Detonautas Roque Clube. Foto: Bruno Kaiuca/ Divulgação

Vocalista dos Detonautas Roque Clube, Tico Santa Cruz anunciou via Twitter que no dia 6 de novembro a banda carioca vai lançar um novo single e deu uma pista sobre o tema: “Bolsonaro usa muito”. Crítico ferrenho do presidente da república, o músico não precisaria dizer muito mais que isso.

O lançamento vem na sequencia de Micheque, música lançada no início de setembro e que deu um grande bafafá por fazer piada com a pergunta que mais se repetia em redes sociais pelo Brasil à época: por que razão Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio Bolsonaro, teria depositado R$89 mil na conta da primeira-dama Michelle Bolsonaro? Misturando a cantiga de roda “Marcha soldado” com guitarras pesadas e Marcelo Adnet imitando o presidente, Micheque é puro deboche, mas a “homenageada” não gostou da brincadeira e ameaçou os Detonautas de processo e censura.

Sim, censura. Michelle Bolsonaro achou que poderia proibir a execução da música numa época em que arquivos são puxados do fundo do baú relembrando aquele comentário no mínimo equivocado que você fez quando as redes sociais eram um grande loteamento vazio (com comentários ou vídeos no mínimo constrangedores que você achava que seriam esquecidos). Se falava da boca pra fora ou se realmente acreditava que seria capaz de sumir com Micheque eu não sei, mas o que ela conseguiu foi transformar o single num sucesso e no assunto do momento. E quanto mais ela se indignava, mais plays eram dados.

Curiosamente, no início dos anos 1980, quando o rock ganhou espaço no mercado musical brasileiro e a ditadura caia de velha, ter uma obra censurada chegava a ser um bom negócio. Uma das histórias mais famosas é do disco de estreia da Blitz, que teve as últimas faixas do lado B censuradas por que traziam alguns palavrões. No lugar de regravar o disco, a banda riscou com um prego cada uma das cópias e colocou um selo capa: “por terem sido vetadas pela censura (DCDP), as duas últimas faixas do lado B foram intencionalmente inutilizadas”. Com o público incomodado por levar uma obra maculada pra casa, a banda acabou vendendo o disco e o protesto juntos. E claro, isso gerou muita curiosidade e ajudou o disco a vender muito mais. Hoje, os discos riscados são troféu nas estantes dos colecionadores.

Leo Jaime foi até mais direto e colocou “proibido para menores de 18 anos” na capa de Phodas C. Lançado em 1983, seu disco de estreia é uma joia do deboche e teve problemas com a censura por conta dos versos libidinosos de Sonia. A resposta veio no disco seguinte, com Solange, uma ode a Solange Hernandes chefe da Divisão de Censura e Diversões Públicas (DCDP), órgão responsável pela tesoura moral da ditadura brasileira. Em ambas, o deboche abunda.

E a cada corte que o departamento dava – seja por conta de críticas sociais, mensagens políticas ou palavras de baixo calão – mais o público ficava curioso pra ouvir o que era tão proibido. Veraneio vascaína, com o Capital Inicial disparando contra a violência policial; Revoluções por minuto, do RPM, por conta do verso “aqui na esquina cheiram cola”; Faroeste Caboclo e Conexão amazônica, da Legião Urbana, pelo todo da letra; e, claro, Censura, da Plebe Rude, foi censurada por motivos óbvios. O tempo passa e todas elas viraram grandes sucessos nas rádios e shows, e assim permanecem até hoje.

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Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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