que formas ela influenciou o teu trabalho?
Artur Menezes – A mamãe sempre me apoiou quando decidi seguir a carreira de artista. A influência veio através da vivência, de vê-la ensaiando, gravando e fazendo shows desde quando eu era criança. Isso me marcou profundamente. A mamãe é uma grande artista, é bastante respeitada e bem-sucedida, e merece muito mais. Aguardem o disco novo que ela vai lançar em breve. Eu já ouvi e está sensacional! (Abaixo, Lucinha Menezes interpretando Que Loucura, de Sérgio Sampaio, acompanhada por Artur na guitarra)

DISCOGRAFIA – No início desse ano você fez “uma campanha” aqui em Fortaleza pra tentar localizar sua primeira guitarra. Qual o resultado? E qual a história dessa guitarra?
Artur Menezes – Infelizmente não encontrei. Até aproveito pra agradecer novamente à imprensa de Fortaleza que foi muito bacana comigo me ajudando nessa campanha. Infelizmente, quando comecei na música, as condições financeiras não eram das melhores e a única maneira de conseguir um equipamento de mais qualidade era vendendo o que tinha e completando a diferença de valor. Então vendi essa guitarra talvez por volta de 2001/2002 e nem lembro pra quem vendi. A vontade de recuperá-la é sentimental. Foi muito importante na minha trajetória e eu adoraria tê-la de volta.

DISCOGRAFIA – O que tem acompanhado das notícias do Brasil e que percepção você tem, estando de longe?
Artur Menezes – Fico muito triste com toda essa situação política e social e com a quantidade de gente que apoia o que está acontecendo. É assustador. Pra piorar não é só no Brasil. Claramente há um retrocesso no mundo todo. Das duas uma: ou os níveis de imbecilidade estão crescendo ou sempre estiveram presentes, mas só agora a gente passou perceber através das redes sociais.

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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