Meu artigo semana, publicado na edição de hoje (15/7/2010) do O POVO.

Brasil brasileiro
Plínio Bortolotti

O POVO, na edição de ontem, noticiou que 400 mil pessoas saíram da “linha de indigência” no Ceará, em um ano. E que, em cinco anos (2003-2008), 1,335 milhão de cearenses superaram a “linha de pobreza”. Ainda existe número inaceitável de pobres no estado, mais da metade da população: 51,1% (2008), mas eram 69,19% em 1998.

O mais importante são duas coisas: a) caiu o mito delfiniano de que “primeiro é preciso fazer crescer o bolo para depois dividi-lo”, pois o Brasil cresce com distribuição de renda; b) a redução da pobreza é sustentável, baseada no crescimento da economia e não somente em programas de transferência de renda – conforme o professor Marcelo Neri, chefe do Centro de Políticas Sociais da FGV.

A Lei da Ficha Limpa, vocês sabem, saiu por mobilização exemplar de organizações da sociedade civil, que coletaram 1,300 milhão de assinaturas, o que fez com que o projeto tramitasse rapidamente no Congresso Nacional, sem que nenhum parlamentar ousasse questionar a sua essência.

Começou-se, porém, questionamentos se a lei valeria para as eleições deste ano. Alguns “fichas sujas” conseguiram liminar para registrar suas candidaturas.

Em entrevista para o jornal Folha de S. Paulo (11/7/2010), o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Ricardo Lewandowski disse que o adiamento da validade da lei seria uma “frustração para a sociedade”, no que ele tem razão. Mas alertou: “Aqueles que não tenham ficha limpa farão a campanha por sua própria conta e risco”, afirmando, pois o TSE confirmou a constitucionalidade da lei e as liminares podem cair.

Dou os dois exemplos, pois vez por outra, ouço comentários do tipo “o Brasil não tem jeito”. O que costumo responder é que, mesmo que seja vagarosamente, avança-se em várias áreas – e não estou falando de um governo ou de outro – mas da consciência cada vez mais clara de que o Brasil não pertence aos políticos – e sim aos brasileiros.