O especialista em Shakespeare, Theófilo Silva, apresenta uma versão otimista do dramaturgo inglês sobre a humanidade

O escritor cearense Theófilo Silva, especialista em William Shakespeare, ministra nesta quinta (25), a palestra aberta “A Paixão Segundo Shakespeare”. A proposta do evento é resgatar o sentido maior da humanidade sob o olhar do genial dramaturgo inglês. A palestra ocorre na Livraria Cultura, às 19h.

“Decidi trazer para os cearenses a visão otimista de Shakespeare sobre a humanidade, refletindo sobre o sentimento que move todas as pessoas, independente de tempo ou condição: a paixão”, explica Theófilo, que é radicado há 20 anos em Brasília.

Apaixonado pela vida e obra do escritor inglês, Theófilo explica que a obra de Shakespeare o fez enxergar o mundo e os homens com olhos mais sábios. “Alargou a minha mente. A leitura das peças de Shakespeare tem a capacidade de ampliar nosso alcance e nossa capacidade de interpretar o mundo a partir de seus personagens que falam consigo mesmo”.

Na ocasião da palestra, será apresentado o projeto “Viajando com Shakespeare”, uma viagem cultural pela Itália shakespeariana, com o acompanhamento do escritor. O roteiro visita as cidades de Veneza, Verona, Florença, Pisa, Lucca e Roma. A viagem é organizada pela Tashi Delek Viagens em parceria com a Sociedade Shakespeare de Brasília e a Livraria Cultura.

Três perguntas sobre Shakespeare:

Qual a visão de Shakespeare sobre o homem?

Theófilo: Os afetos amor, ódio, soberba, ciúme, ambição, vaidade podem alterar nossas vidas, para o bem e para o mal. Por isso que Shakespeare amava o homem, ao ponto de sofrer com seus personagens trágicos Hamlet, Macbeth, Othelo, Rei Lear, Julieta. Ele diz em Hamlet: Que obra prima é o homem. Como é nobre pela razão. Como é infinito em faculdades. Como é divino e maravilhoso. Em forma e movimentos com se parece com um Deus. O paradigma dos animais. Para finalizar, digo que nós não lemos Shakespeare. Ele é que nós lê. E cito George Bernard Shaw: “Tenho muita pena de quem não lê Shakespeare”.

O que Shakespeare diria hoje sobre paixão no mundo em que vivemos os relacionamentos líquidos?

Theófilo: Vou partir da peça “A Tempestade”, uma das últimas de Shakespeare, em que ele diz que “Tudo que é sólido se desmancha no ar”, frase que foi usada por Karl Marx nas suas teses sobre o socialismo. O filósofo Zigmunt Bauman também diz em sua obra “Amor Líquido”, que vivemos tempos líquidos, que nada é pra durar. Ele fala das redes sociais, do mundo digital, formas de atenuar a solidão. Na verdade, eu diria que tanto Bauman quanto Marx estão ecoando Shakespeare. Shakespeare escreveu 39 peças teatrais, quatro poemas e 154 sonetos, usou um vocabulário de 21 mil palavras. O maior vocabulário entre todos os autores, e pôs os seus personagens em cima do palco para representarem a condição humana em toda sua complexidade e profundidade.

Em um determinado momento, em uma de suas comédias, ele diz pela boca de um de seus personagens que “As feridas que fazemos em nós mesmo cicatrizam-se mal. A ordem em fazer o necessário sela uma ordem ao perigo, e o perigo como uma enfermidade, penetra-nos sutilmente, mesmo que estejamos deitados indolentemente ao sol”. Ou seja, nós somos responsáveis por nossas próprias ações. Mas os personagens de Shakespeare trazem um diferencial para o ser humano: eles se entreouvem. Conversam consigo mesmo, por meios de seus solilóquios, monólogos e, ao conversarem consigo mesmos, eles mudam suas naturezas. Tornam-se livres artistas de si mesmos, para usar uma definição de Hegel. Por isso que Shakespeare é tão encenado. Por isso que a cada 4 horas um Macbeth é encenado no mundo.

O que ainda o surpreende na obra de shakespeariana?

Theófilo: Sua atualidade. Que os dramas que enfrentamos todos os dias no mundo estejam escritos em suas peças. Esse é o segredo que faz com que ele permaneça atual. É importante dizer que Shakespeare é o maior verbete da Internet, no Google e Yahoo ou qualquer outro site de busca. São mais de 150 milhões de páginas à disposição do leitor. Nenhum outro autor, cantor, político, qualquer homem ou mulher tem um acervo tão grande disponível. Tão vasta é a área de interesse que a obra de Shakespeare desperta em todas as áreas do conhecimento humano. Somente sobre Hamlet foram escritos mais de 35 mil livros, teses, estudos etc. Ou seja, bibliotecas inteiras.

Sobre Theófilo Silva

Theófilo é criador da Sociedade Shakespeare de Brasília, membro da Shakespeare Tavern de Atlanta, nos Estados Unidos e administrador da fanpage “Shakespeare Indignado”.

É também autor de três livros sobre o tema: A Paixão Segundo Shakespeare (2010), Shakespeare Indignado (2012) e Shakespeare 400 anos: um olhar brasileiro – O Mundo é um Palco (2016). Este último, em coautoria, é uma coletânea de ensaios com a participação de Fernanda Montenegro, Gustavo Franco, Liana Leão, Joaquim Falcão, José Roberto de Castro Neves, José Ernesto Bologna.

 

Serviço:

O que: “A Paixão Segundo Shakespeare”, com o escritor Theófilo Silva

Onde: Livraria Cultura, Av. Dom Luis, 1010

Quando: Quinta (25/01), às 19h

Informações: (85) 3241.5822 / (85) 99944.3137

Ingresso: 01 kg de alimento não perecível que será doado para as crianças da Casa Betânia

 

 

About the Author

Rubens Rodrigues

Jornalista. Na equipe do O POVO desde 2015. Em 2018, criou o podcast Fora da Ordem e integrou as equipes que venceram o Prêmio Gandhi de Comunicação e o Prêmio CDL de Comunicação. Em 2019, assinou a organização da antologia "Relicário". Estudou Comunicação em Música na OnStage Lab (SP) e é pós-graduando em Jornalismo Digital pela Estácio de Sá.

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