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Marina retorna a Fortaleza, cidade que conheceu ainda na adolescência, para show no Cineteatro São Luiz (Foto: Paulo Mancini)

Marina Lima sempre foi uma artista aberta. Já falou sobre quase tudo na vida. Sexualidade, depressão, problemas já superados que envolveram seu instrumento maior de trabalho: a voz. Tanto que, em 2012, publicou seu primeiro livro, Maneira de Ser. Seu álbum ao vivo mais recente, o acústico No Osso (2015), revela uma Marina que contornou a fragilidade com a força de vontade de cantar.

Em entrevista ao Repórter Entre Linhas, realizada por telefone no último dia 28, fez questão de dizer que mudou. E isso é bom. “Ainda sou eu”, defende. “Se quiser continuar comigo, siga. Quem não quiser ficar, foi um prazer enorme”. E deixa claro: “Isso não é uma coisa agressiva. É uma coisa libertadora. Eu me liberto e o público também”.

A forma com que fala é reflexo das experiências que teve nos últimos anos. Para o show No Osso, gravado em maio do ano passado no Sesc Belenzinho, se desarmou. “Voz, violão, minha alma, meu instrumento. Um encontro meu, nua, com o público”. Foi que bastou para Marina se entregar no palco num ponto importante da sua trajetória. “Foi um mergulho que você vai até o fundo e volta”, diz. “Mas eu voltei diferente”.

A parceria com o músico paraense Arthur Kunz, da banda eletrônica Strobo, é o desdobramento desse caminho. Marina adianta que ele é um dos nomes escolhidos para produzir o seu próximo disco, ainda sem data para começar a produção. “Agora tá na hora da gente pegar umas ondas”, brinca. “Estou num momento louca pelo que estou fazendo, amando tocar com esse cara que eu acho o máximo que é o Arthur”.

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Marina com Léo Chermont e Arthur Kunz. Eles formam o duo eletrônico Strobo (Foto: Reprodução / Facebook)

O show Marina Lima Em Concerto, do qual Arthur é convidado, estreia aqui em Fortaleza. O Nordeste é uma lembrança familiar. Seus pais nasceram no Piauí. Na Capital cearense, tinha tios. Na Bahia, conta, ainda residem parentes. Por isso, na adolescência, antes mesmo de começar a rodar o Brasil com shows, veio para a região em viagens de férias.

“Não vou há Fortaleza há muito tempo. Minha carreira mudou e eu fiquei uma coisa para poucos, saí do mainstream”, avalia. “Eu gosto do Nordeste. Me lembra tanto dos meus pais. Praia, vento, o mar. Do fundo do meu coração,  eu tô feliz de ir para Fortaleza. Tenho uma relação bonita com a cidade, é como se fosse uma prima de segundo grau. Eu vejo pouco, mas sempre que vejo fico feliz. E Fortaleza é uma cidade linda. Admiro muita gente daí. Admiro o Ciro (Gomes). O Fagner é uma pessoa muito importante”, continua.

Falando em político, diz que já foi muito menos politizada. “O que aconteceu nos últimos anos me obrigou a sair da minha alienação”, conta. “Comecei a perceber o quanto isso é importante porque as pessoas invadem os direitos individuais. Naquela câmara dos deputados fazem coisas que podem atrapalhar minha vida e de muitas pessoas. A cada dia mais eu tô ligada nisso”. Dito isso, afirma que noticiário é uma das coisas que mais tomam seu tempo. “Preciso saber o que está acontecendo”.

+ Leia mais: Marina Lima por inteiro

Música brasileira

Gravado em maio do ano passado, 'No Osso' mostra uma artista sem moldura (Foto: Divulgação)

Gravado em maio do ano passado, ‘No Osso’ mostra uma artista sem moldura (Foto: Divulgação)

Desapegada com o passado quando perguntada da própria trajetória, Marina diz não olhar para trás. “Estou sempre me reinventando. E outras pessoas chegaram, como a Ivete (Sangalo)”. Mais recentemente, anda encantada pelo trabalho de Vanessa da Mata. “Com algumas exceções, acho tudo muito chato. Principalmente porque sertanejo e música evangélica é o que mais toca. Respeito, mas o estilo o tempo todo me cansa”.

Mas de vez em quando a música traz “uns sopros”. Ela lembra então de Chico Science, da expoente do movimento Manguebeat, surgido no Recife nos 1990. “Agora tem essa coisa mais recente de Belém”, fazendo referência ao duo Strobo. “Em São Paulo tem a Céu. Surgem coisas, mas predomina isso nas rádios. Agora, quem procura sempre acha”.

Mesmo reclamando da pouca variedade, acredita que a música dá mais lugar à voz do povo. “O Brasil foi ficando um país pobre. Aqui é tudo muito primitivo, mas é bom porque as pessoas têm muito suingue, muito gingado e, acima de tudo, muita musicalidade. Quem conhece música sabe que não é só isso. Talvez seja mais democrática à medida que a música é mais do povão, mas eu gostaria de ouvir outras coisas”.

“A música brasileira tem modernidade, mas tem muita coisa regional também. Não é porque é de São Paulo ou do Rio de Janeiro que é menos brasileiro”, aponta. “As pessoas questionam muito o que é brasilidade. E não acredito que ninguém seja mais brasileiro que eu que nasci aqui”.

 

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About the Author

Rubens Rodrigues

Jornalista. Na equipe do O POVO desde 2015. Em 2018, criou o podcast Fora da Ordem e integrou as equipes que venceram o Prêmio Gandhi de Comunicação e o Prêmio CDL de Comunicação. Em 2019, assinou a organização da antologia "Relicário". Estudou Comunicação em Música na OnStage Lab (SP) e é pós-graduando em Jornalismo Digital pela Estácio de Sá.

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