Meu artigo publicado na edição de hoje (21/7/2011) do O POVO.

Murdoch e Harry Poter
Plínio Bortolotti

Um dos mais poderosos homens de comunicação do mundo, Rupert Murdoch, fez seu mea culpa no depoimento que deu ao Parlamento britânico esta semana. Escapou de uma torta na cara, disse que vivia um de seus dias mais “humilhantes”, segundo algumas traduções ou que nunca se sentira tão “humilhado” (há sutil diferença), em outras; pediu desculpas várias vezes, esforçando-se por se mostrar arrependido.

Afirmou desconhecer que o News of the World fazia escutas ilegais (de milhares de telefones), que o jornal contratava detetives de má catadura, que subornavam policiais. Quem acreditar que o esperto Murdoch foi enganado por “funcionários desleais”, estará também apto a crer nos poderes mágicos do bruxinho Harry Potter, que vive na mesma terra onde seu tabloide era publicado.

Os tentáculos de Murdoch abarcavam tanto a polícia britânica, quanto políticos, por isso não iam para frente as investigações sobre os métodos criminosos que eram usados para colher informações, algumas publicadas; outras usadas para outros fins menos públicos.

Uma das boas coisas do caso foi mostrar que a política ainda não está completamente submetida às grandes corporações. A reação pública na Grã-Bretanha fez com que os políticos agissem rapidamente – e a poderosa corporação, que muitos deles temiam, foi obrigada a curvar-se à sociedade.

Outro ponto que fica em evidência é a necessidade da regulação dos meios de comunicação – principalmente para garantir a sua diversidade e para estabelecer critérios democráticos de concessões de rádio e TV. Obviamente os mais afoitos – à direita e à esquerda – aproveitam para vir com o seu discurso de “controle” da mídia, isto é, censura.

O que os adeptos do “controle” se esquecem é que, se houvesse censura, talvez o caso Murdoch nunca viesse à lume, pois foi um jornal, The Guardian, que investigou por longo tempo o assunto e expôs os métodos gangsterísticos usados pelo News of the World.