Por Raisa Arruda – psicóloga, blogueira e colunista do iMãe
Parece fácil quando pensamos que somos mamíferas, e que nosso corpo produz leite suficiente para alimentar nossas crias, e até seria, se fôssemos apenas instinto, o choro do nosso bebê não nos traria dúvida alguma sobre o que fazer, sobre como colocar no peito, e nos daria toda certeza que precisamos de que nosso leite é o suficiente até determinado período, e ele desmamaria fácil, como acontece com todos os mamíferos, mas a coisa não acontece assim, tão simples.
amamentar
O instinto é um ímpeto que leva a satisfação através da ação, mas o que acontece é que o instinto passa por uma modificação causada pela cultura, que barra o ímpeto. De uma forma simples e geral, vem a força em busca de satisfação (sim, amamentar também é satisfação) e dependendo de como essa força (desejo) foi construída no decorrer da vida da mulher, dependendo da maneira como foi barrada, como foi transformada, por conta da cultura e suas normas, amamentar vai ser algo simples, ou extremamente difícil.
Essa dificuldade tem relação com a maneira como a mulher se relaciona com seu próprio corpo, seus desejos e seus medos. Vivemos numa sociedade em que o corpo é proibido, ter uma relação de amor e liberdade com o próprio corpo é um tabu, principalmente para a mulher, tocar-se e conhecer o próprio corpo causa vergonha, medo, para algumas é um ato transgressor. E a maternidade é uma transformação complexa, do corpo, e da relação da mulher com esse corpo que media a relação dela com o mundo.
É do corpo que sai o ímpeto de satisfação, e para ele que esse ímpeto retorna, e quando não é satisfeito, vem os sintomas, que são maneiras de alcançar a satisfação indiretamente, mesmo que esse sintoma seja o total oposto do que o desejo buscava, por exemplo: uma mulher pode desejar inconscientemente amamentar, mas ela não consegue de forma alguma dar de mamar. E como o desejo de amamentar é inconsciente, ela não se dá conta desse desejo, talvez, sempre que esse desejo vem, o sintoma aparece, pois o desejo não pode se tornar consciente, por uma série de razões que só a história de vida dessa mulher irá dizer, e razões que só serão descobertas num processo de análise onde a mulher vai escavar sua vida, sua história, e a construção do seu sintoma…
Claro que os sintomas são os mais diversos, e cada mulher vai apresentar de uma maneira diferente e por razões únicas, particulares. A dificuldade de amamentar vai se constituir de uma maneira bem particular para cada uma, para algumas o apoio e incentivo, que é fundamental, será o suficiente para conseguir levar em frente; para outras, apesar de todo apoio e incentivo, ainda assim é extremamente difícil, por questões próprias.
A dificuldade de amamentar é uma questão muito recorrente, no Brasil a média de amamentação exclusiva é de apenas 28 dias, são muitos imperativos culturais sobre corpo da mulher, e tantas proibições em cima desse corpo. Além de questões de mercado e consumo, onde é melhor que as mulheres continuem inseguras com sua produção de leite, e que os mitos sobre amamentação perpetuem por conta do mercado… É, isso deve ser refletido também, porque isso é cultura, consumo é mercado, e constrói comportamentos.
A amamentação não é prazerosa apenas para o bebê, a mãe também obtém satisfação nesse ato, pois é uma nova ligação que preenche o vazio que fica após o nascimento. Quando o cordão é cortado, e a criança se separa da mãe, é através da amamentação que a criança e mãe retornam essa ligação. Além, claro, das questões nutricionais, que são imprescindíveis!
Outro fator que torna a amamentação importante para além da sua importância nutritiva é o momento. Amamentar é um momento de comunicação entre mão e bebê único, onde a criança se vê refletida no olhar da mãe, onde a mãe tem tempo de conhecer seu bebê, muitas mães nesse momento reconhecem seu bebê, transmitem seu amor. Ouço de várias mães o quanto elas se emocionam quando recebem o olhar de ternura de seus bebês, enquanto amamentam.
Sabendo disso tudo, se faz importante que cada mulher questione seus motivos, reflita sobre sua história, converse a respeito, exponha seus medos, e entre em contato com seus fantasmas! Buscar apoio em grupos de gestantes, grupos de mães, apoio psicológico, acompanhamento na amamentação são formas de tentar lidar com isso de maneira menos dolorosa. Já que o desejo de amamentar existe na maioria das mulheres, e por conta de todos esses motivos explicados acima, muitas não conseguem, e carregam culpa por não terem conseguido.
Claro que não amamentar não faz da mulher uma mãe pior, ou ruim por isso, vivemos sob vários chamados culturais que dificultam e impedem a mulher de conseguirem sentir-se inteiras e capazes para isso. Nossa sociedade ainda relaciona aquilo que é pertinente do feminino, como fracasso ou fraqueza, e muitas mulheres temem assumir sua maternidade, por medo do mercado de trabalho, medo de não conseguir dar conta do que são solicitadas pelo mundo… Mas tenham em mente que essa solicitação nem sempre é justa, a imagem que constroem da mulher que trabalha e tem filhos nem sempre condiz com a realidade possível e humana. Encontrar soluções é urgente e necessário, pois implica na primeira infância também.
Amamentar é um ato de amor, por ser uma forma da mãe comunicar seu amor e seu desejo pelo seu filho, mas todos os cuidados que a mãe dá ao seu bebê, todo toque, todo olhar, toda fala carinhosa e terna dirigida a ele, também expressam seu amor e desejo pelo seu bebê.
Raisa Pinheiro Arruda
Psicóloga Clínica/Assessoria em Psicologia Escolar
(85)99221192

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About the Author

Carol Bedê

Jornalista. Mãe da Laís e do Vinícius. Já quis ser muita coisa...depois de terminar a faculdade de letras, uma especialização e a faculdade de comunicação social (jornalismo), de uma coisa tive certeza: o que eu quero mesmo é escrever. Já escrevi sobre muitos assuntos. Tentei até fazer poesia, mas nunca achava que conseguia. Depois de ser mãe resolvi escrever sobre ser mãe, sobre bebês, sobre crianças e sobre esse mundo. E só agora acho que consigo fazer poesia.

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