Por Luana Braga*
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Elogio sobre a alma
Ele havia adorado-me a alma. Disse-me isso.
Juro.
Nunca havia recebido tal elogio. Era o que me faltava, pensei.
Agora, perguntou-me, o que te falta. O que te falta, disse-me. O que me falta. Precisei pensar. Parar e pensar. O que me faltava. Nada parecia me faltar. Respirei.
Me falta:
para agora mesmo:
xampu para lavar os cabelos;
chá — basta-me um saquinho;
e iogurte de chocolate — que amo.
Me falta:
para breve:
alguém com quem dividir meu silêncio;
Saramago estar aqui, ao meu lado, para lhe fazer umas algumas perguntas;
alguém com mãos boas para carinhos nas costas;
estar na praia agora à noite.
Me falta:
para depois:
tirar a roupa e nadar no mar, ainda agora à noite, assim que na praia chegasse;
adormecer com os carinhos nas costas — e ao som da voz do Saramago;
creme para os cabelos, para depois de lavá-los com o xampu.
Mas, para antes:
me falta:
receber um elogio sobre minha alma.
Mas, agora, não:
agora, não faltava mais nada.
***
Luana Braga
Nascida em Fortaleza, Luana escreve poesias desde os seis anos de idade, quando teve um de seus poemas publicados no jornal. Desde então, só tem crescido nos seus escritos, tendo culminado num vídeo-poema, “Carnaval em mim”, de 2018 (Maré Alta Filmes), e numa música, “Samba do Desengano”, de 2018 (parceria com Joyce Custódio). Apresenta-se regularmente em saraus pela cidade de Fortaleza, como o Sarau da Lamarca (na Livraria Lamarca), Sarau da Taipa (no Pirambu) e Sarau da Gentilândia (Gentilândia Bar). É arquiteta. Possui uma mente artisticamente fértil, observa o mundo encantada com tudo e fala com o corpo todo. Faz café forte e não consegue ficar parada, mesmo se o seu pé estiver quebrado. Habita o mundo com Olivia, sua filha, e acredita que seu Marte em Capricórnio e seu Meio-do-Céu em Áries lhe impulsionam o tempo todo. Publica suas ousadices em fotogramas poéticos ressignificados. Luana Braga é a própria insólita viagem (@insolitaviagem no Instagram).
