(Foto: Tim Tronckoe)

São quase 16 anos desde que o cantor, compositor e instrumentista neerlandês Mark Jansen deixou o After Forever, grupo que ajudou a construir, para fundar outro que se tornaria uma das mais respeitadas bandas de metal sinfônico. Em 2003, o álbum The Phantom Agony ganhava o mundo e anunciava a estreia do Epica. Neste sábado, 17, o grupo se apresenta pela primeira vez em Fortaleza, no Espaço Jangada, com ingressos de R$ 150 a R$ 500.

Em entrevista ao Blog, Mark Jansen fala sobre a trajetória da banda, religião, a possibilidade de uma colaboração com Amy Lee, do Evanescence, e até feminismo – já que algumas perguntas foram, originalmente, direcionadas à vocalista Simone Simons. Confira.

Em 16 anos de banda, como você vê o caminho do Epica, “The Phantom Agony” até aqui?

Tem sido uma jornada e tanto! Nós realizamos quase todos os nossos objetivos e vivemos momentos bonitos.

“The Holographic Principle” soa bem diferente do “The Phantom Agony”. A que você atribui essas mudanças na sonoridade?

Primeiro de tudo, os novos membros da banda trouxeram novas influências. Depois, vem a diferença entre nosso produtor antigo, Sasha Paeth, o atual, Joost van den Broek. Ambos são produtores fantásticos e com abordagens diferentes. Em terceiro lugar vem toda a nossa experiência. Você aprende coisas no meio do caminho e adapta elas à sua música.

Religião e espiritualidade são temas presentes nos álbuns. Você é religioso? Como é sua relação com esse tema?

Eu acredito em Deus, mas não do jeito que a maioria das pessoas acreditam. Não gosto da forma como certas religiões oprimem as pessoas, pegam seu dinheiro e fazem terror. Não é assim que as coisas são. Eu sei que todo mundo tem o potencial de intuitivamente saber o que é real e o que não é. No fundo, todos nós sentimos quem realmente somos. A maioria das pessoas não ousa ou não quer olhar para dentro e apenas continua ouvindo as vozes irritantes que nos dizem o que fazer, como melhorar, como fazer mais dinheiro, como permanecer bonito e como ter inveja de quem tem mais. Deus, para mim, é algo que não pode ser descrito com as palavras, você só consegue sentir. Mas se eu tiver que tentar, direi que é o total de toda consciência e amor e criação. E eu acredito que todos nós somos parte disso, eu quero dizer todo mundo, não importa se você acredita ou não. No fim, todos somos um só.

De certa forma, você vê o Epica como um espaço para questionamentos e respostas sobre a vida?

Vejo minhas letras como uma ótima e poderosa ferramenta para enviar uma mensagem. Quem se sentir atraído a essa mensagem pode encontrar mais informação e começar sua própria busca. Eu amo compartilhar coisas que vêm no meu caminho e eu sou muito feliz que muitos fãs se sentem inspirados.

Ano passado, a Simone Simons conheceu a Amy Lee e até gravaram stories no Instagram. Muitos fãs especularam uma parceria. Nós podemos esperar uma colaboração algum dia?

Essa é uma opção, definitivamente. Nós faremos se houver a chance de fazer acontecer. Mas nós sempre seguimos o fluxo, não há necessidade de forçar. As coisas têm que acontecer naturalmente, assim como os stories do Instagram.

No Brasil, feminismo é um assunto muito debatido. Gostaria de saber se Simone Simons é feminista e como vocês vêm esse debate.

Essa provavelmente seria uma pergunta para a Simone, mas eu peguei essa entrevista então darei meu ponto de vista. Concordo que as mulheres devem receber o mesmo valor em dinheiro que os homens são pagos por um trabalho e deveriam trabalhar em um ambiente seguro. Muitas empresas são pensadas para o homem. Acredito que o bom equilíbrio entre feminino e masculino leva aos melhores resultados. Deve haver, pelo menos, um respeito mútuo. No entanto, algumas feministas ficam tão fanáticas que se tornam extremistas e só fazem o melhor para outras mulheres e odeiam homens. Esse tipo de feminismo vai muito longe e perde o ponto. Equilíbrio é a chave, como tudo na vida.

Metal tem sido um gênero dominado por homens durante bastante tempo. Hoje, existem muitas mulheres respeitadas no metal. Vocês já sentiram algum preconceito por ter uma mulher em posição de destaque?

Simone dificilmente tem que enfrentar algum preconceito. Ela é uma mulher forte e consegue se defender muito bem. Apenas uma vez nós fomos chutados de um festival na Indonésia porque um patrocinador não queria uma banda em que uma mulher tivesse papel tão importante. Isso mostra que ainda temos muito o que progredir.

Epica usa expressões como “excelência, poder e ambição” para se descrever em suas páginas oficiais. Você não têm medo de soar pretensioso?

Essas palavras geralmente vêm de empresários e gravadoras. Eu definitivamente descreveria nossa música assim. Eu foco na arte, paixão pela música e em proporcionar aos fãs uma boa experiência. Outras pessoas estão focadas em vender. Um não existe sem o outro e, honestamente, confesso que ão sou grande fã dessas expressões.

As músicas do EP foram gravadas inicialmente para “The Holographic Principle”. Em que momento a banda percebeu que tinha muito mais material do que para apenas um álbum?

Nós sabíamos durante o processo que tínhamos muitas músicas, mas mesmo assim queríamos gravá-las. Isso também nos deu a luxuosa opção de poder escolher entre muitas músicas. Havia muitas possibilidades para o álbum e as músicas que ficaram de fora têm amesma qualidade, então decidimos mantê-las juntas.

“The Solace System”, “Immortal Melancholy” e “Decoded Poetry” ganharam clipes animados. Todas as músicas vão ganhar vídeo?

Não, é isso. Nosso objetivo eram três vídeos e nós concluímos.

Mesmo com tanto tempo de banda, é a primeira vez que vocês se apresentam em Fortaleza. Qual a importância de fazer show em uma cidade que nunca recebeu a banda?

Novos países e novas cidades são sempre divertidos e você nao sabe o que esperar. É uma aventura.

O que os fãs podem esperar para o show de Fortaleza?

Nós sempre nos dedicamos 100% e queremos interagir com o público para sentir a música juntos e festejar.

Íntegra da matéria publicada no Jornal O POVO.

About the Author

Rubens Rodrigues

Jornalista. Na equipe do O POVO desde 2015. Em 2018, criou o podcast Fora da Ordem e integrou as equipes que venceram o Prêmio Gandhi de Comunicação e o Prêmio CDL de Comunicação. Em 2019, assinou a organização da antologia "Relicário". Estudou Comunicação em Música na OnStage Lab (SP) e é pós-graduando em Jornalismo Digital pela Estácio de Sá.

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