Quem também compareceu hoje para falar aos estudantes de Jornalismo dos Novos Talentos O POVO foi o deputado Heitor Férrer [PDT], um oposicionista sui generis, segundo se pode depreender de suas palavras.

Ele é um dos únicos deputados estaduais a contrariar decisões emanadas do governo estadual e a cobrar transparência, explicações e prestação de contas do governador Cid Gomes [PSB]

Primeiro, ele diz que um oposicionista não pode “nem se apaixonar” e “nem odiar” o governo que terá de fiscalizar. “O apaixonado não vê defeitos e quem odeia vê defeito em tudo”.

Depois afirma que um deputado, por força da Constituição, foi eleito para ser “isento”, e que para isso tem de se valer de sua consciência, do senso de justiça e do interesse público.

Para ele, um parlamentar deveria ser proibido de ser nomeado para um cargo no Executivo. “Quem é eleito para fiscalizar não pode ser fiscalizado”.

“Meu modus operandi baseia-se na justiça”, resume

Vai mais além

Defende que a principal atividade de um parlamentar deve ser a fiscalização do poder, “porque o Brasil é um dos países mais corruptos do mundo”.

Afirma que os partidos são a principal fonte de corrupção. “Os partidos existem para barganhar cargos no governo”. Diz que os cargos de confiança são distribuídos para que “os partidos se calem diante das coisas mais atrozes”.

Enumera: na Inglaterra, o Primeiro Ministro nomeia 107 pessoas de confiança; nos Estados Unidos são 7.000.  E que “só” Luizianne Lins [prefeita de Fortaleza, PT] nomeia 4.000; Cid nomeia 7.000 e Lula nomeia 24 mil cargos de confiança.

“Para quê?”, pergunta, e ele mesmo responde: “Para ‘adocicar’ os partidos – e muitos usam os cargos para patrocinar corrupção”. É por isso, diz, “que se criou no Brasil um sistema para todos fazerem parte da ‘base aliada'”.

É radical: “Queria ser mais estudioso para fundamentar uma tese de que não precisamos de partidos políticos, pois eles só existem para barganhar cargos”.

Transparência

Para Heitor Férrer, a maior dificuldade que os deputados enfrentam para exercer o papel fiscalizador do governo Cid Gomes é “a falta de transparência”. Cita que lhe foi negado pedido de ter acesso aos detalhes do gasto de manutenção dos carros do projeto Ronda do Quarteirão – um valor de R$ 21 milhões, equivalente a R$ 28 mil/ano para cada Hilux 4×4 utilizada no programa. [A maioria dos deputados, aliados do governo, votaram contra o requerimento.] Teriam lhe negado também acesso a detalhes da reforma de uma delegacia, ao preço de R$ 400 mil.

Lembra que foi o seu alerta que conseguiu sustar a reforma do Palácio da Abolição, ao preço de R$ 37 milhões, com cada torneira custando R$ 2.045. Foi feita novo edital de licitação, que ficou por R$ 19 milhões, “ainda considero o valor alto”.

Falou também do famoso caso do jato fretado em que o governador viajou para a Europa levando a sogra e mulheres de secretários, dizendo que os deputados situacionistas foram “mais realistas do que o rei” ao defenderam Cid gomes. Para o deputado, Cid teria reconhecido o erro, pois “nunca mais” fretou avião para as suas viagens ao exterior. “Se dependesse dos deputados aliados, ele ainda estaria fazendo a mesma coisa, pois eles não viram nada demais”.

Mensagens

Por fim, revelou o seguinte, para provar que faz oposição de modo isento: das 107 mensagens que o governo estadual enviou à Assembléia Legislativa, votou favoravelmente a 102 delas. Ou seja, Heitor Férrer é um oposicionista que votou 95,32% das vezes com o governo.

Mas vou contar um negócio para vocês: nessas outras cinco vezes, o deputado da oposição solitária fez bastante barulho.