Álbum de estreia produzido por Carlos Eduardo Miranda tem participações de Emmily Barreto, da banda Far From Alaska, e Anderson Kratsch, da Marrero (Foto: Daniel Mangualde)

Os riffs de guitarra pesados que formam o rock’n’roll da Mad Monkees ganharam ainda mais projeção em abril deste ano. Eles lançaram o álbum autointitulado, o primeiro do grupo, com 10 faixas e participação de Emmily Barreto (Far From Alaska) e Anderson Kratsch (Marrero). O álbum foi produzido por Carlos Eduardo Miranda, nome por trás de bandas como Raimundos, O Rappa, Mundo Livre SA e Skank.

O disco surge dois anos após o primeiro EP, que inclui a faixa “Faces of Giulty”, a primeira composta pelo grupo. “A raiz da banda se deu a partir dela”, conta o vocal e guitarrista Felipe Cazaux. “Na época, nós fizemos essa música pro meu trabalho solo. Os meninos tocavam comigo e a gente começou a achar que ela não se encaixava muito com aquele trabalho de blues”.

Felipe já contava com Hamilton de Castro e Capoo Polacco como parceiros de palco enquanto músico solo no segmento do blues, carreira que construiu há, pelo menos, 10 anos. Hamilton e Polacco são, respectivamente, baixista e guitarrista da Mad Monkees. “Começamos a pensar em um estilo interessante que a gente queria seguir. Fizemos uns shows com o PH na noite de Fortaleza. Gostei muito dele tocando e era o estilo que a gente procurava para banda. Daí surgiu o Mad Monkees“, relembra.

“Foi menos de dois anos depois do EP que a gente lançou e o disco. Já estávamos compondo as músicas e tem aquela história de que o EP chegou na mão do Miranda, ele curtiu, a gente começou a conversar. Aí já começou a pré-produção”, diz Felipe sobre o contato que ocorreu nos primeiros meses de 2016. O baterista PH Barcellos diz que o produtor lançou luz sobre o futuro dos rapazes. “A nossa ideia era fazer outro EP, mas quando apareceu o Miranda e entramos em estúdio veio a ideia de fazer um álbum mesmo”.

Gravado no estúdio Rootsans, em São Paulo, em aproximadamente 20 dias, o disco contou ainda com trabalhos do engenheiro de som e vencedor do Grammy Latino Rodrigo Sanches. A masterização do álbum é de Randy Merrill, do estúdio Sterling Sound, que já trabalhou com gente como Metallica, Lady Gaga e Rolling Stones. A Mad Monkees já passou por festivais locais como Maloca Dragão, Ponto CE e Feira da Música, além do tradicional Festival DoSol, no Rio Grande do Norte.

Faixa a faixa: Mad Monkees (2017) – Mad Monkees
Por Felipe Cazaux e PH Barcellos

Bombman 

Felipe Cazaux: “Bombman trata dos homens-bomba, basicamente. E foi depois do atentado ao show da Eagles of Death Metal no Bataclan, em Paris. E depois aconteceu uma série de explosões. Foram tantas nesses últimos tempos. Infelizmente é uma coisa que acontece ainda corriqueiramente. E apesar de ela parecer que fala de alguém que seja muçulmano ou algo desse tipo, na real a gente não tem esse tipo de preconceito. Não acredito que é a religião que faz isso. Acredito que o fanatismo faz isso com as pessoas. A letra fala sobre essa questão política, de você ter um exército religioso que lhe incentiva a tirar a vida das pessoas. É uma música forte, com influências de Megadeth e Stone Temple Pilots“.

PH Barcellos: “E no primeiro momento também a gente ficou até com medo de como as pessoas interpretariam essa música, de que esse entendimento entre ser crítica ou apoio ficasse frágil. É uma das mais massa de tocar. E é a que dá a cara do que vai ser o disco”.

Monkee Business 

Cazaux: “Monkee Business tem uma tiração de onda como esse termo que é muito usado pelos americanos, geralmente quando se é enganado por alguém. É como se fosse um negócio da China, uma cilada. Fala da sensação que a gente tava quando começou a banda, que era uma coisa que a gente queria fazer, mas encontrávamos problemas para continuar. Eram problemas psicológicos, familiares, financeiros”.

PH: “Problemas de relacionamento também, no começo. É uma banda de rock, então você imagina que todo mundo tem uma personalidade casca grossa. A gente tinha tretas logo no começo”.

I Cannot Feel (feat. Emmily Barreto)

Cazaux: “Eu tinha essa sensação de que quando eu tocava, as pessoas não necessariamente sentiam a mesma coisa que eu sinto, mas que elas também tinham algum tipo de conexão com o som. Fala sobre você saber que está transmitido, por meio da arte, algum tipo de sensação. É a música mais pop do disco porque tem um refrão bem pegajoso. E a gente não sabia se ia entrar no disco, a gente acreditava que não ia rolar. Durante as gravações até descobrimos que era uma das preferidas do Miranda”.

