De malas quase prontas para o Rock in Rio, onde se apresenta no próximo dia 17, a banda cearense Projeto Rivera também prepara o segundo álbum de inéditas. Intitulado Eu Vejo Você, o disco é o sucessor do debut Eu Vim Te Trazer o Sol, lançado em 2015. Formada em 2013, a banda cearense é atualmente formada por Victor Caliope (vocal), Flávio Nascimento (guitarra), Bruno Silveira (guitarra) e Matheus Brasil (baixo).

Com 13 faixas, Eu Vim Te Trazer o Sol retrata as experiências vividas pelos integrantes em três anos de andanças pelas cidades do interior do Ceará. Já nos últimos anos, as experiências com festivais têm sido positivas. Eles tocaram no Festival MADA, de Natal, em 2015. No ano passado, integraram a Semana Internacional de Música, em São Paulo, além de ter sido finalista do festival Nós Alive, em Portugal. No mesmo ano, integrou o Laboratório de Música da escola de formação artística Porto Iracema das Artes, do Centro Cultural Dragão do Mar de Arte e Cultura.

O disco nasceu com algumas ações, como intervenções urbanas em que foram instalados Lambe-Lambes com trechos das canções na cidade, e a criação de lyric videos. O trabalho manual dos CDs também mostra a dedicação e o carinho dos músicos com o trabalho. O Blog conversou com o guitarrista Bruno Silvera, que comentou, faixa a faixa, o disco Eu Vim Te Trazer o Sol. Confira.

Faixa a faixa: Eu Vim Te Trazer o Sol (2015) – Projeto Rivera
Por Bruno Silvera

Cantar Olá é a primeira faixa do CD e talvez seja uma das mais importantes que a gente já trabalhou. O álbum todo foi composto em viagens no Interior. Nós trabalhávamos juntos, viajando, e a gente acabou analisando muitas situações do dia a dia, conversando com muita gente. Existia uma proximidade, as coisas pequenas e bonitas que rolavam no Interior. Essa característica de empatia que você percebia. A música é um convite, uma porta de entrada. Tanto que a primeira frase é: “Vem e deixa eu te mostrar as coisas que juntei”. É a gente falando. Foi a faixa q mais nos ajudou, nos colocou pra tocar no Festival Mada, no Rio Grande do Norte”.

Luzes da Cidade nasceu mais no instrumental, não tinha uma letra tão pronta quando a gente se aproximava do fim da produção. Só que, um dia, o Victor (Calíope, vocalista) viu City Lights (Luzes da Cidade), do Charlie Chaplin numa madrugada. Mas antes de chegar em casa ele tinha dado uma volta no Estoril e prestou atenção na relação das pessoas. Ele fez algumas ligações do filme com o que viu no Estoril. No dia seguinte, ele já acordou com a letra pronta. Já foi direto pro microfone”.

Detetive é uma música que fala sobre uma relação muito massa da preocupação de uma mãe quando o filho está crescendo, começando a viajar. É basicamente a relação de uma mãe, uma relação de detetive. Desde quando o cara tá aprendendo a dirigir, passando pelos amores. A gente brinca que toda mãe tem um mural mental onde ela vai guardando as lembranças”.

Estrela é a única música do disco que fala mais de amor. Ela tem um estilo meio rockabilly, puxa mais pro rock clássico. Fala sobre essa relação de uma menina mais adulta, centrada, que tá tentando dar jeito num cara desfocado, muito louco”.

De Cá pra Lá foi composta no final de 2013. Os nosso amigos que estavam no exterior falavam muito das belezas de fora e muita gente falava que lá era mais bonito do que aqui, que era tudo melhor. Foi um momento que a gente recebeu muitas mensagens de amigos dizendo que estavam morrendo de saudade da cidade natal porque tem o calor, a comida etc. A gente fala que dos lados de cá, as paredes são mais singelas, mas tem muita coisa que o olho não consegue enxergar. As paredes não são só tijolos, elas contam o que é o povo. Fala sobre não esquecer quem você é”.

Salgado é uma música q entrou também no final do disco. A gente pegou todas as relações que a gente teve e analisamos, desde relações amorosas, de amizades que são relações mais salgadas. Têm o seu tempero diferente”.

Essência é muito importante pra gente porque ela tá desde o começo da produção do disco, mas se reformulando. Era de um jeito e foi ganhando outras versões. Nós trabalhamos muito nela. Ela canta a saga dos messias, profetas, caras que realizaram grandes mudanças. A música faz uma metáfora dos caminhos desses profetas com os caminhos de quem segue um sonho”.

Bon Voyage é um dos momentos mais explosivos do show. É uma das que eu mais gosto de tocar. Fala sobre viver experiências com a própria energia. Por exemplo, o Victor, vocalista, é hiperativo. Ele tá sempre enérgico e passa isso pra gente. E muita gente pensa que isso é resultado de drogas. As pessoas não entendem. A música brinca com isso. Tem um momento que a música baixa, o som baixa, o ritmo baixa, e o Victor começa a falar sobre um alter ego dele mais denso. É como se fosse um monstro interno falando que nas horas em que estiver mais fraco ele vai dominar. Esse louco dentro de nós intitulamos de Jorge Bon Voyage”.

Dizabanda é mais uma brincadeira com desabar, e é também oque a banda diz. Às vezes as pessoas ficavam muito no celular e assistiam ao show assim. A gente sabe que é impossível as pessoas saírem do celular, mesmo sabendo que o nosso vocalista vive sem celular há dois anos, e isso ajudou muito na composição do disco”.

O Que Tu Tinhas tem dois entendimentos. Fala da política, que às vezes é abusiva e que constrói castelos e castelos. Fala muito desse cenário dos políticos que estão tão presos em seus castelos que não conseguem mais ver o outro lado, o lado da população. E não só isso. A música também fala desse duo de vivências. A banda toda mora e cresceu na periferia de Fortaleza. A vivência que a gente teve foi muito singular, de brincar na rua, um pouco de desprendimento material”.

Sem Nome e Ciranda são músicas que nasceram juntas, uma não funciona sem a outra. Elas contam sobre o começo da banda, da vontade de tocar nas casas de show mais badaladas da nossa cidade. As duas falam basicamente da história de uma banda independente e também de que o respeito deveria ser a todos, e não de quem você escolhe, como se fosse um troféu”.

Trigésima Terceira (Nibiru) talvez seja a música mais espiritual do disco. Ele todo tem essa pegada, a gente se apega muito ao nosso equilíbrio espiritual. Todas as músicas falam sobre viver coisas boas e viver coisas boas. É uma vibe muito de auto compreensão. Não dá pra eu comentar o que ela significa, porque as pessoas precisam entender o que essa música significa pra elas. É uma música que não tocamos em todos os shows”.

About the Author

Rubens Rodrigues

Jornalista. Na equipe do O POVO desde 2015. Em 2018, criou o podcast Fora da Ordem e integrou as equipes que venceram o Prêmio Gandhi de Comunicação e o Prêmio CDL de Comunicação. Em 2019, assinou a organização da antologia "Relicário". Estudou Comunicação em Música na OnStage Lab (SP) e é pós-graduando em Jornalismo Digital pela Estácio de Sá.

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