Meu artigo publico na edição de hoje (14/7/2011) do O POVO.

"A mente", de Hélio Rôla (clique para ampliar)

A ética na sarjeta
Plínio Bortolotti

A última edição do News of the World circulou no domingo. A decisão de fechar o jornal foi de seu dono, o bilionário australiano Rupert Murdoch, controlador do conglomerado de mídia News Corp.

O fim do tablóide (na Grã-Bretanha sinônimo de jornal sensacionalista), que vendia 2,8 milhões de exemplares por semana, começou em 2006, quando se descobriu que o World grampeava telefones e subornava policiais, com o objetivo de dar notícias “exclusivas”, e sabe-se lá mais o quê. E o negócio era feito no atacado. O tabloide monitorou cerca de quatro mil telefones, entre eles, de integrantes da família real, de celebridades, de parentes de vítimas do ataque terrorista de 2005, e de uma adolescente desaparecida – o que chegou a atrapalhar investigações policiais –, depois encontrada morta.

O acontecido é um violento golpe na ética e na credibilidade dos jornais em um momento em que há uma luta de morte, principalmente nos países do Norte, pela sobrevivência da mídia impressa. Com o fechamento do tabloide – aparentemente uma medida profilática – o que Murdoch pretende é enterrar seus erros junto com o jornal.

Isso nos traz ao Brasil, com a proposta da Associação Nacional dos Jornais (ANJ) em criar um programa de autorregulação. Aparentemente, uma boa medida. Ocorre que o programa da ANJ limita-se a levantar experiências em curso em alguns jornais – ombudsman, conselho de leitores – recomendando a sua adoção. Ora, o jornal que quis fazer isso – como O POVO – já o fez.

E, mesmo que se adotassem essas importantes medidas, ainda seriam insuficientes, pois tais mecanismos não têm o poder de mandar fazer. Uma boa medida que a ANJ poderia patrocinar, seria uma comissão com independência para analisar as queixas sobre os jornais, atendendo, principalmente, o direito de resposta.

Ação que a ANJ vem desenvolvendo vai dar argumentos àqueles que advogam o “controle” externo dos jornais, medida que fragiliza a imprensa e, por consequência, a própria democracia.