Trabalho de conclusão de curso de Realização Audiovisual da Vila das Artes, o filme foi selecionado para a Mostra Competitiva Brasileira de Curta-Metragem. Já a estreia do diretor, Cinemão (2015), entrou no Festival pela Mostra Olhar do Ceará.
Quando a ciborgue transexual vivida por Layla Kayã Sah descobre que o progresso tecnológico ameaça sua existência, ela parte em busca de informações que possam ajudá-la a transcender o plano físico. De cara, a heróina de Mozart estabelece os lados. Sociedade e Governo, aqui representado pela Corporação e sua tentativa de controle biotecnopolítico.
Com as acertadas direção de arte, que Freire assina com Jônia Tercia, e fotografia, de Daniel Pustowka, o cineasta escancara o niilismo de uma Fortaleza hi-tech marginalizada. Há ainda a trilha sonora do duo eletrônico Intuición, que ajuda a construir a cybercultura em torno da narrativa, bem como a inventiva presença de Graco Alves e a imagem noir de Euzebio Zloccowick (1980-2016).
Outro ponto alto é a irreverência da produção ao dialogar com a realidade local. Uma das primeiras cenas do filme, com a banda tocando ao fundo, lembra a tradicional festa fortalezense Dança das Sombras, com indivíduos que transitam entre a chamada normalidade e a necessidade de se expressar diferentemente do que está imposto pela sociedade. Em outro momento, ciborgues aparecem deitados em redes. Coisa de cearense.
A transciborgue é, essencialmente, um grito de rebeldia e resistência. A modelo ultrapassada entende que é preciso bradar emponderamento para superar as dificuldades sociais, mesmo quando não há muita esperança. Mas para Janaina, as possibilidades existem. E precisam ser exploradas.