Outra sugestão pertinente é que as matrículas sejam estendidas a crianças que já estavam fora da escola antes da pandemia. Segundo estudo anterior do organismo multilateral, divulgado em maio último e intitulado Cenário da Exclusão Escolar no Brasil – um Alerta sobre os Impactos da Pandemia da Covid-19 na Educação, tínhamos em nosso país, em 2019, 1,1 milhão de crianças e adolescentes de quatro a 17 anos sem acesso à educação. O número, já suficientemente preocupante, aumentou em 2020 para 5,1 milhões, dos quais 3,7 milhões estavam oficialmente matriculados, mas não tiveram como manter o aprendizado em casa.
Corroborando com os riscos para crianças e adolescentes fora da escola apontados pela Unicef, as Nações Unidas divulgaram informação grave sobre o tráfico humano, num cenário no qual a pandemia empurrou 124 milhões de pessoas para a pobreza extrema, agravando sua vulnerabilidade ante essa atividade criminosa. Na média global, um terço das vítimas é constituído por crianças e adolescentes, que, nas nações de baixa renda, representam metade dos atingidos por esse hediondo crime.
Não há dúvida de que a infância e a juventude, principalmente em nações emergentes e pobres, encontram-se entre os segmentos demográficos mais prejudicados pela pandemia. O novo coronavírus deixa uma lição definitiva e incontestável: a educação, além de garantir a independência, consciência, prerrogativas da cidadania, inclusão e oportunidades de ascensão socioeconômica, é decisiva para a proteção, sociabilização e alimentação adequada de milhões de crianças, no Brasil e no mundo.
* Carlos Trindade é diretor pedagógico da Realvi English Immersion, Edtech especializada em ensino bilíngue.