ESTRELAFilha do indomável Paulo Leminski, Estrela Leminski vem a Fortaleza para a abertura da exposição que estreia na Caixa Cultural sobre seu pai. A exposição é uma dica sem ressalvas deste humilde blogueiro. Como se bastasse, ela ainda montou um pocket show sobre o projeto Leminskanções, álbum duplo, gratuito, físico e virtual que lançou no início deste ano reinterpretando canções de Leminski. O disco já foi tema aqui no DISCOGRAFIA, mas vale lembrar: é espetacular. (E para saber mais sobre a exposição, é aqui) Por email, Estrela Leminski conversou com a repórter Raphaelle Batista sobre a exposição, o disco e Paulo Leminski. Acompanhe.

O POVO – Leminskanções compõe uma série de projetos de pesquisa e resgate da obra múltipla de Paulo Leminski, como a digitalização de seu acervo e a reunião de sua poesia. Além de tudo, o disco teve uma repercussão super positiva desde que apareceu para download na rede. Você esperava essa recepção do trabalho?
Estrela Ruiz – Eu até imaginava que a geração que não teve contato com a obra musical dele antes fosse curtir, mas o que mais emocionou foi ver a reação de quem conviveu, dos parceiros, dos contemporâneos. Até por isso o próximo passo depois do songbook recém lançado e fazer um LP do Leminskanções. Fiquei mais feliz ainda quando comecei a receber vídeos de crianças cantando as músicas. É uma geração que vai crescer sabendo que ele era compositor.

O POVO – Como foi o processo de construção do disco e como ele se insere dentro da exposição, para além do show? Que outras referências à faceta de Leminski na música estão presentes na mostra?
Estrela – O processo demorou porque são dois discos e cada música tinha suas peculiaridades. Fui tentando pensar no arranjo como se ele mesmo estivesse fazendo. Dentro da exposição ele é uma parte apenas do setor “música” que contempla outros parceiros, songbook, o áudio que fica tocando, objetos pessoais, uma entrevista que ele deu sobre seu lado compositor para o jornalista Aramis Millarch, fitas k7 das gravações que ele fazia. A exposição me ajudou muito a organizar o material e pensar no que era necessário ser gravado de imediato.

O POVO – É a primeira vez que você traz o show para Fortaleza?
Estrela – Eu já vim outras vezes fazer shows do meu trabalho autoral na Feira da música e no BNB. Esse repertório é a primeira vez que faço, embora ainda queira vir com o show completo.

O POVO – Sua irã Áurea me explicou o contexto de como nasceu a exposição, de que vocês já vinham pensando em levar uma mostra sobre Leminski a Curitiba quando veio o convite do museu Oscar Niemeyer. Um projeto grande que, segundo ela, teve pouco tempo para ser executado, mas que como vocês já estavam envolvidas nas pesquisas de cada “área” acabou sendo possível. O que você descobriu dessa face musical de Leminski que mais te chamou atenção?
Estrela – Quando estava organizando o material que eu me dei conta que apesar dele nunca ter se lançado como ” cantautor” ele estava super inserido em três movimentações fundamentais na música brasileira na virada dos anos 70 para os 80: a vanguarda paulista, o tropicalismo (principalmente na carreira solo deles), e no rock curitibano. Essa criação intensa e multiplicidade estão tão presentes na música quanto nas outras facetas dele. Foi fantástico também perceber o quanto a poesia dele foi influenciada pelo fato dele se tornar compositor, ela foi se tornando muito mais direta e sonora com o passar do tempo.

O POVO – Cada uma de vocês, as filhas de Leminski, e Alice, com quem ele foi casado por mais de 20 anos, tem um jeito de olhar para a obra e a vida do Polaco. Como foi revisitar essas recordações para montar, como num mosaico, esse retrato múltiplo do artista e do homem na exposição?
Estrela – Até hoje a gente se pega olhando objetos e lembrando de coisas, tendo idéias para as próximas exposições ou coisas da obra dele. A música é mais forte ainda nesse aspecto, porque vem toda a carga emocional junto. Mas o cronograma fala mais alto e a gente tem que voltar pro aspecto racional pra deixar a exposição pronta. Por sorte somos uma família que funciona muito bem como equipe, sermos artistas também, o que deve deve contribuir um pouco nisso.

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

View All Articles