Jonnata Doll e os Garotos Solventes (Foto: San Drô / Alessandro Medici)

De 1960 aos anos 2010. É esse o período que permeia Fortaleza Sônica: 50 Anos de Rock em Fortaleza, novo livro do músico George Frizzo. Há mais de 20 anos à frente da banda Siege of Hate (S.O.H), o artista está pronto para traçar uma biografia do rock na Capital cearense. Ele trabalha no livro previsto para, se tudo correr bem e a pandemia permitir, 2021.

A pesquisa traz a vivência do próprio Frizzo e de muitos outros artistas que fizeram a música acontecer nesse período. É inclusive pautada em recortes jornalísticos que o membro da S.O.H, que também é sociólogo e designer, começou a catalogar na transição dos anos 80 para os anos 90, quando fundou a banda Insanity.

Para o livro, mais 150 entrevistas foram realizadas. Vozes que ganham teor histórico ao serem entrelaçadas pelo autor. Fortaleza Sônica é o segundo livro de George Frizzo. O primeiro, Siege of Hate – Em Rota de Colisão, foi publicado em 2017 e conta histórias da S.O.H em turnês mundo a fora.

Frizzo falou sobre o primeiro livro no podcast Fora da Ordem

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Ambas as publicações, aliás, foram desenvolvidas simultaneamente, conforme Frizzo conta – junto a outras revelações sobre a obra – nesta que é a primeira entrevista sobre o livro. Para se ter uma ideia, a primeira entrevista foi realizada em agosto de 2012, com Dado Pinheiro, produtor cultural com trajetória marcada pelo Noise 3D, referência na cena underground.

Enquanto Fortaleza Sônica não chega, Frizzo publica pequenas memórias em perfis criados no Instagram e no Facebook para despertar a curiosidade do público.

Fora da Ordem: Como nasce o livro Fortaleza Sônica – 50 Anos de Rock em Fortaleza?

George Frizzo: Em 2009 eu fui morar na Alemanha, estudar, enfim…. Lá passei um tempo na casa de dois amigos brasileiros, David (que também tocou em banda aqui nos anos 90, a Virtueuse) e Josana, e a gente sempre conversava na cozinha. Ele foi muito ativo na cena alternativa, amigo de um monte de gente de outras bandas. Então, nesses papos a gente sempre relembrava dos shows, das tretas que rolavam, histórias bacanas de quando a gente tocava em nossas respectivas banda. E eu sempre pensava “essas histórias legais só estão nas nossas memórias e vão se perder com o tempo. Já já nem a gente vai lembrar mais delas”. A ideia do livro nasce dessas conversas na cozinha.

FDO: É antiga essa vontade de pesquisar a trajetória do rock na Capital?

Frizzo: Desde o momento em que comecei a me envolver com bandas, ainda no colégio no início dos anos 80, eu já tinha muito interesse no que acontecia no Rock. Eu ainda nem tocava em banda, mas já ia nos ensaios das bandas dos amigos, conversava sobre discos, ia nos shows de rock nacional em Fortaleza – RPM, Titãs – e era a informação que a gente tinha sobre Rock. Quando comecei a tocar, percebi que havia um submundo muito rico com novas bandas, casas de shows e um público ávido por aquilo. Nessa ritmo fui me envolvendo cada vez mais, fiz fanzines, produzi fitas demo de outras bandas, escrevi pra revistas especializadas, fiz material gráfico pra várias bandas, produzi shows. Desde o início fui guardando recortes de jornais com matérias que saíam sobre a minha banda, Insanity, e com o tempo também fui acompanhando outras bandas. Anos depois esse material me ajudou muito na pesquisa pro livro.

FDO: Você costura 50 anos de história. Como foi esse processo de pesquisa?

Frizzo: Começou com esses jornais que eu comecei a guardar da época do Insanity. Claro que minha própria vivência e meu círculo de amizades virou uma pesquisa empírica. Muita coisa eu já sabia ou tinha ouvido histórias de quem havia vivenciado. Essas histórias são a linha condutora do livro. No final das contas o resultado dessa pesquisa foi usada mais para conduzir as entrevistas e saber como eu poderia resgatar melhor as histórias dos personagens do livro.

FDO: Sobre quais personagens iremos ler no Fortaleza Sônica?

