Vi Andrew Jennings no recente congresso da Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo): mordaz, irônico, rápido no raciocínio – nem a idade retirou o fogo dos olhos e o entusiasmo do velho repórter britânico. Ele se classifica como o sujeito que persegue os “caras maus”. E o fez durante a sua vida de jornalista.

Censura

Depois de sua palestra, a primeira pergunta que lhe fizeram foi se ele sofria censura nas empresas jornalísticas para as quais trabalhava. Ele rebarbou a pergunta, dizendo mais ou menos o seguinte: ofereça para quem quiser publicar, mas não desista de seu trabalho.

Vestiários

Comprei o livro dele Jogo sujo: o mundo secreto da Fifa, no qual ele expõe o que se passa no, digamos assim, vestiário da entidade. O quadro que se desdobra não é nada bonito: intriga, corrupção, malas de dinheiro, o exercício do poder em proveito pessoal e outras coisinhas mais – que acontecem em muitas das grandes organizações, principalmente aquelas que não são submetidas a nenhum controle.

Fifa

A Fifa, todo mundo sabe, é aquela entidade que manda e desmanda no futebol mundial e tem sede na Suíça. A sigla é pelo seu nome em francês: Fédération Internationale de Football Association, ou seja a federação internacional de futebol.

CBF

Para quem leu o livro, as recentes declarações de Ricardo Teixeira, presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), estas podem ser consideradas algo como um anexo do livro, exemplificando vivamente o modo de agir daqueles que mandam no futebol mundial. A propósito, Ricardo Teixeira e seu ex-sogro e ex-presidente da Fifa, João Havelange, são bastante citados no livro – e de uma maneira pouco lisonjeira.

Corrupção

Lendo “Jogo sujo” me ocorreu que muito se fala (e se deve continuar falando) em corrupção na área política, mas pouco se fala da corrupção nas grandes corporações, sejam elas empresas, associações ou outras instituições.  Muitos podem dizer: mas nas empresas não está envolvido dinheiro público. Sim e não.

O dinheiro, propriamente dito, pode ser que não, apesar de muitas vezes também haver dinheiro público, por via de empréstimos, repasses, etc., de bancos públicos e governos. Mas, de qualquer modo, o trabalho das grande corporações (bancos, supermercados, etc.) e associações (como a CBF e a Fifa), por exemplo, envolvem o interesse público. Por isso, elas também têm obrigação de ser transparentes.

Agência reguladoras

Isso nos leva a outra questão que esteve em pauta recentemente: as agências controladores. Com a farra das privatizações, prometeram-nos que agências reguladores defenderiam os interesses dos consumidores, controlando a qualidade dos serviçoes e estabelecendo regras para o setores, em que empresas privadas ofereceriam serviços públicos.

Mas o que estamos vendo é que algumas agências, como a Anac (aviação civil), Anatel (telecomunicações), Aneel (energia elétrica), etc. (no total são 10 agências), estão agindo mais de acordo com os interesses das grandes corporações do que em defesa dos consumidores.

Assim não fosse, haveria menos esculhambação nos aeroportos, haveria mais fiscalização sobre as empresas aéreas, as empresas de telefonia seriam chamadas às falas, pelo péssimo atendimento que dão aos clientes; e as empresas de energia elétrica já teria devolvido o que cobraram indevidamente dos consumidores.

Cade

Algo parecido se pode dizer do Cade (Conselho Administrativo de Desenvolvimento Econômico), que tem entre suas competências a de evitar a formação de oligopólios empresarias, que possam impedir a livre concorrência e, logo, prejudicar o consumidor.

Mas, ao que eu saiba, o Cade nunca impediu fusões, algumas dando  uma fatia quase monopolista do mercado, como foi o caso da Brahma e Antártica (Ambev) e, mais, recentemente, a fusão da Sadia e da Perdigão que terá, em algumas regiões, 70% do mercado.

E se a fusão do Pão de Açúcar com o Carrefour não tivesse feito água, pela recusa do Casino (sócio do Pão de Açúcar) e pela reação da sociedade, podem apostar que o Cade a aprovaria.

A propósito

Um assunto puxou outro, mas volto ao livro. Um pequeno senão é o título brasileiro, que optou por um chavão do meio esportivo “Jogo sujo”. O título original é “Falta” (com o mesmo subtítulo). Uma versão mais adequada para o Brasil talvez fosse “Penalti”.

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