Foto: Rafael Monteiro

Daniel Peixoto tem história em Fortaleza. Líder da extinta Montage, que pontualmente surge para um revival, lançou em maio deste ano seu segundo álbum de estúdio: Massa. Só no processo de produção do disco, foram quatro anos entre Rio de Janeiro e São Paulo, em estúdios diferentes e com colaboradores diferentes. As parcerias vão do DJ e produtor João Brasil, passando por Edson Cordeiro e o cearense Marcos Lessa. O disco é o sucessor de Mastigando Humanos, lançado em 2011.

Das 13 canções, o artista fortalezense assina 11. Todas autobiográficas, segundo Peixoto. Um retrato da sua vivência entre os anos 2013 e 2017. “Pensei nas pessoas que me inspiraram, amores do passado, do futuro, nos meus amigos, no meu filho e família. Além das pessoas que não são nenhuma dessas citadas, mas que você não tem como fugir delas”, explica. “A principal referência musical do disco é a eletrônica, mas dessa vez dei espaço pro reggae e samba. Sempre preservando um lado soturno que eu tenho no meu som, mesmo ele voltado para as pistas de dança”.

O primeiro single, “Crush (Manda Nude)”, foi lançado com clipe em junho do ano passado e tem direção dos cearenses Nicolas Gondim e Xuxu, com produção do próprio cantor. A partir de novembro próximo, ele lança um clipe por mês, todos já prontos para sair. “Colégio de Aplicação”, versão da música dos Novos Baianos, chega já em novembro. Depois é a vez de “Aura Negra”, composição do também cearense Jonnata Doll. Agora, Peixoto trabalha em seu próximo álbum: Iracema Som Sistema. A produção é de Gorky, que além de ter fundado o grupo Bonde do Rolê está por trás do sucesso de Pabllo Vittar.

Faixa a faixa: Massa (2017) – Daniel Peixoto
Por Daniel Peixoto

Permitido foi composta inspirada no reggae jamaicano. A letra fala da liberdade. Escrevi essa música pensando no meu filho, qual recado eu poderia deixar pra ele esse ano que o disco foi lançado e ele já teria oito anos, idade que pode entender tudo claramente. Musicalmente quis misturar o reggae com electro e pop. Adoro tocar essa nos shows!”

Colégio de aplicação é cover de uma faixa dos Novos Baianos. Escrita por Moraes Moreira, essa faixa foi produzida inicialmente para a coletânea Tinindo e Trincado, que compilava novos artistas da MPB em um álbum que homenageava os 40 anos da banda. A faixa ficou parecida com as demais do Massa e decidimos então inseri-la no disco. É o próximo single e já tem clipe gravado para ser lançado”.

“Escrevi Even If I’m Blind em 2009 para o meu primeiro disco, Mastigando Humanos, mas acabei arquivando. Tive nela a honra de trabalhar com um ídolo, o cantor Edson Cordeiro e foi a realização de um sonho. Edson foi um dos pioneiros do movimento queer na música nos anos 1990. A ideia da faixa foi misturar electro com ritmos africanos, com letra dor de cotovelo (risos)”.

Amigo do Tempo é a história da minha vida contada por meio de algumas metáforas. Musicalmente, a ideia era misturar samba com trap music e break beat”.

Crush (Manda Nude) é uma sátira a atual forma de paquera em tempos de cultura digital e redes sociais. Quem nunca fez isso que atire o primeiro nude (ainda dá tempo). Crush é minha música mais ouvida e baixada em todas as plataformas digitais e está em playlists oficiais em aplicativos como Deezer e Spotify. Produzida por João Brasil, dj e produtor carioca do hit “Michael Douglas” e “Moleque Transante”, sou muito fã do cara”.

“Recalque e Inveja eram as palavras da vez na cultura pop em 2015 (risos), quando eu escrevi a letra de Sertão Superstar. Todo mundo está sujeito a esse tipo de negatividade e quando se tem um trabalho público, como o meu, fica ainda mais forte. É uma resposta aos invejosos que mesmo contra a vontade deles eu vou seguir fazendo o meu”.

“A letra de Till the day is done fala de dançar pra esquecer os problemas, que é algo que eu sempre faço. Dançar, assim como cantar, leva os males pra longe, pelo menos naquele momento. A musica é inspirada em disco music e convidei Nayra Costa que tem a voz perfeita para esse tipo de som! Essa música faz parte da trilha sonora do premiado documentário Waint for B“.

Aura Negra foi escrita pelo Jonnata Doll e debocha da sociedade politicamente correta. Musicalmente eu quis preservar a sonoridade que Jonnata trabalha a muitos anos que é o punk rock! Essa faixa também jé tem clipe gravado esperando a hora certa de ser lançado”.

https://blogs.opovo.com.br/reporterentrelinhas/faixa-faixa-jonnata-doll-e-os-garotos-solventes-comenta-o-album-crocodilo/

Tua boca é a música safadinha do disco, com letra maliciosa e algumas referências sexuais. Foi inspirada no post punk e dark wave dos anos 1970 e 1980″.

Massa, a faixa título do disco, tem uma poesia parecida com a de “Permitido”. São as mesmas referências ao reggae e sua filosofia. Convidei a rappper carioca Bebeu du Guetto pra dividir a letra e vocais comigo! Pra quem não a conhece eu indico aqui o seu trabalho. Ela é maravilhosa”.

Vai dar certo mistura elementos de electro com referências a pontos de macumba, algo que eu sempre costumo fazer. Sou admirador das religiões com matriz africana. A letra fala também da minha trajetória, mas diferentemente de “Amigo do tempo”, essa tem tom menos sério e mais bem humorado. Ela está na trilha sonora da série “Sou Amor”, ainda inédita e que vai passar no Canal Brasil ano que vem”.

Viva o louco foi a primeira letra que escrevi pensando nesse disco. Muito das demais composições foram influenciadas por essa, que fala de amor e respeito pelas diferenças. O som vem também de referências jamaicanas como dancehall. Eu tenho um carinho especial por essa música, confesso”.

Bodas de Marfim fala do fim de uma relação que não deu certo. Eu não tenho boas histórias de amor pra contar, então quando escrevo sobre relacionamentos é sempre sobre catástrofes (risos). Queria que essa música tivesse uma pegada rock n roll e por isso convidei a banda Lella para um featuring. É uma banda que eu gosto há muitos anos e que ultimamente tive muitas oportunidades de trabalhar e conviver com eles”.

About the Author

Rubens Rodrigues

Jornalista. Na equipe do O POVO desde 2015. Em 2018, criou o podcast Fora da Ordem e integrou as equipes que venceram o Prêmio Gandhi de Comunicação e o Prêmio CDL de Comunicação. Em 2019, assinou a organização da antologia "Relicário". Estudou Comunicação em Música na OnStage Lab (SP) e é pós-graduando em Jornalismo Digital pela Estácio de Sá.

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