“Sei que o racismo ainda é, infelizmente, um problema estrutural e muito presente”, disse (Foto: Reprodução)

O clipe de “Você Não Presta”, da cantora Mallu Magalhães, deu o que falar. Lançado na última semana, o vídeo traz um grupo de bailarinos negros dançando junto com ela – e, em algumas cenas, dançando separados da cantora. Na Internet, algumas pessoas interpretaram as escolhas de elenco, direção e montagem do vídeo como racismo.

“Musica tipo-exportação bossa-novista com negros dançando”, escreveu uma internauta nos comentários do vídeo no YouTube. “Quer combater o racismo e a fetichização? Contrate musicistas negras, contrate produtoras negras, contrate editores negros, empodere financeiramente mulheres negras”. Comentários como este se multiplicaram no YouTube e nas mídias sociais. Mas há, também, quem veja a provocação da cantora com outros olhos. “Brancos e negros dançam juntos. O clipe priorizou as sombras e isso mostra que não existe diferente nenhuma”, defendeu um usuário do YouTube, em uma opinião mais voltada para a parte técnica do clipe. “Somos todos iguais”.

Clipe teve mais de 1 milhão de visualizações (Foto: Reprodução / Facebook)

Mallu não se calou. Na tarde desta quarta-feira, 24, a paulistana publicou uma carta de desculpas em sua página oficial no Facebook. “Fico muito triste em saber que o clipe da música ‘Você não presta’ possa ter ofendido alguém. É muito decepcionante para mim que isso tenha acontecido”, escreveu. “Meu trabalho e minha mensagem têm sempre finalidade e ideais construtivos, nunca, de maneira nenhuma, destrutivos ou agressivos”.

No texto, a compositora apontou que a arte é um território “muito aberto e passível de diferentes interpretações”, reconhecendo que os significados podem fugir do controle a partir do momento que o produto vem a público. “Sei que o racismo ainda é, infelizmente, um problema estrutural e muito presente. Eu também o vejo, o rejeito e o combato”, afirmou.

Foram convidados para participar do clipe os bailarinos Bruno Cadinha, Aires d´Alva, Filipa Amaro, Xenos Palma, Stella Carvalho e Manuela Cabitango – que deu aulas de dança para Mallu. A escolha do elenco foi feita pela Box Produções, produtora do vídeo, e pelo diretor Bruno Ferreira.

“É realmente uma tristeza enorme ter decepcionado algumas pessoas, mas ao mesmo tempo agradeço a todos por terem se expressado”, destacou. “É uma oportunidade de aprender”. Mallu Magalhães encerra pedindo que “qualquer sentimento de ofensa ou injustiça” dê lugar “a dança, a arte e o convite à música”.

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Rubens Rodrigues

Jornalista. Na equipe do O POVO desde 2015. Em 2018, criou o podcast Fora da Ordem e integrou as equipes que venceram o Prêmio Gandhi de Comunicação e o Prêmio CDL de Comunicação. Em 2019, assinou a organização da antologia "Relicário". Estudou Comunicação em Música na OnStage Lab (SP) e é pós-graduando em Jornalismo Digital pela Estácio de Sá.

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