Fachada do Cineteatro São Luiz orienta público a não sair de casa (Foto: Bárbara Moira/O POVO)

Trabalhadores da cultura do Ceará criaram um abaixo-assinado solicitando ações emergenciais e imediatas para conter consequências econômicas do novo coronavírus (Covid-19). A carta também foi enviada aos secretários da Cultura estadual e municipal, Fabiano Piúba (Secult) e Gilvan Paiva (Secultfor).

O setor é fortemente atingido com as medidas de isolamento social. Em conjunto com o Fórum de Produtores Culturais do Estado do Ceará, o grupo autointitulado Gabinete de Crise da Cultura/#TodosPelaCulturaCE sugere, ao todo, 16 propostas. Veja o texto completo e assine o abaixo-assinado aqui.

A primeira proposta é a realização imediata de um festival online com programação diária, das 17h às 22 horas, o Bora Ficar em Casa. Outra medida é manter a programação agendada para os próximos meses em todos os equipamentos culturais do Estado e do Município, com pagamento dos cachês e transmissão pela internet.

O Gabinete de Crise da Cultura também sugere o pagamento imediato de todos os compromissos financeiros em atraso por parte das Secretarias da Cultura do Município de Fortaleza e do Estado do Ceará, incluindo editais, cachês e contratos de serviço.

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O músico e produtor cultural Caike Falcão afirma que é fundamental que gestores tomem uma atitude para diminuir os impactos econômicos negativos da disseminação do novo coronavírus.

“Todos os artistas dependem de público, de bilheteria. Então, como trabalhar se não podemos sair de casa e juntar pessoas? Se eu não exercer minhas funções, não consigo comprar comida”, diz o guitarrista. “Tem companheiro de classe que está desesperado porque amanhã já não vai conseguir comprar água e não vai conseguir comer”.

“No nosso País, a cultura é tão desprezada quanto necessária”, pondera. Caike Falcão destaca que a indústria cultural abarca diversos profissionais que vivem disso. “Só no ramo de produção tem um leque absurdo de gente: roadie, técnico de som e de luz. É uma cadeia produtiva gigantesca que está desamparada”.

“Assim como eu, vários artistas dependem exclusivamente da sua arte para sobreviver. Em tempos de crise a gente tem que levantar outras ideias e possibilidades”, afirma a atriz e apresentadora Joana Limaverde. “Não adianta sobreviver ao coronavírus e não ter possibilidade de pagar um aluguel, fazer super mercado. Espero que dê certo e que essa iniciativa seja ampliada”.

Governador do Maranhão, Flávio Dino reconhece que um dos setores econômicos que já paralisou as atividades foi o de eventos culturais. “Para apoiar os artistas profissionais do Maranhão, faremos um edital especial para apresentações via internet. Bom para a economia da cultura, bom para nossos corações que tem fome de beleza”, afirmou.

O que diz o Município

Por meio de nota, a Secretaria Municipal da Cultura de Fortaleza (Secultfor) se coloca à disposição para debater possibilidades de articulação e informações aos trabalhadores da Cultura e informa que todos os procedimentos para pagamento de eventos que já aconteceram estão mantidos.

“Necessário dizer que para pagamentos pendentes basta que seja apresentada a documentação em conformidade com contratos de prestação de serviço. As atividades administrativas da própria pasta e dos equipamentos estão mantidas”, diz o texto.

Sobre manter atividades programadas para os próximos meses, a pasta defende que “o momento requer compreensão e consciência coletiva e que suspender as atividades neste momento é uma medida de cuidado com as pessoas e de prevenção da proliferação do coronavírus, mantendo-se à disposição para discutir com a classe artística propostas e estudos acerca dos impactos de suas atividades neste período”.

O que diz o Estado

A Secult, por outro lado, confirmou que recebeu a carta e que o documento está sendo analisado. O Estado criou um grupo de trabalho (GT) que vem se reunindo desde a última segunda-feira, 16, para definir ações que amenizem os impactos no campo artístico e cultural.

Conforme reunião por conferência online realizada nessa quinta, 19, a ideia é justamente fomentar produção de conteúdos para plataformas virtuais. Para isso, um projeto emergencial está sendo formulando.

Depois, o Estado deve dialogar com os fóruns de linguagens sobre a viabilização das ações, a serem lançadas via Edital, já no início da próxima semana, incluindo também ações imediatas, a serem realizadas a curto e médio prazos.

“Todas as ações são pensadas e executadas para cuidar melhor do nosso Estado, em atendimento ao Decreto Estadual Nº 33.510, de 16 de março de 2020 (que orienta sobre o enfrentamento e prevenção da infecção humana pelo novo Coronavírus)”, diz a nota da Secult.

About the Author

Rubens Rodrigues

Jornalista. Na equipe do O POVO desde 2015. Em 2018, criou o podcast Fora da Ordem e integrou as equipes que venceram o Prêmio Gandhi de Comunicação e o Prêmio CDL de Comunicação. Em 2019, assinou a organização da antologia "Relicário". Estudou Comunicação em Música na OnStage Lab (SP) e é pós-graduando em Jornalismo Digital pela Estácio de Sá.

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