PH: “Ela tinha outra pegada. O Miranda falou que tinha que ser mais porrada, mais pra frente. (Miranda:) ‘Tem que pulsar mais porque desse jeito tá muito Legião Urbana. Pulsa ela do jeito que der’. E acabou que é uma balada, mas não destoa do resto do disco. O refrão dela tem bastante influência das coisas mais novas do Black Keys”.

Profit Over Doom

Cazaux: “A música fala sobre guerra. Até mesmo sobre a maneira que a gente vive hoje em dia e a maneira que a sociedade é construída. De você ver que muita gente se dá, obtém lucro, sobre a desgraça de outras pessoas. Profit Over Doom é isso, lucro sobre as pessoas. Sobre a destruição. Infelizmente, a gente vê isso até hoje em tudo que é lugar, no Rio de Janeiro, aqui em Fortaleza. Estamos numa coisa de 2ª Guerra Fria, numa tensão de guerra ou não. Afinal, guerra serve pra quem ganha dinheiro, ganhar mais dinheiro. Não existe mais guerra por território. O mesmo cara que vende arma pro exército de Israel é o cara que vende pro Estado Islâmico”.

Try Harder

Cazaux: “Fala sobre as dificuldades. Sobre você tentar de novo, de novo e de novo. De não desistir, continuar seguindo em frente por um sonho que você acredita. É uma letra bem pessoal”.

PH: “Pessoal mas nem tanto. Como dá pra ver a banda não tem uma faixa de idade tão jovem. Já temos bastante tempo de música, então todo mundo compartilha nessa ideia. Só o Felipe tem 10 anos só de trabalho solo. Mas é uma música otimista. E é a única que tem uma pegada hard rock. Ela pulsa diferente de todas as outras músicas”.

Demons and Angels

Cazaux: “É basicamente o mesmo tema de Monkee Business. Fala dos demônios e anjos que a gente vê todos os dias. E ela fala dessas dificuldades de você realizar o seu sonho muitas vezes sem apoio direto de quem você gosta, ou das pessoas que você convive. Ela fala que todo mundo tem seus anjos e demônios. O refrão é meio que um grito pra Deus mesmo. Uma parada mais forte mesmo, sempre me colocando em situações que eu não vejo como vou conseguir vencer. Sempre dificuldades, uma atrás da outra. É um grito nesse sentido. O ser humano tentando ultrapassar a barreira das dificuldades para chegar no paraíso”.

Loverself

Cazaux: “Fala sobre alguém que não sabe amar, que nunca conseguiu amor. Alguém que só pensa em si mesmo. Alguém egoísta ao ponto de não entender que precisa de outras pessoas para ser feliz. É bem direta”.

PH: “E foi uma das faixas que o Miranda mais curtiu no primeiro momento”.

Scars

Cazaux: “Scars tem uma letra que fala sobre abandono. Sobre animais abandonados. O refrão dela é bem interessante porque fala: ‘não vou desaparecer, não vou a lugar nenhum’. É para lembrar que essas coisas existem. Também é sobre a população mais pobre. Nada vai mudar até que um dia você tome uma atitude. Muitas pessoas se incomodam com os animais abandonas, com a pobreza, mas não tomam atitudes”.

Cold Sparkle (feat. Anderson Kratsch)

Cazaux: “É uma música que é muito depressiva, cara. Eu tava na merda, entendeu? Tava me sentindo um lixo. Cold Sparkle é uma estrela que tem o brilho frio. É como se ela piscasse, mas nunca conseguisse chegar ao seu auge. Era como eu tava me sentindo na época. Ela tem essa sensação. De todas, é a música mais grunge na letra, é bem down. Apesar de ter um groove bem gostoso, dançante. A letra é depressiva, mas a música é pra cima. É forte”.

Scream

Cazaux: “Fala sobre não deixar as pessoas te fazerem mal, né. Sobre conseguir dar a volta por cima. Não importa quanto você sofra, você grita e joga seus males para fora. As suas aflições vão embora. A temática do disco passa muito por isso de ultrapassar barreiras. Passar por dificuldades para conseguir ter uma vida melhor”.

PH: “Ela é a última música do disco e é a ultima música do show também. É tipo assim, ‘brother, você já ouviu chibatada no ouvido e agora tem mais. Você não vai respirar até a gente parar” saca?”

Cazaux: “É uma das minhas favoritas. Queria que as pessoas dessem mais atenção à ela. Tenho um carinho especial. Me faz me sentir bem quando canto”.

About the Author

Rubens Rodrigues

Jornalista. Na equipe do O POVO desde 2015. Em 2018, criou o podcast Fora da Ordem e integrou as equipes que venceram o Prêmio Gandhi de Comunicação e o Prêmio CDL de Comunicação. Em 2019, assinou a organização da antologia "Relicário". Estudou Comunicação em Música na OnStage Lab (SP) e é pós-graduando em Jornalismo Digital pela Estácio de Sá.

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