A empatia é um sentimento ligado à compaixão, sensação que te faz sentir e compreender as emoções do outro para juntos acolhê-las. É por meio da compaixão que chegamos à capacidade de acolhimento, de fornecer abrigo, espaço de escuta e diálogo. Ante a pandemia da Covid-19, o meio educacional evidenciou a necessidade de acolher alunos, familiares e, principalmente, os educadores.

Pesquisas mostram que o cenário de isolamento e aulas remotas intensificaram o estresse e desequilibraram a saúde emocional dos professores.

Dados do Instituto Península do primeiro bimestre da pandemia, por exemplo, mostram que 53% dos 2,4 mil educadores consultados disseram estar muito ou totalmente preocupados com a própria saúde, com relatos de medo, ansiedade e insegurança.

Já um estudo mais recente feito pelo portal Nova Escola, em julho, mostrou que, dos 8,1 mil professores participantes, 28% avaliaram a própria saúde mental como ruim ou péssima. Com a exigência de inovações, pressão para cumprir as atividades, manter alunos engajados, orientar pais e familiares nesse contexto se tornaram desafios que, por vezes, ocasionaram a piora do quadro emocional dos profissionais de educação.

Dias de maior estresse requerem maior controle emocional, mas como fazer isso? Reconhecer as próprias emoções é o primeiro passo para que, a partir disso, o lado racional do cérebro construa novas direções, hipóteses e sensações. Um dos maiores problemas que vivenciamos atualmente é ignorarmos que os professores têm emoções e estão tendo de estar na linha de frente com os alunos e as famílias, prontos e dispostos, o tempo todo.

O papel da escola nesse acolhimento

No entanto, não basta apenas o educador que está, dia após dia, em contato direto com os alunos ter essa consciência e flexibilização cognitiva. A reflexão sobre a preocupação com o bem-estar emocional dos professores deve acontecer pela ótica da complexidade dos seres humanos, pois o ser humano é complexo. Sendo assim, as escolas precisam abrir espaços para diálogo e escuta, preocupando-se com a busca por soluções para melhorar, ou amenizar, o sofrimento do educador.

A cobrança, quando necessária, deve surgir em formato de curiosidade. É necessário perguntar sobre o bem-estar, sobre a exaustão, propor alternativas para melhorar e motivar o empenho do profissional. O gestor precisa olhar para seus educadores como parceiros, promover uma dinâmica que permita que as emoções sejam compartilhadas, pois o processo de cuidado e acolhimento se torna relevante quando se tem voz para falar de suas dores e ouvidos para escutar a dor do próximo.

Interagir uns com os outros, seja no meio profissional ou pessoal, é o que nos torna mais humanos, capazes de evoluir em diversos aspectos, principalmente no socioemocional. Sem a interação, como podemos exercitar a nossa capacidade de escuta e diálogo?

Em algum momento, as aulas presenciais serão retomadas. O medo para esse retorno é o sentimento que permeia muitos educadores, gestores, familiares e estudantes, ou seja, toda a comunidade escolar. Mas medo é o sentimento certo, pois através dele identificamos e fortalecemos a coragem. Habilidade essa que muitos professores passaram a reconhecer de forma determinante para um trabalho intenso nos últimos meses de ensino a distância e que vai exigir ainda mais quando for preciso receber presencialmente os alunos no ambiente escolar.

Dessa forma, é preciso reforçar o acolhimento do educador para prepará-lo para essa nova realidade, pois nesse momento todos voltamos a ser aprendizes.

Leticia Letícia Lyle, é cofundadora da Camino Education e diretora da Camino School. Foi vencedora do Prêmio Early Career 2017 do Teachers College, da Columbia University, por seu trabalho com programas de aprendizado Social-Emocional para estudantes de baixa renda no Brasil.

 

 

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Eduardo Siqueira

Um jornalista que ama Educação. Minhas experiências me fizeram imergir no universo da Educação, sentindo todo o seu poder transformador e percebendo o quanto ela ainda precisa de apoio. Aqui, busco fazer minha parte e ajudar as pessoas a compreendê-la nem que seja um cadinho.

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