Foram feitas mais de 150 entrevistas. O Fortaleza Sônica começa em meados dos anos 60, com o surgimento das primeiras bandas de Rock em Fortaleza e segue década por década até 2010. Cada capítulo é o recorte de tempo de uma década específica. Abro espaço, na forma de uma história horal, para a voz dos personagens que fizeram parte dos grupos, bandas mais ativas em sua determinada época. Ao longo do livro essas vozes se entrelaçam como um bate papo e vão construindo a narrativa das histórias. O livro abre para o rock alternativo, para o heavy metal, punk rock, grupos mais undergrounds que foram relevantes e produtivos. Procurei os grupos que foram mais significativos em sua determinada década e segmento e, principalmente, que tiveram uma produção de autoria própria. Claro que muitas bandas boas, com boas histórias, ficaram de fora. O universo do rock em Fortaleza é rico e vasto.

Frizzo resgatando histórias com Jonnata Doll e Mario “Vigia” (Diagnose), no Porto Iracema das Artes, em julho de 2015 (Foto: Reprodução/Instagram)

FDO: Quando a história do rock em Fortaleza cruzou com a sua pela primeira vez?

Frizzo: Foi ainda no colégio, no fim dos anos 80, em duas ocasiões distintas mas muito importantes que me fizeram começar o gosto pelo rock. Esses dois momentos são descritos no livro. Um foi assistir ao ensaio de uma banda dos amigos do colégio, na garagem da casa de um deles, e o outro foi ter conhecido e conversado com o Alexandre “Gato”, conhecido skatista de Fortaleza, que fez parte de duas bandas importantes da cidade: Repressão X e Paranoia. Ele me deu muitas dicas de bandas e me avisava quando tinham os shows das bandas locais. A partir desses dois pontos foi só ladeira abaixo, literalmente (risos).

FDO: Em 2017 você lançou Siege of Hate: Em Rota de Colisão. Ter escrito um livro antes te ajudou nesse processo?

Frizzo: Definitivamente. Ajudou principalmente como começar a pensar na identidade do livro, formato, etc. Mas a verdade é que o Em Rota de Colisão e o Fortaleza Sônica foram sendo desenvolvidos simultaneamente, só que o do Siege of Hate só dependia de mim para ser escrito e montado. O Fortaleza Sônica demandou também da disponibilidade dos entrevistados além do tempo de pesquisa, e pelo escopo de todo o material que usei. Então ele tem levado um pouco mais de tempo pra ser concluído. Isso sem contar no elemento surpresa este ano, a Covid-19, que, acredito eu, atrapalhou a vida de muita gente.

FDO: Podemos dizer que, de certa forma, Fortaleza Sônica é um livro biográfico?

Frizzo: Exato, acredito que pode-se dizer que é uma biografia jornalística, mas não sei… Não sou muito por dentro do que define esses subgêneros literários. Fortaleza Sônica possui elementos jornalísticos, de pesquisa, da descrição geográfica, mas também existe esse teor passional nos depoimentos.

FDO: Em que fase está a produção do livro?

Frizzo: No momento, o livro está em processo de edição e revisão do texto.

FDO: O que você já pode adiantar sobre o lançamento?

Frizzo: Gostaria muito de poder lançar o Fortaleza Sônica em 2021, mas o momento não está muito propício para fazer planos, então não dá pra gente adiantar muito. A previsão seria ainda no primeiro semestre do ano que vem, mas ainda tem muito trabalho a ser feito e muitas coisas pra gente definir. Enquanto isso não se define, comecei a promover o livro pelas redes sociais, criando o perfil @fortalezasonica no Instagram e no Facebook. Vou publicando algumas curiosidades sobre o Rock em Fortaleza. É uma forma de ir apresentando os artistas que estão presentes no livro. Pretendo também, em breve, criar um mailing pra ir me comunicando diretamente com as pessoas interessadas no livro, então quem tiver interesse e já quiser garantir sua cópia do livro é só escrever pra o e-mail fortalezasonica@gmail.com que vou atualizando o processo de produção do livro e aviso quando ele estiver na pré-venda.

About the Author

Rubens Rodrigues

Jornalista. Na equipe do O POVO desde 2015. Em 2018, criou o podcast Fora da Ordem e integrou as equipes que venceram o Prêmio Gandhi de Comunicação e o Prêmio CDL de Comunicação. Em 2019, assinou a organização da antologia "Relicário". Estudou Comunicação em Música na OnStage Lab (SP) e é pós-graduando em Jornalismo Digital pela Estácio de Sá.

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